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A natureza ilustrada e solar da designer Naia Ceschin

Por
Fabiana Corrêa
Em
24 outubro, 2018

Coloridas e geométricas, suas representações gráficas da natureza colorem desde sapatos nas vitrines do shopping a sacolas de supermercado .

Naia Ceschin, 31, é uma operária das artes. Todos os dias, acorda às 7h30, faz yoga ou algum esporte, veste uma roupa confortável e vai para seu ateliê, em um predinho antigo no bairro de Pinheiros, em São Paulo. “Passo oito horas por dia aqui. Mesmo quando não tenho trabalho de cliente pra entregar, venho e passo em média oito horas pesquisando, pensando em produtos novos, testando algo diferente.”

Virginiana com ascendente em capricórnio não poderia dar em outra coisa. “O signo ajuda”, diz. Até mesmo quando a mãe liga para bater papo no meio da tarde ela pede pra falarem ao fim do “expediente”. “Eu levo a sério o horário comercial”, brinca. Foi essa disciplina que ajudou Naia a conquistar clientes e um lugar ao sol. Hoje, a designer, ilustradora e artista plástica tem clientes importantes no mercado de moda, como a marca de sapatos e acessórios Arezzo, para quem desenhou a estampa de uma linha de acessórios, e Havaianas, que quis suas pinturas em chinelos que foram vendidos em Portugal e outros países da Europa.

Nos últimos cinco anos, Naia ilustrou sacolas de compras para os supermercados Extra, mules para a marca de acessórios Cabana Crafts, da amiga Manuela Rodrigues, criou desenhos para bordados nas camisetas da marca de roupas Lado Basic, uma lata para a marca de papel higiênico Neve, sacolas para a loja de artesanato solidário Artiz e embalagens para Monama, que produz alimentos saudáveis. “Adoro essa possibilidade de multiplicar. Se eu ficasse só com meu trabalho autoral, como veria minhas pinturas em uma sacola que alguém carrega no meio da rua?”

O sucesso é um incentivo para que mantenha a disciplina, seja para seu trabalho autoral – que pode ser feito sobre tela, folhas de coqueiro, cabaças -, ou para as encomendas, como os quadros que pinta para clientes que visitam seu ateliê ou as peças vendidas nas lojas de decoração Dpot ou Boobam. “Essas folhas eu recolho quando vou correr no parque, outras eu ganhei”, diz, sobre as peças que viraram parte da decoração do restaurante de comida praiana Dalmo, com projeto de arquitetura do escritório de seu marido, Bruno Meireles. Ou que foram parar em vitrines de lojas e na casa de clientes.

No momento, Naia está misturando não só cores, mas materiais. Seus trabalhos mais recentes, pendurados na parede do ateliê, são painéis em tecido com interferências de bordados e ganharam uma ajudazinha da avó, super entendida no assunto. “Minha avó fez todos os tapetes da casa dela e eu sempre peço uma dica. Estou curtindo usar um material novo, como as contas e as linhas”, diz. Ali estão as figuras geométricas coloridíssimas, características de seu trabalho atual. “Minhas ilustrações têm muito de design e são bem geométricas porque eu comecei no computador – fiz um caminho inverso. Depois é que fui para os pincéis.”

O gosto pela arte demorou um pouco para aparecer. “Eu não era uma criança artística, estava mais pra esportista”, diz Naia. Dos 10 anos aos 20 anos, ela praticou volteio, uma modalidade do hipismo em que o esportista faz posturas semelhantes às da ginástica olímpica sobre o animal. “Por conta do esporte eu passava muito tempo em lugares em meio à natureza. E essa proximidade, seja com o esporte ou com as viagens, tem influência sobre minhas pinturas.”

Entre uma competição e outra, Naia matava tempo folheando revistas de moda e decoração e recortando as imagens mais coloridas que encontrava. “Eu montava colagens e preenchia pastas e pastas com aquilo. Quando chegou a hora de prestar vestibular, olhei aquilo e pensei: quero fazer isso.”

naia ceschin artista plastica arezzo
naia ceschin artista plastica havaianas extra

Durante a faculdade de design ganhou um concurso para expor um trabalho nas lojas da Havaianas e acabou sendo contratada para a área de criação da empresa. “Era o que eu amava fazer, mas depois de um tempo por lá senti vontade de abrir o leque”, diz. Foi aí que seu trabalho saiu das telas do computador para as telas de algodão. “Eu pintei um quadro de presente para o meu namorado, postei no Instagram e logo recebi uma encomenda.”

A partir desse momento, foram se multiplicando os trabalhos e as superfícies, mas sempre com desenhos e pinturas muito inspirados na natureza, nos pássaros, nas árvores, nos olhos de animais que ela observa. “Estou o tempo todo tirando fotos de folhas, de plantas, de paisagens, de gente interagindo com elas. Desde a infância na Ilhabela [litoral norte de São Paulo] até as viagens de surfe que faço junto com meu marido, tudo o que vejo entra para meu repertório.”

Naia Cechin
Fotos: JP Faria
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