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Chloé Calmon: uma entrevista com a maior promessa do longboard nacional

Por
Eloa Orazem
Em
22 maio, 2017
Em parceria com

Nenhum homem é uma ilha, mas Chloé Calmon vive há anos cercada de água e de amor por todos os lados: longboarder profissional desde os 14 anos, a carioca converge nas ondas a herança dos pais – da mãe o apreço pelo balé; do pai o gosto pelas pranchas. Sempre dada às grandes emoções, ela aprendeu cedo a perder o medo de altura, de modo que gosta de estar sempre no topo – do pódio e da vida. Atual líder do campeonato mundial de longboard da Liga Mundial de Surf (WSL, na sigla em inglês), a atleta de 22 anos que fez história ao trazer para casa o vice-campeonato mundial em 2016, pode conquistar o título inédito em novembro, na ilha de Taiwan, na Ásia. Fazendo da prancha o seu melhor palco de ensaios e glórias, Chloé tem treinado novas manobras e macetes, entre eles o de desfazer na espuma do mar as pressas e pressões do ineditismo desta vitória: ouro nenhum reluz mais forte que o seu amor pelo esporte.

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Você nasceu no Rio e é filha de pai surfista. Não tinha como ser muito diferente esse amor pelo mar, né?

Tenho fotos minhas ainda de quando usava fraldas e já em cima de um longboard. Meu pai me levava à praia desde que eu era bebê. Não sei ao certo a data, mas desde pequena eu já me sentia profundamente conectada com o surf. Comecei a nadar com 2 anos e isso me ajudou a estreitar o relacionamento com o mar e com o esporte. Quando eu entrava para surfar, mesmo sendo nova, eu sempre me sentia muito à vontade na água. Com 11 anos essa relação começou a ficar mais séria – foi quando ganhei a minha primeira prancha, uma funboard. Logo no ano seguinte, aos 12, peguei o longboard do meu pai, que era o dobro do tamanho da prancha que eu usava na época, e me apaixonei logo na primeira onda. Nunca mais larguei.

Você tem uma irmã mais nova que sempre te acompanhava nas ondas. Como é a relação de vocês hoje?

Somos muito diferentes. Começamos a surfar juntas, da mesma maneira, mas teve um dia que foi bem marcante: eu devia ter uns 8 anos e ela 6. Meu pai nos colocou em sua prancha para que nós três pegássemos uma onda juntos. Na primeira deu tudo certo, ficou todo mundo feliz; na segunda, a prancha entrou na água e foi todo mundo para cima da minha irmã, que era a menor e estava na frente. A gente levou um caldo e meu pai levantou assustado tentando resgatar as duas. Levantei com um sorriso de orelha a orelha e disse: “de novo!”. Já a minha irmã falou: “ nunca mais quero entrar no mar’’. E foi o que aconteceu. O caminho dela no surf foi muito curto, ela sempre foi mais ligada à arte, ao desenho e à fotografia. Nós duas seguimos caminhos diferentes, mas uma sempre apoia a outra.

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Sua competitividade te machuca às vezes?

Fui e ainda sou daquelas que alonga o dedo no par ou ímpar, sempre levando tudo muito a sério. Mas, do ano passado para cá, tive um grande aprendizado na forma de como eu encaro a competição. Em 2016 passei o ano inteiro treinando de segunda a domingo, me preparando, abrindo mão de várias coisas, e terminei o campeonato mundial como vice. Isso para mim foi uma frustração enorme, porque eu só pensava no primeiro lugar e qualquer coisa que não fosse isso não estaria bom. Esse mundial foi o melhor resultado da minha carreira, o melhor resultado de uma brasileira no circuito – não tinha motivos para eu ficar triste com isso, e acabou que, para mim, foi muito ruim a forma como eu encarei as coisas. Então eu decidi que neste ano o meu objetivo é ser campeã mundial, mas também deixar um pouco a competitividade de lado e aproveitar para me divertir. Surfo, em primeiro lugar, porque amo. Não posso esquecer nunca disso.

Você se incomoda com aquelas pessoas que só procuram o surf porque “fica bonito no Instagram”?

Isso não se limita ao surf. Nas redes sociais todo mundo está preocupado em mostrar o quanto está bem – e aí vale de tudo, desde colocar uma prancha debaixo do braço até fazer uma pose de ioga na praia. Curioso é que não vejo isso como uma forma ruim, pelo contrário: vejo pessoas que não têm uma ligação com o surf, mas se interessam, mesmo que seja para postar uma foto, comprar uma camiseta, se dizer surfista mesmo morando a centenas de quilômetros do litoral… O fato é que todas estas pessoas estão fazendo o surf crescer. E, para mim, qualquer motivo que faça a pessoa se aproximar do surf é bom, porque deixa a modalidade maior.

Você é mestre no estilo clássico, sempre teve esse flerte com tudo que é vintage, com tudo que é do passado. Isso vai além do surf?

Esse interesse clássico pelo o longboard não é só o jeito que você surfa, mas tem a ver com a história so esporte. O longboard explodiu aos olhos do mundo nas décadas de 40 e 50, na Califórnia. Os homens usavam as bermudas curtinhas, ternos certinhos e cabelos bem arrumados, o que hoje é vintage. As mulheres usavam hot pants, maiôs, um corte de cabelo mais retrô. Acaba que eu tenho interesse por tudo isso, pelos carros antigos, biquínis, músicas… Sou fã do pacote inteiro! Até para você entender as raízes clássicas é legal visualizar a cena de como isso apareceu, com quem isso aconteceu. Então, sim, eu acabei criando um interesse por tudo que é vintage, tudo que é ligado aos anos 1950 e 1960, que foi quando explodiu o longboard. Até hoje eu digo que nasci na época errada.

Se você tivesse de recomendar um lugar para quem não é profissional e que quer tirar umas férias para surfar, que lugar você recomendaria?

Califórnia, um lugar onde as ondas são incríveis e é convidativo a qualquer um. Se a pessoa nunca surfou e for para a Califórnia, ela consegue surfar – o único problema é a água fria. O lugar ideal seria Southern Califórnia, essa região tem várias opções de onda e também tem muita coisa para fazer fora d’água: tem museu de surf, exposição de pranchas antiga, carros antigo, a cultura de surf na Califórnia muito forte.

Além do surf, o que você faz quando viaja?

Eu gosto muito de andar pelas ruas, de preferência a pé. Simplesmente sair andando. Experimento sempre a comida local, porque eu adoro comer e é uma forma que eu encontro de conhecer mais o lugar. Tento conhecer algum morador local e descobrir o que eles fazem e comem por lá, porque essas dicas valem a experiência, ainda que nem sempre as comidas sejam saborosas (risos).

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O que você já comeu que era muito estranho mas depois acabou gostando?

Na China, teve uma vez que o secretário de esporte me ofereceu um prato de camarão – e olha que eu adoro camarão! Só que eram camarões vivos, no no espeto. Ele estava de paletó e arregaçou as mangas, quebrou a cabeça do camarão e comeu. Eu o imitei. Era horrível, não tinha gosto de camarão, tinha gosto de água salgada. Também na China vi as comidas mais coloridas da minha vida. Teve uma sopa roxa super forte e tinha umas sementes de feijão e umas gelatinas dentro, uma coisa que até hoje eu não sei se é doce ou salgada. Na hora você fica meio que pensando que é uma coisa de outro planeta, mas apesar de ser diferente e bem exótico, eu gostei.

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Embora conhecido, Chloé não é um nome comum no Brasil. Qual a história por trás do seu nome?

Minha mãe morou na França por um tempo, e ela sempre gostou muito da cultura local. Na época que ela ficou grávida, tinha um balé francês que ela gostava muito, que chamava “Daphnis et Chloé”, de Ravel. Ela decidiu que, quando tivesse uma filha, daria a ela o nome de Chloé, que também tem uma ligação com a mitologia grega, já que é a variação do nome de uma das dez deusas gregas. Mas como é um nome incomum, quando eu vou pedir comida ou alguma coisa, eu falo o nome da minha irmã, que é Clara e é mais fácil. Mas eu gosto do meu nome justamente porque é diferente.

O nome passou, então, de uma bailarina para outra?

Ninguém poderia imaginar, mas acho que sim: de certa forma, o longboard é o balé dos mares. Talvez de um modo inusitado, o nome segue a tradição de sua origem.

Para terminar, Chloé, qual é a vibe perfeita do verão pra você?

Um dia numa praia tranquila, com meus amigos e minha família, pegando altas ondas. Depois ficar na areia, na sombra, curtindo um livro e uma comidinha gostosa: o importante é passar o dia na praia.


Aperol Spritz

O mundo evoluiu. O sofisticado está nas coisas simples. O bom gosto não tem preço. Não é mais sobre ter, é sobre descomplicar. É sobre dividir, compartilhar.
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