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Sailing Band: um projeto que deu errado de uma banda que não deu certo

Por
Rafael Andery
Em
10 janeiro, 2018

O roteirista Denis Nielsen, mais conhecido pelo seu trabalho na primeira série brasileira produzida pela Netflix, “3%”, sempre adorou documentários de bandas. “Sou um puta fã. Assisto até sobre bandas que eu não gosto”, conta. “Sempre tive muita curiosidade sobre esse tipo de bastidor”.

Quando reencontrou Bruno Mestriner, um antigo colega de escola, descobriu que o garoto havia se tornado baixista de uma banda internacional. Ou quase isso. A Sound Citizens não atraía multidões pelo mundo e nunca havia gravado um disco. Seus músicos, entretanto, vinham de várias partes do globo. O grupo encontrava-se no Caribe aos verões para tocar em bares e casas de shows. Havia ingleses, barbadenses, antilhanos e, claro, brasileiros. Havia também, para Denis, uma história a ser contada. Que encontrou no documentário “Sailing Band”, que estreia em São Paulo nesta quinta-feira (11), sua forma final.

Acostumado a escrever roteiros, ele vislumbrava ali a oportunidade para um reality show. O plano da Sound Citizens para o verão de 2014/2015 era alugar um barco e velejar pelo Caribe, parando de ilha em ilha para fazer um som. O plano de Denis era registrar tudo e tentar emplacar o projeto em alguma produtora.

“Nunca fui documentarista. Aliás, não sou documentarista. Fui para registrar algumas imagens de pesquisa e tentar vender o piloto depois. Eu, minha câmera e meu microfone. Sem equipe alguma”, lembra. Marinheiro de primeira viagem nesse mundo, a ideia era entrar de gaiato no navio da banda e filmar o dia a dia do grupo pelas belas praias do Caribe. Groove, areia branca e mar azul.

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Faltou combinar com a banda. “A ‘sede’ dos caras era na ilha de Antígua, perto do porto principal, uma região mais suja e menos paradisíaca do Caribe”, conta. E isso era o de menos.

Os dias passavam e nada da banda zarpar para outras bandas. O projeto naufragava a olhos vistos. Não havia barco para velejar, não havia piloto para gravar. “A razão pela qual a ideia da turnê caribenha não rolou foram eles mesmos”, conta o diretor. “Os caras eram muito confusos, cada um queria fazer uma coisa”.

Denis passou dois meses estacionado em Antígua com a Sound Citizens. “Com o tempo eles se sentiram bastante à vontade comigo. E também começaram as tretas, o que é sempre legal de se registrar na câmera”.

Apesar disso, a ideia da série estava totalmente descartada. “Voltei com um material absurdo. Muita coisa era lixo”. A viagem havia sido um fracasso. Na verdade, a viagem nem sequer havia acontecido.

Pelo menos não aquela para qual Denis havia se preparado. A série podia ter morrido. Mas havia ali algo mais. Nascia um documentário. “Eu notei depois que não importava para aqueles caras se eles estavam vivendo uma ‘experiência do Caribe’, mas sim que eles criaram ali uma espécie de ‘Terra do Nunca’ onde era sempre verão. Mais do que músicos ou marinheiros, esses caras são um bando de Peter Pans que não querem deixar esse sonho de um verão sem fim morrer”, diz Denis. “Foi isso que eu tentei mostrar no filme”.

No ano passado, o baterista da Sound Citizens, Igor Mestriner finalmente comprou um barco e saiu para velejar. A banda, contudo, já não existia mais.

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