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Gotland: o paraíso nem sempre é tropical

Por
Hermés Galvão
Em
10 agosto, 2015

É, o paraíso nem sempre é tropical. Antes de achar inusitado, pense como surpreendente a ideia de se despertar para o verão na Suécia. Terra à vista, Gotland! A maior ilha do Báltico não tem mar caribenho nem temperatura cearense, tampouco o clima de Côte d’Azur. Mas justamente por ser anticlichê que a cena ganha pontos no score do veranista laidback, cansado do see and be seen de Capri, Sardenha e Saint-Tropez.

Destino de veraneio da família real sueca e da turma cool de Estocolmo e Malmö, Gotland esconde segredos que seus nativos e habitués não fazem lá muita questão de contar, não. Logo à primeira vista (aliás que vista!) entende-se por que todos fazem questão de não criar grandes alardes a seu respeito: para manter suas aldeias e ruas, praças e portos intactos desde os tempos dos vikings, é preciso evitar as invasões bárbaras – e tem dado certo mesmo em agosto, quando a pacata rotina da ilha pega fogo e as praias, antes desertas, ganham ares mediterrâneos com festas até o anoitecer. E como anoitece tarde…

Foto: Elisabeth Eden/imagebank.sweden.se

É seguro dizer que não existe melhor época para estar na Suécia, quando o sol dá o ar de sua graça e, contente da vida, brilha até a meia-noite – até porque quando se recolhe tudo volta ao mais profundo cinza-chumbo. Mas a tonalidade agora é outra: por todos os lados, uma profusão de amarelos, vermelhos, verdes e azuis, no ar, no bar e onde mais você quiser. Ah, temos também os tons loiros: médios, intensos, bleach blonde… tem de tudo, e tudo é lindo. Ponto pacífico: não tem povo mais bonito no mundo do que o sueco. E animado, a essa altura do campeonato, lotando clubs, restaurantes, deques, navegando em barcos de tamanhos exatos.

#gotland

A paisagem é quase selvagem e a natureza, tímida – um descanso para os olhos e para os ânimos. Mas o povo tratou de redesenhar o landscape sem interferir no traçado original: no horizonte, pequenas casas espalhadas pelas praias com formações calcárias que lembram, com um pouco de esforço e licença poética, os moais da Ilha da Páscoa, de areias brancas e águas de um azul quase tirreno, simples como um criado-mudo da Ikea e coloridas como objetos de design; jardins com orquídeas e rosas desenham caminhos que levam a praças e antigas fortalezas vikings.

Visby, a principal cidade (na verdade um vilarejo de 20 mil habitantes) parece montada com Lego; um paraíso gastronômico para fãs da cozinha nórdica – pense em frutos do mar (os lagostins da ilha Faro são os melhores!) combinados com tubérculos e ingredientes insólitos, como cascas de árvore, seiva de bétulas e boi da Groenlândia. Por ali, pescam e caçam apenas o que vão comer, protegem a terra contra a invasão de possíveis viajantes fora de sintonia com o lugar e fazem questão de manter a ‘casa’ sempre arrumada: entre e saia sem fazer barulho. E por lá nada de ostentar – minimal is magical. Desde sempre, desde os tempos do guerreiro Erik, o vermelho.

É uma proposta, paraíso a ser descoberto para quem entender o fundamento.

Tudo em paz, nada de pose.

Kör, vampis, kör!

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