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A moda da Singapura: quando o nonsense faz todo sentido

Por
Fernanda Nascimento
Em
14 dezembro, 2017

Nada na Singapura é convencional. A começar pelo site da marca, que tem um quê dos tempos de Geocities, com GIFs animados de rosas brilhando em um fundo branco. Lá estão à venda as camisetas e bonés criados pelo paulista Lucas Verissimo, 26. As mensagens estampadas nos produtos, como ‘respect your mom’, ‘in dog years I’m dead’ ou ‘don’t do drugs, do your friends’ surgem das coisas que ele vive e vê por aí.

A primeira fornada de produção profissional, depois de um tempo fazendo camisetas para os amigos, foi inspirada em placas de trânsito que ele viu em uma viagem pelos EUA. “Tem muita verdade em tudo que eu faço”, diz. “Sempre andei de skate, surfei e fiz música, então dialogo um pouco com esses universos, que são ricos na subcultura”. Ele, inclusive, já participou de dois clipes do Thiago Pethit, “Moon” e “Romeo”.

As frases são só um dos elementos das camisetas e dos bonés da Singapura. Para Lucas, são as fontes escolhidas que fazem a mensagem. “Tipografia é uma coisa maravilhosa porque cada uma tem uma personalidade e aquilo materializa o som”, explica. “LOVE escrito em Helvetica é diferente do que te comunica LOVE escrito em Brush Script”. Brush Script, além do logo da marca, é a tipologia preferida de Lucas porque “não tem credibilidade e é bem zuada” de tanto que foi usada em propagandas.

Lucas começou a inventar moda por necessidade. Natural de São Sebastião, litoral de São Paulo, ele não conseguia encontrar na sua cidade as coisas que queria usar. “Eu pirava na internet, ficava pesquisando e chegava em referências que eu não encontrava lá”, diz. “A limitação de São Sebastião me ajudou a criar soluções. Se eu queria um tênis Authentic Vans, comprava um Conga e reinventava à minha maneira”. A fissura de Lucas pela internet é tamanha que ele fez até um boné só com essa palavra (e, claro, foi um sucesso de vendas). Suas principais referências são sites chineses cheios de GIFs, com muita informação visual e cujo propósito não é uma navegação simples e clean, mas sim questionar toda essa lógica.

A Singapura saiu do universo online para se transformar numa pop-up store instalada na galeria Epicentro, nos Jardins, em São Paulo, durante uma semana. A ideia foi traduzir como seria a casa da marca, meio fofa, meio tosca. O chão foi revestido de carpete rosa, com iluminação da mesma cor e pôsteres do Leonardo DiCaprio nos anos 90 espalhados pelas paredes. “Para fazer esse contraste de fofo e punk chamei os caras mais zicas da trap music para cantar no lançamento da loja”, conta Lucas. “Então tinham uns caras da periferia, com tatuagem na cara, fazendo um show numa loja tipo da Barbie, toda rosa”.

Toda essa irreverência é o que define Lucas, que é um pouco de seus produtos – e vice-versa. Sua última coleção, lançada este ano, já se esgotou três vezes na Void do Largo da Batata, o único ponto de vendas fixo da marca. O talento de Lucas chamou tanta atenção que ele foi convidado para trabalhar no desenvolvimento de produtos da própria Void. Mas Lucas garante que não vai parar de criar os produtos da Singapura. “Vou ser mais arrojado para compensar”, garante. “Pode ser que eu lance uma única peça por semestre, mas vai ser bem louca”.

Crédito de foto: Gabriel Braga

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