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Os sabores e as histórias da fotógrafa Nani Rodrigues

Por
Fernanda Nascimento
Em
6 agosto, 2018

Ela viaja para comer, cozinha para fotografar, fotografa para registrar os sabores que encontra pelo caminho. A mineira Nani Rodrigues ora está com a câmera apontada para os peixes do Mercado Municipal de uma cidadezinha em Portugal, ora borrifando água em um peru de Natal para deixá-lo mais suculento nas páginas de uma revista, ora gastando sua botina pela Chapada dos Veadeiros para registrar as manchas de óleo na panela da dona Mineuci, que planta tudo o que come num quilombo próximo à Cavalcante. Mas uma coisa todas as fotografias de Nani têm em comum: elas contam uma história, que começa (ou termina) num prato de comida. “Não tem como a foto ser só pela beleza. Ela tem que te dizer alguma coisa”, diz. “Quando você escolhe o que vai estar numa foto está contando a história da comida, do lugar, da sensação”.

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A primeira vez que Nani registrou uma receita também foi sua estreia no fogão. Era dia da abertura da Copa do Mundo de 2014 e ela resolveu preparar um bolo de fubá. Tirou o bolo do forno, acomodou em uma travessa azul, cortou alguns pedaços de figo para enfeitar e clicou seu primeiro feito culinário para mandar para os pais. Desde que se mudara para São Paulo, quatro anos antes, tinha deixado sua câmera fotográfica de lado para se dedicar a trabalhos de vídeo. “Minha reconexão com a foto foi na comida. Comecei a passar o fim de semana todo na cozinha e postar o que preparava no Instagram. Como sempre me pediam as receitas, fiz um blog para compartilhar o que estava fazendo”, conta. “Aí comprei utensílios, louças, fundos de madeiras e me inscrevi em oito concursos de fotos de comida no Instagram”. Ganhou todos e levou para casa uma coleção de livros de receita, um fogão, uma viagem e a desconfiança de que talvez tivesse se tornado tão boa cozinheira quanto fotógrafa de comida (ou vice-versa).

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Foi só uma questão de tempo até que descobrissem as imagens que postava no blog e no Instagram – e daí surgiram os convites para levar a câmera à cozinha profissionalmente. Nas produções para revistas, restaurantes e marcas, em suas viagens ou nas experiências que continua fazendo em sua própria cozinha acabou descobrindo não só sua maneira de contar história, mas também sua própria história. E tem um tanto de sua mãe, que não tinha geladeira na infância na roça, em sua paixão pelos processos mais demorados: salgas, curas, conservas e fermentações – o fermento natural que usa em seus pães, o fermento Maria, demorou um ano para ficar do jeito que ela queria. Também tem um tanto da história de sua avó, na roça, recheando linguiça sentada no chão da casa, na paixão por conhecer os sabores e os significados da cozinha das pessoas. “O que eu mais gosto é quando alguém abre as portas de casa para te preparar uma comida. Se servir direto da panela no fogão à lenha, comer com o cachorro da casa sentado no pé…”.

Algumas milhares de fotografias depois, Nani entendeu que tinha algo para dividir da sua experiência. Ainda com um tanto de receio e de modéstia, aceitou o convite de uma amiga para organizar um workshop sobre fotografia de comida, no ano passado. O curso fez tanto sucesso que foi só o primeiro de muitos. “Quero desmistificar e treinar o olhar das pessoas. Passo truques, sim, mas é mais que isso. Quero mostrar que você não precisa de mil luzes, mil pratos, mil fundos. É uma coisa sensorial, criativa, porque pra mim foi assim”, diz. Pelo Instagram, ela recebe pedidos para levar seu workshop para todo o canto do Brasil, de Manaus à Belém do Pará. E não vai parar até chegar em todos esses lugares: “Eu quero que as pessoas pensem no que elas estão comendo e que se sintam inspiradas a encontrar na comida o que eu encontrei. Acho que isso está dentro de todo mundo”.

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