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Notas sobre uma escolha: os caminhos verdes de Manu Franco

Por
Mariana Caldas
Em
12 junho, 2015

O Notas sobre uma escolha é um dos lugares mais acolhedores que existem na internet. É feito um refúgio, um jardim secreto dos mais lindos, que você pode se aconchegar em qualquer momento da vida, e voltar a respirar renovado, depois de um mergulho nas palavras doces de Manu Melo Franco, que além de ser uma mulher inspiradora, também é fotógrafa e escreve deliciosamente.

No fim de 2013 ela e o seu amor e companheiro, Hugo, decidiram deixar Minas Gerais em busca de uma vida o mais verde possível na Chapada Diamantina. Eles queriam uma infância mais bonita, livre e sustentável para os filhos, Tomé e Nina, e também ter a liberdade de poder viver com simplicidade, em absoluta harmonia com a natureza.

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De lá pra cá foram infinitos os aprendizados e as transformações. Um ano depois da mudança, o terreno em que moravam na Chapada acabou sendo vendido de repente e eles se viram, mais uma vez, com as portas abertas para uma nova aventura.

Passaram um tempo em Minas e depois de viver mais uma vez as raízes, seguiram para um Ecocentro, perto de Pirenópolis, em Goiás, dispostos a descobrir os universos do viver em coletividade.

Conversamos com Manu sobre as flores do seu caminho verde e foi emocionante descobrir um pouco mais sobre os profundos processos que ela viveu nos últimos anos.

Qual foi a maior e mais profunda motivação da sua mudança pra Chapada Diamantina?
Foram muitas, muitas mesmo. Mas creio que a maior de todas foi a busca por uma infância mais bonita, livre e sustentável para Tomé e Nina. Eu e Hugo, meu companheiro/amor, acreditamos que nossos filhos precisam de espaço para desenvolver suas potências enquanto seres nesse mundo. A cidade grande não permite essa liberdade, são tantos condicionamentos e amarras sociais que a essência permanece empoeirada lá no fundo. Então optamos por uma vida com conceitos e valores baseados na simplicidade, na força da terra, nos cuidados com a natureza, na consciência da transformação de um mundo bem melhor que este.

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O que de mais precioso você aprendeu neste tempo que passou por lá?
Acho que a ideia de coletividade. Talvez este seja o caminho para uma grande transformação, a união das pessoas, das ideias, dos ideais. A força dos grupos, das trocas, de várias mãos dadas. Sentimos isso na Chapada de forma muito forte. Não se pode construir nada sólido e duradouro com duas únicas mãos; não se dá conta de ser uma ilha, tudo em conjunto é mais forte, ninguém é livre sozinho. O caminho, ao menos esse que escolhemos trilhar de forma verde e mais consciente, é a coletividade, a comunidade, o outro, o nós. As pessoas estão muito presas no singular, a vida rotineira das grandes cidades impõe isso a todo momento. A natureza oferece o oposto, nenhuma planta cresce e completa seu ciclo sem a ajuda de um bom solo + o sol + a água.

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Qual a memória mais arrebatadora?
O nascimento da Nina. Um pequeno hospital público sem água há dias, uma mulher recém parida de um bebê morto, a outra sofrendo uma hemorragia perigosa. Nina dormia profundamente desde a hora que nascera, meu corpo pronto para limpar uma casa inteira e nós duas ajudando aquelas mulheres enquanto esperávamos a hora de ir pra casa. Foi tão forte, tão bonito receber a vida da Nina colaborando com duas pessoas que não tiveram a mesma sorte que a gente. Na volta pra casa, apertada na cabine de uma saveiro com Tomé, Hugo e Nina no colo, olhei pela janela e vi o sol da manhã enfeitando de alaranjado o mar de morros da paisagem. Nunca me esqueço do amor que senti ali, com certeza ele chegaria mais alto do que qualquer uma daquelas montanhas.

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Qual foi a parte mais difícil de sair de Minas pela primeira vez e, depois, de ir embora da Chapada?
Partir é sempre fechar uma porta pra abrir outra, assim como uma escolha é sempre deixar algo pra trás. Nunca tivemos medo disso, nossa vida é levada pelo flow do universo que propõe algumas danças pra gente de tempos em tempos. Não temos nada além de uma mala de roupa para cada um da família, alguns livros e bons vinis. Durante esse tempo, desapegamos das partidas, aprendemos que as pessoas queridas estão sempre dentro e não ao lado, que desapego não é desamor. Não pensamos na dificuldade de sair de um lugar porque estamos sempre ocupados com a euforia de chegar em outro novo e ainda melhor!

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Vocês estão em Goiás agora?
Estamos em um Ecocentro, perto de Pirenópolis. Aqui é um laboratório vivo de sustentabilidade: captamos água da chuva, não dependemos do sistema público de abastecimento, tratamos essa água antes de devovlê-la ao meio ambiente, reciclamos quase 100% do nosso lixo, usamos banheiros secos sem água e vivemos em coletivo, estamos no meio da mãe-natureza. As crianças aprendem coisas bonitas por aqui, o que nós estamos reaprendendo, trocando velhos hábitos por outros mais conscientes, elas crescem sabendo naturalmente que é o melhor.

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Como está sendo essa experiência?
Linda! Estamos, a família toda, aprendendo muito, todo os dias. Isso é muito importante pra gente. Aprendemos com a diferença das pessoas nesse coletivo, com os animais, com a terra, com as nossas crianças. Estamos mais conectados com nossa essência, com nossa verdade, com nosso amor. Sentimos que aqui é mais uma parte de um processo de evolução que muito nos agrada. E é importante pra gente espalhar essa outra possibilidade de existência pra que outras pessoas possam se inspirar e buscar a transformação que elas tanto querem ver no mundo.

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O que mais te inspira na vida?
A liberdade de escolhas, a verdade das pessoas e o amor genuíno e sem amarras. E meus filhos, que são um pouco de cada coisinha dessas.

Qual a melhor parte de viver em comunhão e harmonia com a natureza?
Quando a gente desperta para o fato de que a natureza que se vê do lado de fora deveria ser a natureza do lado de dentro do nosso peito. Depois disso, começa uma busca linda de auto conhecimento que envolve muita observação dentro e fora da gente. A fragilidade, a força, os ciclos de desenvolvimento, a calma, os ritmos, o movimento, a organização, os espaços, tudo que se vê na natureza pode ser levado pra nossa rotina e daí nasce um mundo de descobertas e aprendizado. É bonito, sabe? Se entregar e viver em harmonia com a Mãe Terra é tão grande e forte que nem cabe na gente. Acho até que uma vida é pouco pra gente se dar conta de tudo o que mora nesse encontro!

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