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Quem são as meninas que estão espalhando peitos pelas ruas de SP

Por
Ricardo Moreno
Em
15 setembro, 2015

No dia 19 de abril, a fotógrafa Julia Rodrigues começou a chamar a atenção no Facebook ao postar fotos de peitos de fora – de homens e de mulheres – acompanhados da hashtag #podenãopode.

O objetivo era ver de que maneira a rede social analisava, interpretava, avaliava e vetava tais imagem. Teve problemas. Foi posta de castigo 6 vezes pelo site, proibida de postar qualquer coisa na sua timeline. O puxão de orelha veio, em 100% dos casos, por causa de peitos femininos mostra, e nunca de peitos masculinos. Continua, aliás, de quarentena por lá. “O castigo é progressivo – atualmente, qualquer coisa “errada” que eu postar me deixa 1 mês sem interagir lá dentro”, conta ela.

Depois de conhecer a psicóloga Letícia Bahia, autora do site feminista Reflexões de uma Lagarta, veio a ideia de, juntas, extrapolarem as fronteiras digitais e ampliar essa discussão para o mundo real.

Inspirado no movimento Free The Nipple (#freethenipple), nascia o projeto #mamilolivre, no qual as duas começaram, na semana passada, a espalhar lambe-lambes com imagens de peitos de ambos os sexos com a hashtag do projeto pelas ruas de São Paulo.

Também lançaram um sitemamilolivre.com com um manifesto em 14 línguas e a possibilidade de qualquer pessoa do mundo poder fazer download das imagens, imprimi-las e colar por aí; e mais um Tumblre uma página no Facebook (facebook.com/mamilolivreque, a contar pelas outras experiências da Julia, não deve durar muito tempo no ar.

É uma maneira de colocar a discussão sobre igualdade social entre homens e mulheres em pauta. É sobre nossos costumes, sobre a maneira como as mulheres são objetificadas, como aprendem a ter vergonha de seus corpos. Queremos que as pessoas comecem a fazer perguntas sobre essas normas”, dizem elas. “O indivíduo é soberano em relação ao próprio corpo. Cada um que faça o que quiser de si.”

Leia a entrevista que fizemos com a dupla.

mamilolivre-manifesto-lambe-lambe-julia-rodrigues-1Julia,à esquerda, e Letícia. Foto: Chris Von Ameln

Como surgiu o projeto #mamilolivre e quem está por trás dele?
Julia – A idéia nasceu do encontro do meu projeto #podenãopode, um ensaio fotográficoveiculado no Facebook que discute a censura do mamilo feminino em mídias sociais, com as pesquisas da Letícia.
Letícia – Nós nos conhecemos pela internet. Eu vinha pesquisando e escrevendo no meu blog, o Reflexões de uma Lagarta, sobre a proibição do mamilo feminino, e queria que a discussão fosse além da web. Um dia me veio a ideia de expor os peitos na rua com lambe-lambes, articulando isso com um site multilínguas. Daí encontrei a Julia, que tinha um projeto fotográfico nessa linha, o Pode Não Pode. A parceria foi instantânea!

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Sites como Facebook e aplicativos como o Instagram, por exemplo, não permitem que apareçam mamilos femininos. De que maneira veem isso?
Letícia e Julia – Esses sites não inventaram a proibição, mas reproduzem e ajudam a manter a ideia de que o corpo feminino não deva ter os mesmos direitos que o corpo do homem. Nós seremos contra essa ideia e qualquer um que a defenda ou reproduza.

E esse projeto é uma maneira de peitar essa censura?
Letícia e Julia – É uma maneira de colocar a discussão sobre igualdade social entre homens e mulheres em pauta. É sobre nossos costumes, sobre a maneira como as mulheres são objetificadas, como aprendem a ter vergonha de seus corpos e naturalizar tudo isso. Queremos que as pessoas comecem a fazer perguntas sobre essas normas.

Já tiveram problemas com esses sites? E como contornar isso?
Julia – Sim. Muitas fotos do Pode Não Pode foram censuradas. Já tomei muita bronca do Facebook e estou de castigo por lá há quase um mês. Mas o #mamilolivre acontece no Tumblr e nas ruas, e não depende de nós. Se a coisa se espalhar, como desejamos que aconteça, é porque as pessoas estão dispostas a questionar esses costumes. Nesse caso a mudança das políticas das redes sociais será consequência natural.

O que começou no mundo digital agora foi pro mundo real, com lambe-lambes espalhados pela cidade. Por quê?
Letícia e Julia – Na verdade é o contrário: a situação que queremos questionar começa no mundo real e transborda para o virtual. Nós nos encontramos no virtual e tínhamos nossos projetos lá. Nada mais justo de que voltar para o mundo real, porque o mundo digital é restrito. Queremos alcançar o maior número possível de pessoas. Por isso também lançamos o site em 14 idiomas, e outros ainda estão por vir.

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Vejo que fizeram um site em que estimulam pessoas do mundo todo a fazer o mesmo: ir para a rua espalhando cartazes do #mamilolivre. Qual o objetivo? Onde querem chegar?
Letícia e Julia – Não estamos lançando nenhuma grande novidade. Esse debate vem acontecendo em muitas partes do mundo, especialmente nos EUA. É apenas mais uma maneira de dar voz a essa causa, mas ela não é nossa. Não somos porta-voz de ninguém. Queremos que as pessoas se envolvam, que seja um movimento sem protagonistas, mas com um ideal. E esse ideal, esse objetivo, é o Feminismo, ou seja: a igualdade social entre os gêneros.

No manifesto, vocês dizem que mamilos podem ou não terem conotação sexual. Bunda, pinto e buceta também?
Letícia e Julia – Vale pra tudo. Como um cara pode pensar em ir ao urologista se imaginar que aquilo necessariamente vai ter um caráter sexual? O erotismo está no olhar, não no pinto, na bunda ou na buceta. O olhar erótico pode se dirigir a qualquer parte do corpo.

Que outras partes do corpo humano – feminino ou masculino – também merecem essa liberdade?
Letícia e Julia – É como a gente diz no manifesto: o indivíduo é soberano em relação ao próprio corpo. Cada um que faça o que quiser de si.

O portal Lado M também fez uma entrevista em vídeo com elas. Confira:

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