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Titi Müller: laranja é a cor mais quente

Por
Eloa Orazem
Em
12 julho, 2017
Em parceria com

Ela já nos levou para Jamaica, Dubai, Nova Zelândia, Itália e, mais recentemente, Portugal. Mas a verdade é que, quando nos toma pela mão, seguimos Titi Müller a qualquer lugar – até a esquina! – com a mesma empolgação. Apresentadora do “Anota Aí”, programa de viagens exibido pelo canal Multishow, a gaúcha de 30 anos, que já passou pela MTV e continua apresentando os festivais musicais mais legais do país, vive agora a melhor fase da carreira. Sem fugir à luta, Titi trava um diálogo reto e quente com quem cruza seu caminho, e mostra que, quem brinca com fogo, eventualmente acaba se queimando. Está preparado?

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Titi, diga lá: que água é essa que a família Müller bebe para ter tanto artista assim? Suas duas irmãs, a Tainá e a Tuti, são atrizes…

Na verdade, é a primeira geração de artistas da família. Quer dizer, meus pais são artistas não revelados: meu pai é um piadista nato. Ele é engraçado involuntariamente, sabe? Já minha mãe é uma drama queen, apesar de ter um senso de humor incrível também. Agora, essa coisa de levar a sério a carreira artística começou com a Tainá mesmo, ela que passou essa dengue, esse zika pra gente! (risos)

E como é ser a irmã do meio, hein?

É quebrar prato chinês. Muitas vezes eu senti que fui ponte entre uma e outra, porque o gap é de quatro anos de diferença entre a Tainá e eu, e dois da mais nova, a Tuti, então são seis anos de diferença entre uma e outra. Nós nos damos muito bem, somos muito unidas. E a gente, inclusive, morou no mesmo prédio em São Paulo por vários anos: uma morava no 9º, a outra no 8º e e a terceira no 5º. Era uma coisa meio “Friends”, porque a gente namorava, aí terminávamos os relacionamentos e eles iam todos embora. Então surgiam novos namorados e uma nova temporada da “série”.

Qual o capítulo mais imperdível desse show da vida real?

Teve uma época que eu estava namorando um cara, e a Tuti estava morando no andar debaixo com o namorado dela. A gente terminou meio que ao mesmo tempo. O meu ex-namorado foi morar com o ex-namorado da Tuti, e a Tuti foi morar comigo. Era bizarro, porque meu quarto era exatamente em cima do quarto do meu ex, e o da Tuti também. E eu comecei a namorar logo depois, e ele começou a namorar uma amiga nossa também. E a gente escutava tudo o que se passava por lá. No elevador, entrávamos, às vezes, os quatro, era muito engraçado. Não ficamos amigos, ninguém frequentou a casa de ninguém, mas foi uma situação bem peculiar.

Você leva uma vida invejável. Tem medo de perder todas essas regalias de viagens, festivais…?

Eu vivo sem medo, porque eu sou muito adaptável. Sei que tudo é muito efêmero. Inclusive, no meu retorno de Saturno tatuei “efêmero” em francês, no bíceps. Tudo isso vai cair: meu colágeno vai acabar, minha estrutura óssea já não vai mais ser a mesma, não vou ter a mesma disposição. Sabe-se lá o que vai acontecer. Eu sei que tudo é passagem e eu tento usufruir o máximo possível desse privilégio que é minha vida hoje, que é visitar os lugares mais incríveis do mundo com alguns dos meus melhores amigos.

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Mas seu conceito de riqueza mudou também?

Bastante. Uma das noites mais solitárias da minha vida foi em um hotel sete estrelas em Dubai, num quarto com uma cama gigantesca, imersa numa megalomania inédita. Ali me bateu uma solidão, viu? Mas eu estava superestafada. Foi na primeira temporada do “Anota Aí”, que foi bem punk. Eu sofri um acidente na segunda cidade, arrebentei o braço, perdi minhas malas… A gente não sabia como era o programa, então gravava muito e tinha muito estímulo: me joguei de um prédio, mas tenho um baita medo de altura; nadei com tubarões e tive uma crise de pânico dentro do tanque, porque nunca tinha feito o curso de mergulho, e por aí vai. A gente não sabia direito como fazer ainda.

E qual o próximo país que você quer conhecer?

A próxima viagem sempre parece a mais empolgante, então agora eu diria que é Deserto do Atacama, no Chile. Mas sendo bem honesta, já me perguntaram isso algumas vezes e eu sempre respondo da mesma forma: o lugar que eu mais tenho vontade de conhecer é um lugar onde eu me sinta segura andando à noite, sozinha. E esse lugar não existe no planeta Terra – Nova York, São Paulo, Porto Alegre… não existe! Presenciei um estupro em Auckland, na Nova Zelândia, e fiquei doze horas na delegacia como testemunha. Foi muito punk. A violência contra a mulher acontece em todo lugar: meus pais moram no litoral do Rio Grande do Sul, numa região bem pacata, a umas cinco quadras da praia, mas essa coisa de “ai, vou até a beira da praia agora, meia noite ou uma da manhã, sozinha”, não, não vou!” Não existe esse lugar no mundo. Ainda.

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Você é hoje a pessoa que queria ser?

Depende do ponto de vista. Eu estou em um lugar, que eu queria estar, mas eu nunca vou ser a pessoa que eu quero ser e eu acho isso muito bom. Eu sempre busco a evolução. Eu acho que no momento que tu te acomoda e pensa “eu sou essa pessoa incrível e a partir de agora não preciso mais aprender nada e não preciso mudar mais nada”, é porque você ainda tem muito trabalho pela frente. É o oposto disso. Eu acho que a busca é eterna, só não evolui quem está morto.

Bueno, não podemos fugir daquele vídeo que se tornou viral, do Lollapalooza, em que você falou que uma das atrações era machista…

Não fiz mais que a minha obrigação. Eu sei bem o terreno que eu piso ali dentro da Globosat, e eles sabem exatamente a pessoa que eles contrataram, que no momento que o microfone estava na minha mão, eu poderia falar aquilo. E eu falei, e está tudo certo. A repercussão dentro e fora do canal foi muito positiva. Lógico, que sempre vai ter um ruído, mas isso só reitera a necessidade de continuar falando sobre o assunto.

Mas você já sofreu ameaças, não?

Já me ameaçaram de estupro no meu Twitter, no meu Facebook, no meu Instagram, mas na minha cara ninguém fala. À parte desse episódio, todas nós já passamos por várias outras situações pelo simples fato de sermos mulheres, ponto. Ano que vem faz dez anos que eu estou na TV e, quando me abordam na rua, geralmente é para elogiar. Quando comentam alguma coisa nas redes sociais é pra criticar. O.k., agora tem muita gente falando muita coisa legal, mas na maioria das vezes é pedrada. Comentarista de rede social é isso. Na vida real, ali na cara a cara, é só elogio mesmo.

A fama te censura? Você deixa de ir a algum lugar ou de fazer algo porque é conhecida?

Não. Primeiro, porque eu não estou na Globo. Não sou protagonista de uma novela das oito, então isso é uma liberdade enorme. O que eu falo não necessariamente vira aspas. Agora, tive um bate boca no Twitter e isso virou uma nota, mas ficou bem claro que eu estava sendo atacada gratuitamente, simplesmente porque eu me posicionei. O que mais assusta um machista é uma mulher falando a palavra “machista”. E tem muita gente monetizando esse ódio.

Apesar desses embates, você se mantém otimista…

Há pouco tempo gravei um programa pro Multishow chamado “Humoristinhas”, que é um programa de talentos infantis de humor. Foi um sopro de otimismo e esperança no meu coração. A [escritora] Clara Averbuck sempre falava “se vocês nos acham chatas, imaginem como as nossas filhas estão vindo”. E as nossas filhas estão vindo com os dois pés na porta, mas os filhos homens também estão. Então, essa é uma geração de muito embate. É uma bolha, mas essas bolhas estão sendo estouradas, porque está todo mundo se dando conta de vários assuntos que estão sendo levantados e debatidos como nunca antes.

Você acha mesmo?

Com certeza. As crianças já naturalizaram várias coisas: não pode fazer piada que ofenda a minoria, não pode fazer piada homofóbica, e tudo bem menino que se veste de menina e vice-versa. Essas questões de gênero é normal. É outro chip. Fomos os últimos a nascer sem internet, fazer pesquisa na Barsa e tal.

E qual sua relação com esse admirável mundo novo?

É a indústria da solidão. Não é porque eu postei uma foto de um momento sublime, de uma imagem incrível, com um arco-íris atrás e golfinhos, que isso era o que eu estava sentindo. Às vezes, eu estava com uma baita cólica e gastrite e mal humorada. Pra ser sincera, alguns dos momentos mais importantes, daqueles que eu quis eternizar mesmo, são essas fotos mais X, que nem gera tanto engajamento. Tempos atrás eu postei uma foto com a minha irmã e minha melhor amiga. Nós três moramos juntas e a gente tem um roupão de panda, que é tipo um uniforme da casa. A gente estava assistindo seriado e tal, vendo TV juntas, tomando Aperol Spritz e eu registrei esse momento. Uma foto de nós três em casa, no sofá, vestidas de panda, e eu acho que é uma das fotos mais importantes do meu Instagram no último ano, entende?

Como você vive e expressa sua liberdade?

Minha liberdade é sagrada, então não há um segundo sequer que eu não a respeite, expresse ou viva. Mas, olha, isso não é novidade: desde pequena eu enfrentava quem fosse para ser e fazer exatamente o que me dava na telha. Sou assim até hoje e isso não vai mudar. Por sorte, meus trabalhos e meus parceiros não impõem nenhum tipo de censura ou barreira. Eu sou integralmente livre para vestir, falar, andar e me portar como eu quiser. E é assim que tem que ser, sempre.

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O que você se cobra mais?

Saber mais coisas e abrir mais os meus horizontes, o máximo possível, ser cada vez mais despida de preconceitos. Não tem nenhuma demagogia aí, mas eu me vejo várias vezes sendo preconceituosa comigo mesma, reproduzindo um monte de coisa que está incrustado no nosso DNA, tipo “não acredito que está namorando essa vagabunda”. E falar com todo mundo partindo do princípio que está todo mundo na evolução.

Mudando um pouco de assunto, o que você acha da relação entre mulheres?

A gente tem que acabar cada vez mais com essa imbecilidade que nos colocaram na cabeça de que somos inimigas e as maiores rivais umas das outras. Essa rede de apoio, a famigerada sororidade feminina, é muito importante e que bom que a gente está nesse momento de se entender.

Tem alguma mulher que você acha muito incrível?

Todas. Sério, são muitas. Eu vou falar de uma que fez aniversário recentemente e é minha amigona, e a gente está cada vez mais próxima: a Clara Averbuck, que é engajadíssima. Leio os textos dela desde a época do site Cardoso Online, quando eu tinha uns 13 anos. A gente tem trajetórias meio parecidas e agora a gente se encontrou na vida. Também pago muito pau pras minhas duas irmãs. Outra que admiro muito é a Djamila Ribeiro. Caindo pro lado do showbiz tem a Beyoncé, que eu pago o maior pau do mundo. A Madonna, idem. Tanta mulher incrível no mundo…

Por falar liberdade, o que você acha de poliamor, de namoros abertos?

Tem uma frase da atriz Maria Ribeiro que eu vou parafrasear: “Eu não acredito na monogamia, mas ainda não achei nenhum formato melhor”. Eu conversei sobre isso ultimamente com meu namorado [ o empresário Facundo Guerra]. A monogamia não existe. Ou a gente vive na hipocrisia ou, sei lá, às vezes, a gente aceita. Tipo, beleza, não vamos falar sobre isso até que seja um assunto. É isso, por enquanto estamos focados um no outro, mas já tive que abrir a cabeça de muito namorado. Agora, eu estou namorando um cara um pouco mais velho, enfim, tem outra vivência. Eu agradeço muito a todas as mulheres que passaram pela vida dele, por terem desconstruído-o minimamente. Porque eu fiz cada trabalho, juro, que eu deveria ser paga (risos).

Você leva uma rotina bem agitada (e animada), né? Quais os momentos mais cools da sua vida social?

Acho que todo e qualquer momento ao lado dos meus amigos entra nessa conta: tudo com eles é muito cool. Agora, para ser mais pontual, o último evento que me marcou muito foi uma festa regada a Aperol Spritz, no meu antigo apartamento, em São Paulo. Consegui reunir as pessoas mais especiais da minha vida em um lugar que foi superimportante para a minha história. Foi tanto brinde que a gente secou o bar da Aperol. Sério!

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Você, que é sommelier de festivais de música, qual considera imperdível

Rock in Rio. Rock in Rio é incrível mesmo, porque é um festival muito plural – tem pra todos os gostos. Tudo bem que poucas vezes a gente consegue curtir o show. Quase nunca, na verdade. Acho que o show que eu consegui curtir mais do Rock in Rio foi o do Elton John, que eu fiquei no palco, parecia que ele estava tocando pra mim. Show da Rihanna eu também curti bastante. A gente tem que estar sempre na posição, preparados e tal, no estúdio, s vezes é longe do palco.

Qual sua última descoberta musical, Titi?

Ai, eu sou bem retrô. Eu curto Nancy Sinatra, Zombies, Beatles… Eu deveria ter nascido em 1950, precisamente, para ter 19 anos em 1969 e ter passado aí pelos anos 1980 já meio virando tia. Musicalmente e esteticamente, pelo menos, eu me sinto muito conectada aos anos 1960.

Conta pra gente um talento secreto seu.

Eu sou meio costureira e meio cabeleireira. Já cortei o cabelo do Chay Suede, na MTV. Ele confiou na navalha sem fio!

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Titi, laranja é a cor mais quente?

Cara, laranja é, sempre foi e sempre será a cor mais quente. Sou devota ao pôr do sol e sempre que viajo faço questão de tirar uma folguinha, pelo menos uma vez, pra contemplar esse momento do dia. Cá entre nós, para questões além da natureza, eu tô me dando muito bem com o cabelo alaranjado, viu? Recomendo!

E qual a vibe perfeita do verão pra você?

Um mochilão aos 20 e poucos anos, com minhas amigas, no verão da Europa, fazendo topless nas praias em que passávamos, me traz as melhores memórias. Eu adoro fazer topless. Minha vibe é tomar um Aperol Spritz na beira da praia com as minhas amigas, todo mundo de peito de fora, dando risada e naturalizando totalmente o corpo.


Aperol Spritz

O mundo evoluiu. O sofisticado está nas coisas simples. O bom gosto não tem preço. Não é mais sobre ter, é sobre descomplicar. É sobre dividir, compartilhar.
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