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Thaís Muniz, a baiana que empodera e embeleza por meio de seus turbantes

Por
Bruna Tiussu
Em
7 setembro, 2018

No projeto Turbante.se, ela roda o mundo compartilhando o que estudou sobre a simbologia do acessório para as mulheres negras e outras culturas

Baiana, alegre e poderosa, Thaís chamava a atenção sempre que saía na rua com um turbante na cabeça. Depois de vários pedidos para que ensinasse a fazer os modelos que usava, teve uma ideia: montou uma turma para o que, lá em 2012, ela chamou de Workshop de Turbantes por Thaís Muniz. A coisa foi fluindo de tal maneira que ela viu no objeto um meio de se aprofundar em sua própria cultura e empoderar mulheres. “O turbante me abriu inúmeras portas. Me ajudou a aprender mais sobre mim mesma, sobre minha história, sobre política”, afirma. Ao longo destes seis anos, ela pesquisou a fundo a história dos turbantes no Brasil, a simbologia dele para as negras e outras culturas da diáspora afro-atlântica. E viaja o mundo para falar sobre o tema, em workshops agora muito mais maduros do projeto rebatizado de Turbante.se. Thaís faz todo um resgate teórico e cultural e, claro, ensina a colorir e embelezar cabeças alheias.

Turbante.se por Thaís Muniz
Thaís durante um workshop | Foto: Divulgação

“Eu ensino como fazer dez modelos, além de algumas amarrações para vestuário. Ainda que meu motivo para seguir estudando sejam as mulheres negras, as aulas são abertas para qualquer pessoa interessada em aprender mais sobre a história dos turbantes e das amarrações de cabeça”, explica ela, que atualmente mora em Dublin, na Irlanda, e já levou o projeto para mais de 10 países.

Em 2017, palestrou e participou de uma exposição coletiva no Fowler Museum de Los Angeles, além de dar um workshop em Lamerth Park, um dos bairros negros mais tradicionais da cidade. Este ano esteve em Londres, a convite da School of Oriental and African Studies, e em Lisboa, com um curso na Dubalacobaco, na Lx Factory. Também faz ações em lugares abertos, de performances à organização de pop-up shops em eventos. Esbanjando referências baianas, monta a loja, pendura a plaquinha “Choose your scarf and learn how to tie” e coloca seu talento à prova.

Thaís Muniz Turbante.se
Foto: Cristiane Schmidt

Um dos destaques das pop-up shops são os lenços com suas estampas autorais. Pois Thaís também é apaixonada por estampas. “Para onde quer que eu viaje, incluo no roteiro as lojas de tecido e volto para casa com ‘memórias físicas’ dos lugares. Também faço um intercâmbio com meu garimpo de estampas: mando para o Brasil o que encontro viajando e trago para a Europa exemplares de lá.”

O Brasil, aliás, continua sendo ponto importante para a Turbante.se, ainda que ela more em Dublin. Thaís mantém uma equipe para dar conta das demandas locais, ajudar na geração e difusão de conteúdos bilíngues e outras frentes do projeto, que vão de tutoriais a exposições. “E a Bahia é maior a fonte de inspiração do meu trabalho, não tem jeito”, diz.

Uma de suas alegrias recentes veio justamente daqui, de sua terra natal: uma grande editora brasileira a procurou, pois queria incluir o ofício de turbanteira como uma profissão em um livro didático, para o 6º ano. “Senti um orgulho múltiplo. Estamos conseguindo mudar o legado colonial do Brasil. Pude até incluir um trecho falando sobre o conceito de trabalhar um elemento simbólico de nossa cultura. Porque é algo que não pode estar apenas no campo da moda”, afirma ela.

Foto de abertura: Valentina Alvarez Le Visual Collective

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