Places

Cabo Polonio, no Uruguai, é o oposto da praia paradisíaca. E por isso você tem que ir

Por
Fabiana Corrêa
Em
23 julho, 2018

Inóspito e perdido no tempo, sem ruas ou luz elétrica, Cabo Polonio, no Uruguai, é o melhor lugar para você passar as próximas férias

Os 12 segundos de escuridão que dão nome à música de Jorge Drexler são parte da poesia de Cabo Polonio. Esse é o tempo em que parte do lugar fica no escuro, enquanto o farol centenário ilumina o outro lado. Como a luz elétrica não existe por ali e os geradores são limitados por lei, a escuridão permite ver as estrelas como em poucos lugares do planeta.

Mas não se preocupe muito com ela – a escuridão. Por conta da posição geográfica do cabo, no verão só anoitece por volta das 21h. Isso quer dizer que dá pra curtir a praia até bem tarde. Ou, melhor que isso, sonho de verão é alugar uma casinha com varanda e vista para o mar, grudada na encosta de pedra, e passar horas bebendo vinho branco gelado com os amigos para ver o dia se alongar além da conta. Não dá pra falar que tem muitas coisas no mundo melhores pra se fazer do que isso.

Cabo Polonio, Urugai
Foto: Paz Arando/Unsplash

As praias de Cabo Polonio não são particularmente bonitas. Quem mora no Brasil e já visitou os locais mais desertos do nordeste (quando eles existiam), sabe que a gente tá no top five mundial em quantidade e diversidade de praia incrível. Mas esse lugarzinho extremo no Uruguai tem algo que não se encontra por aqui.

A primeira coisa: é inóspito, distante, meio abandonado no tempo de uma certa forma. E, dia após dia, vai dando aquela vontade de ficar e entrar nesse tempo paralelo. Não faça como a galera que está em Punta del Leste, que vai lá pra passar o dia. Fique quatro, cinco noites. Até mais, se puder.

Como se trata de uma reserva de biosfera da Unesco, é proibido ir de carro para Cabo, que está a 250 km de Montevidéu e cerca de 100 km do Chuí, no Rio Grande do Sul, na fronteira do Brasil com Uruguai. Esse é um privilégio dos moradores – não mais que 50 famílias que foram para lá nos anos 1960. E parou aí. Você vai de transfer, ônibus ou com seu carro, deixa ele na entrada do parque e segue viagem com um caminhão que balança demais – e a diversão está exatamente aí. Mas leve um cachecol porque nem sempre os ventos são morninhos, não. Aliás, venta muito o tempo todo. É areia pra lá e pra cá e as temperaturas podem cair mesmo no verão. Previna-se.

De um lado está a Playa Sur, mais bonita, com areia mais fofa e clara, com mar bem rasinho, que você anda tipo uns 30 metros e ainda está com ondinhas na cintura. E, os locais advertem, tem muita água-viva. Na encosta de pedras, dezenas de casinhas brancas com varanda. Uma coisa meio Grécia, mas muito mais rústica. Aqui é onde ficam as lindas famílias de uruguaios que viajam juntos, mesmo com filhos na casa dos 20 anos. E onde há um bar de praia bacaninha com boa comida e bons vinhos locais.

Do outro lado, uma praia de areia batida, cheia de pescadores e surfistas, um lobo marinho ou outro e muitas dunas – as mais altas do Uruguai. Fica mais perto das dezenas de hostels de Cabo e do único hotel mais estruturado que existe por lá, o La Perla del Cabo, que também tem um restaurante. A outra opção de pousada boa é a La Posada, mais simples, bonitinha, limpa, perto da Playa Sur. Mas não é fácil conseguir um quarto na alta temporada.

Hotel La Perla, Cabo Polonio, Urugai
Hotel La Perla del Cabo | Foto: Divulgação

No meio, uma vila muito hippie. Com lojinhas de roupas tie dye e objetos esculpidos em madeira, gente descalça não importa a temperatura, mochileiros do mundo todo e surfistas saídos dos anos 1970.

Sem asfalto, obviamente, sem máquina de cartão de crédito, sem nenhuma sofisticação. Sem essa de pós-luxo ou do “luxo está na simplicidade”. Aqui é só simplicidade mesmo, sem luxo. Leve dinheiro vivo, a propósito.

cabo-polonio-uruguay-istock-3

Não acabou. Andando em direção ao farol, a coisa vai ficando mais rural. Há cavalos – um meio de transporte considerável por ali –, famílias de patinhos e, finalmente, chegamos na maior atração de Cabo: os lobos marinhos. São milhares e milhares deles. Leve a canga, ponha em uma pedra com uma certa distância e esqueça do tempo olhando o espetáculo que são esses bichos juntos. Eles fazem muito pouco além de mergulhar e se espreguiçar no sol, mas é relaxante e lindo de olhar. De vez em quando, um leão marinho aparece querendo briga e movimenta a coisa.

No inverno e na primavera, baleias jubarte podem ser avistadas em alguns locais, mas não é algo muito fácil de ver, então se contente com os lobos. Eles já valeriam a viagem até Cabo, se não fosse por todo o resto.

Foto de abertura: Patrícia Cassol Pereira/Unsplash

abandono-pagina
No Thanks