Places

Costa da Noruega e o Círculo Ártico: a viagem de Arthur Blaj, da Livo

Por
admin
Em
17 setembro, 2018

De navio pela costa da Noruega numa viagem que une arquitetura, natureza em estado bruto e uma parada de luxo numa ilha no extremo norte do planeta

Conhecer os fiordes noruegueses em um navio e cruzar o Círculo Ártico estava há tempo na lista de viagens de Arthur Blaj, um dos donos da marca de óculos Livo. No último verão do Hemisfério Norte, ele embarcou no Hurtigruten, um navio que leva turistas ao longo da costa do país em uma viagem que uniu arquitetura, natureza em estado bruto e uma parada de luxo inesperado em uma ilha no extremo norte do planeta. Aqui, ele conta os melhores momentos dessa jornada – com boas dicas para quem quiser fazer o mesmo.

Bergen Fish Market
O mercado de peixes em Bergen | Foto: Robin Strand/Bergen Tourist Board

Bergen e o mercado de peixes

A viagem começou na cidade portuária de Bergen, a segunda maior do país, e de grande importância histórica pro comércio marítimo da região. Por lá, gostei bastante de conhecer o mercado de peixes, com vendedores calorosos (vários portugueses e espanhóis) que me lembraram as feiras do Brasil. Experimentei ovas de peixe, carne de baleia e tive a oportunidade de ver os maiores caranguejos que já vi na vida. Nada na Noruega é barato, então, poder experimentar um monte de coisa antes de escolher o que comer caiu como uma luva. Outro ponto muito legal, e bem ao lado do mercado de peixes, é Bryggen, o histórico cais com suas casinhas que datam de 1400 e são hoje patrimônio cultural da UNESCO. A estética é incrível.
visitbergen.com
bergen fish market noruega


Hurtigruten
O navio da Hurtigruten | Foto: Divulgação

A deslumbrante viagem marítima

Lá em Bergen, embarquei no navio que me levaria círculo ártico adentro. O navio faz parte da Hurtigruten, uma companhia marítima fundada em 1893, quando pouquíssimas embarcações navegavam a mal mapeada costa da país. Operando como cargueiros, balsas e transportando passageiros, as viagens da companhia foram extremamente importantes para o desenvolvimento das comunidades na costa. Até pouco tempo, a Hurtigruten ainda prestava serviços para o correio norueguês, ao mesmo tempo em que carregava passageiros em luxuosas suítes. E, e ainda hoje, serve como transporte público. Bem curioso. Por essa característica, opera 365 dias por ano e para em todos os portos da costa! Por isso, a viagem a bordo de um Hurtigruten é conhecida como “Norway in a nutshell” (Noruega na casa de uma noz). Impossível conhecer mais cidades e vilarejos em tão pouco tempo. O navio partiu e na manhã seguinte já acordei rodeado por fiordes, grandes entradas de mar entre montanhas rochosas, criadas por erosões devido ao gelo. Na prática, são paredões gigantes com mar no meio e o visual é impressionante. Não é à tôa que essa viagem já foi nomeada a viagem marítima mais bonita do mundo.
hurtigruten.com


Vista aérea de Alesun | Foto: Nicolai Berntsen/Unsplash

Art Noveau em Alesund

A primeira parada é a cidade de Alesund, com sua incrível arquitetura art noveau. Ela é resultado da reconstrução da cidade após um incêndio que destruiu quase tudo nos anos 1940. Como o navio aporta em todos os portos, geralmente as paradas são rápidas, então só dá um tempo de descer para um rolê e reembarcar. Se você quiser ficar mais tempo, tem que dar um jeito de chegar para embarcar no navio na próxima parada.


Geirangerfjord
Curva de rio em Geirangerfjord | Foto: Arthur Blaj

O fiorde mais lindo do mundo

O Geirangerfjord é considerado o fiorde mais bonito da Noruega – e do mundo. Realmente, a cor da água, a altura e o ângulo das montanhas em volta e o pequeno vilarejo no horizonte são um cenário impressionante. Na encosta da montanha, há um parador com um visual incrível – mas tem também aquele mar de turistas que tira todo o charme do momento. É possível chegar até Geiranger por outros meios, então quem puder controlar seus horários, recomendo ou ir bem cedo ou bem tarde, para pegar o parador vazio e apreciar a vista numa boa. Antes de reembarcar para passar a noite navegando, subi a Trollstigen, uma estrada montanha acima que, de tão íngreme, sinuosa e cheia das curvas, virou atração turística.
geirangerfjord.no


Catedral de Nidaros
A Catedral de Nidaros. No detalhe, escultura de anjo com a cara do Bob Dylan | Foto: Divulgação

Anjos com cara de Bob Dylan

Próxima parada: Trondheim, antiga capital da Noruega durante a Era Viking. A Catedral de Nidaros, construída inicialmente como local de sepultamento do Rei (e santo) Olav II, é a única igreja de arquitetura gótica e romanesca na Noruega. E, embora tenha sido construída pela Igreja Católica, no século 16 se tornou luterana. E hoje é Igreja da Noruega, de orientação luterana, seguida por 70% da população do país. É linda e vale a visita. A parte mais curiosa foi descobrir que num dos últimos restauros alguém resolveu refazer o rosto do anjo no topo esquerdo copiando os traços de Bob Dylan. Bizarro? Sim, mas eu vi com meus próprios olhos. Me explicaram que colocar rostos de famosos contemporâneos é cultural dos maçons, responsáveis pelos últimos restauros dessa catedral. Antes de partir, ainda deu tempo de fazer um trekking em uma das florestas da cidade, com visual impressionante.
trondheim.com


Cruzando a linha do Círculo Ártico, com o monumento símbolo na ilhota Vikingen ao fundo | Foto: Arthur Blaj

Oficialmente Ártico

Na manhã seguinte, alcançamos 66°33′47.3″ N – cruzando o Círculo Polar Ártico. Como fiz a viagem no verão, significa que, a partir dali, o sol nunca se põe. No caminho até lá, as noites já estavam extremamente curtas. A partir disso, nenhum minuto de escuridão. No inverno, é quase garantido que você verá a Aurora Boreal caso passe algumas noites acima dessas coordenadas.


Vista para o Reinefjorden, em Hamnoy Lofoten | Foto: Arthur Blaj

Comunidades perdidas

Uma coisa impressionante durante a viagem foi avistar comunidades minúsculas em lugares extremamente remotos. O tempo todo eu me perguntava como essas pessoas haviam se estabelecido ali e o que faziam, do que viviam. Ao mesmo tempo, sentia vontade de passar por essa experiência, vivendo naquele visual e isolado de todo mundo. Acima, registro da vista para o Reinefjorden, em Hamnoy Lofoten.


Vista noturna de Bodø | Foto: Divulgação

Cenário da Guerra Fria

Chegamos a Bodø, cidade universitária, militar e a maior do norte da Noruega, onde eu desembarcaria de vez. Bodø foi um ponto muito estratégico para a OTAN e os EUA durante a Guerra Fria. Sua localização é estratégica, próxima à antiga União Soviética, praticamente uma fronteira com o Ocidente. Isso trouxe muito desenvolvimento para a região, que foi entupida de bases e equipamentos de monitoramento e proteção. Até hoje, é muito relevante e conta com bases dos Estados Unidos e da Noruega.


Saltstraumen | Foto: Divulgação

Rodamoinhos em Saltstraumen

Dali embarquei num RIB (rigid inflatable boat – ou um bote chique) para conhecer Saltstraumen, um estreito de 3 km de comprimento por 150 m de largura que tem a corrente marítima mais forte do mundo. O resultado: rodamoinhos enormes, chegando até 8 metros de diâmetro por 10 de profundidade, a 37 km por hora. Quase todo ano morre um desavisado que vai de caiaque ver tudo de perto. Durante esse passeio, enormes águias marítimas nos acompanharam e ainda puffins, um pássaro característico da região, uma mistura de pinguim, tucano e pato.


O único brasileiro por aqui

Segui de balsa até Nordskot, cidade vizinha à minúscula Manshausen Island, com 0,22 km2, o lugar mais incrível de toda a viagem. Antigamente, era um pequeno mas importante porto, que faliu nos anos 1920 e ficou esquecido até que, em 2010, Borge Ousland, famoso explorador norueguês e primeiro a cruzar tanto o Pólo Norte quanto o Sul sozinho e sem assistência, comprou a ilha. Ele renovou o antiga casa central (que serve como refeitório/cozinha e biblioteca) e construiu, junto com o escritório Snorre Stinessen, incríveis cabines que se projetam sobre o mar. É um dos lugares mais lindos que já estive na vida. O staff do lugar é de oito pessoas de vários lugares do mundo, que recebem no máximo 30 hóspedes por vez – eles ficaram surpresos, pois eu era o primeiro brasileiro a estar lá. A comida do lugar é especial: as refeições, de nível altíssimo, são servidas sempre ao mesmo tempo para todos. Entre as atividades para fazer por lá: escalada, caiaque, pesca, mergulho, remo, sauna e jacuzzi aquecidas à lenha. A sauna é um show à parte: fica na beira do Mar da Noruega, cujas águas não costumam superar os 10 graus de temperatura nem no verão. Refrescante. É possível dormir debaixo da Aurora Boreal nas incríveis cabines durante o inverno. Quero voltar para fazer isso.
www.manshausen.no

Eu em uma das cabines da Manshausen

Surf noturno | Foto: Trevor Moran/Red Bull Content Pool

Surf e Highway Ártica

Depois de dois dias, fui para Svolvær, a maior cidade do arquipélago Lofoten e meu destino final na Noruega. As ilhas têm registros de civilização há 11 mil anos e são um importante local arqueológico. A única estrada segue toda a costa, como uma Highway 1 Ártica – e vale muito a pena investir um tempo parando de vila em vila. A cada curva e travessia de ponte, um visual mais absurdo que o outro. Lofoten (abaixo) é conhecido por seus picos agudos, vales, fiordes e beleza natural. Nós fomos até Å, a vila ao extremo sul, que conta com uma padaria do início do século 19. A caminho é incrível. A vibe é bem jovem, dá para perceber que no verão muitos universitários vão passar um tempo lá. E o negócio é ali é curtir a natureza: é um paraíso da escalada e um dos melhores (se não o melhor) lugares da Noruega para se pegar onda. Tem louco que surfa lá no inverno à noite (foto acima), para pegar onda sob as luzes da aurora boreal. Eu estava na esperança de subir o Reinebringen, uma montanha conhecida por proporcionar a melhor vista do arquipélago, mas a trilha estava fechada por risco de acidentes: estão preparando uma nova trilha, removendo pedras soltas e sinalizando a subida para que fique mais segura.

lofoten noruega

Foto de abertura: Manshausen Island | Crédito: Arthur Blaj

abandono-pagina
No Thanks