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A fotógrafa aquática Ana Catarina revela as histórias por trás das imagens mais incríveis que já clicou no Brasil

Por
Adriana Setti
Em parceria com

Ex-jogadora de futebol e funcionária pública, ela conta como abriu mão da estabilidade pra ganhar a vida no mar e fala dos desafios na busca da imagem perfeita, seja na pororoca do rio Mearim ou nas ondas gigantes de Saquarema.

A carioca Ana Catarina Teles (@anacatarinaphoto) já esteve cara a cara com as ondas gigantes de Nazaré, em Portugal, e clicou os tubos perfeitos da Polinésia. Nos últimos meses, seus jobs também incluíram a cobertura de uma surf trip nas Maldivas e a busca pela onda perfeita na pororoca do rio Mearim, no Maranhão, com a longboarder Chloé Calmon e o campeão mundial de SUP Vinnicius Martins. Depois de trabalhar como funcionária pública por mais de uma década, há dois anos ela largou seu emprego (e a estabilidade) pra cair de cabeça na sua paixão. “Acordava cedo, ia pra praia com a câmera antes do expediente e, pouco a pouco, o que era um hobby foi tomando conta, até que a virada aconteceu de uma forma muito natural”, diz Ana. “A fotografia invadiu a minha vida a ponto de eu não conseguir mais trabalhar com outras coisas”. 

A fotógrafa Ana Catarina: sempre em busca do clique — e da onda — perfeita | Crédito: @helenabarretophoto

Ana descobriu que poderia unir cliques, lifestyle de surf e fotografia aquática em um workshop com Sebastian Rojas, a maior autoridade brasileira no assunto. Foi ele, aliás, que botou pilha pra que sua aluna desbravasse um mercado que, em pleno 2020, ainda é dominado pelos homens. “Tenho aquele perfil de amiga de menino. Morava num prédio onde era a única menina, sempre joguei futebol, então estar em minoria nunca foi uma questão”, diz a fotógrafa, que entrou em campo pelo Fluminense durante oito anos. “Por outro lado, tendo a fotografar mais mulheres. É uma questão de identificação e de gostar de estar na água com elas”. Formada em jornalismo, ela também curte contar as histórias que estão por trás de cada imagem. “Toda vez que viajo para um desafio volto diferente e com a bagagem muito recheada de experiências, tanto por conhecer lugares novos como pelo contato com a vida de outras pessoas”, diz. “Isso é o que mais me toca na fotografia”. Para o The Summer Hunter, Ana revela os bastidores das fotos mais incríveis que já fez no Brasil. 

Vinnicius Martins e Chloé Calmon no Maranhão | Crédito: Ana Catarina

Pororoca: a onda infinita do Maranhão

Uma das viagens mais recentes de Ana Catarina foi pra Arari, no Maranhão. A cidadezinha é a base pra explorar o rio Mearim onde, na lua cheia e na lua nova, acontece o fenômeno conhecido como pororoca. Durante quatro dias, na troca de maré, a água do mar invade o rio formando uma onda longuíssima. A ideia, nesse caso, era registrar a longboarder Chloé Calmon e o campeão mundial de SUP Vinnicius Martins (que atacou de foil) surfando na água doce. “É uma cidade simples, que não tem um turismo em torno da pororoca. E se por um lado isso é bom, porque o custo de vida é baixo, também acabou gerando algumas dificuldades na logística, a começar pelo perrengue de encontrar um jet ski pra alugar e um barco de apoio”, conta a fotógrafa. “Os jets quebraram, o motor do barco pegou fogo, nosso pneu furou, a gasolina da moto de resgate acabou… Foram tantos imprevistos que o resultado final valeu ainda mais.”

Vinnicius atacou de foil a pororoca do Mearim, no Maranhão | Créditos: Ana Catarina

Rindo (muito) de todas essas situações, a equipe investia cerca de uma hora em cada onda, entre ir até a foz ver como se formam e o surf em si. “Era uma verdadeira busca, porque às vezes ela desaparece, encontra uma bancada no fundo do rio e se sobe de novo. Mas a Chloé e o Vini chegaram a surfar por quatro minutos seguidos em algumas ondas, o que é inacreditável.” No tempo livre, eles aproveitaram pra curtir o pôr do sol e a calmaria do Lago da Morte, onde acamparam. Também comeram caju direto do pé e se divertiram com os “paredões” de som, típicos da região. “Recomendo muito essa viagem pra quem surfa”.

Ian Vaz encara a direita de Regência, no Espírito Santo: onde o Rio Doce encontra o mar | Crédito: Ana Catarina

Nazaré é aqui: as ondas gigantes do Espírito Santo

Alguns dos picos mais fotogênicos do Brasil, segundo Ana Catarina, estão no Espírito Santo. Em Vila Velha, a alguns quilômetros da costa, rochas no fundo do mar ajudam a formar ondas gigantes, que chegam a mais de 20 pés. “Curto muito fotografar a Laje da Avalanche e a D2. É um surf mais casca grossa, que pode ficar bem grande quando tem um swell legal”. Aproveitando a expedição em território capixaba, ela costuma emendar com alguns dias em Regência, a duas horas da capital, onde o Rio Doce encontra o mar. “Tenho um carinho muito grande por esse lugar, que ficou apagado um tempo por conta do rompimento da barragem de Mariana, mas a cidade ressurgiu da lama e continua dando uns dias bem épicos de onda”, diz Ana. “Pra mim, é disparado um dos melhores picos do Brasil. Na boca do rio tem uma esquerda bem longa e, no point mesmo, rolam umas ondas tubulares, ótimas pra fotografar”. Pra comer em Regência, o Carebão (na avenida principal) se garante com um PF gostoso e barato. A fotógrafa costuma ficar hospedada na pousada Vila Sérgio (@pousadavilasergio). 

Caio Vaz encara onda na Laje de Manitiba, na Região dos Lagos: Rio com cara de Taiti | Crédito: Ana Catarina

Saquarema: tubos tipo exportação

A duas horas do Rio, na Região dos Lagos, Saquarema recebe uma etapa do campeonato mundial de surf. “É uma viagem prática pra quem está no Rio de Janeiro, com uma qualidade de onda invejável e custo muito mais baixo que Búzios, que é ali do lado”, diz Ana Catarina. “Rolam vários tipos de onda, na Praia da Vila e em Itaúna. E ainda tem Jaconé, onde fica a Laje de Manitiba, que é tão casca grossa que parece que você está no Taiti, com água muito clara e pesada”. Ana costuma ir pra lá com os irmãos Caio e Ian Vaz, surfistas profissionais de stand up paddle, protagonistas da série “Irmãos Vaz”, do Canal Off. “A gente acorda lá pelas três da manhã, pega um jet ski e chega em Saquarema com o sol nascendo pra dar uma olhada na Laje.”


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