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A história das fitinhas do Senhor do Bonfim

Por
Adriana Setti
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É quase impossível ir a Salvador como turista e não voltar com algumas no pulso. Aqui, a gente mergulha na origem desse ícone.

As fitinhas multicoloridas dão um colorido extra à Basílica Nosso Senhor do Bonfim e simbolizam a devoção ao catolicismo, a Oxalá e outros orixás. Também estampam cangas, camisetas, almofadas, souvenires e são vendidas aos montes aos turistas. Fé? Sacada comercial? Jogada de marketing? É tudo isso ao mesmo tempo.

A origem

A história das fitinhas do Senhor do Bonfim
Foto: Isa Carvalho / Wiki Commons

A teoria mais aceita é a de que foi criada em 1809 pelo português Manoel Antonio da Silva Serva. Fundador da primeira tipografia e do primeiro jornal da iniciativa privada do país, ele também era o tesoureiro da Devoção de Nosso Senhor do Bonfim. O intuito era levantar fundos pra igreja, inaugurada em 1974.

A história das fitinhas do Senhor do Bonfim

Não foi uma sacada original. A “medida” de santo — nome formal da peça — já era pop na Europa desde a Idade Média. Medida? Literalmente. Nesse caso, o comprimento equivalia ao braço direito da imagem do Senhor do Bonfim, trazida por um capitão da marinha portuguesa pagando promessa, após sobreviver a perrengues em alto-mar.

As legítimas
·  	Cor apenas branca.
·  	Feita de algodão ou cetim.
·  	Bordada com fios de ouro!
·  	6 a 7 cm de largura.
·  	47 cm de comprimento.

Bem mais cara e refinada que as atuais, a medida original era usada nos ombros ou ao redor do chapéu. Mas foi caindo em desuso a partir da década de 1920 e quase desapareceu.

Lembrança do Senhor do Bonfim da Bahia

A história das fitinhas do Senhor do Bonfim
Foto: Vendedor de fitas do Bonfim, Pierre Verger, 1959

Nos anos 1960, os órgãos de turismo baianos reativaram o ícone, em versão fast fashion: menores, baratas, coloridas e com a famosa frase estampada. Inicialmente feitas de algodão, hoje são de náilon e poliéster. E a igreja que fica no Largo do Bonfim não tem nada a ver com a sua produção.

A história das fitinhas do Senhor do Bonfim

Com a nova versão, nasce uma tradição: três nós e três pedidos, no pulso ou na grade da igreja. Uma espécie de versão baiana das fontes ou poços do desejo espalhados pelo mundo?

A história das fitinhas do Senhor do Bonfim
Foto: Marianna Smiley / Unsplash

“A indústria do turismo, em todo o planeta, sempre explorou os três desejos como um de seus melhores apelos. O final desta história é que a medida de santo passou a ser uma fitinha vulgar, hoje exaltada como um amuleto devocional. Em todo caso, e apesar das transformações, o povo lhe confere uma energia muito positiva nos seus atos de fé, e isso é que importa.”

Nelson Cadena, escritor, pesquisador e jornalista, autor de Festas Populares da Bahia. Fé e Folia, em coluna no Correio.

Crédito da foto de abertura: Alberto Coutinho / Wiki Commons