Tendo o Rio de Janeiro como principal vitrine de tendências, a street food mais interessante do país foi evoluindo, somando novos ingredientes e se transformando ao longo das décadas.
Uma das grandes delícias do verão, a comida de praia é a street food (ou seria sand food?) mais interessante, variada e dinâmica do Brasil. Assim como os biquínis, essa gastronomia foi evoluindo, somando novos ingredientes e se transformando ao longo das décadas. Cada região do país tem suas peculiaridades, é claro. Mas não dá pra negar que o Rio de Janeiro sempre foi a maior vitrine de tendências. Aqui, a gente lista alguns quitutes— inevitavelmente temperados com pitadas de areia — que marcaram essa linha do tempo.

Anos 1960: OLHA O MATEaaa!
Enquanto Tom Jobim e Vinícius babavam por Helô Pinheiro e compunham “Garota de Ipanema”, os primeiros tonéis de mate já começavam a circular pelas praias do Rio. Na sequência, veio o limão, formando a combinação perfeita pra esfriar o corpo no calor do verão carioca.

Anos 1970: alô, bixcoito Globo!
O Biscoito Globo — pasme — nasceu em uma padaria do bairro do Ipiranga, em São Paulo, pelas mãos dos irmãos Jaime, Milton e João Ponce. As roscas de polvilho chegaram ao Rio de Janeiro em 1954, mas só invadiram de verdade a orla nos anos 1970. De lá pra cá, se tornaram a comida mais clássica das praias cariocas, a ponto de terem sido tombados como patrimônio cultural e imaterial da capital fluminense em 2012.

Anos 1980: sanduíche “natural”
Nos loucos anos 1980, quando a humanidade celebrava as “maravilhas” do microondas e da comida congelada, sanduíche “natural” era uma gororoba feita com atum em lata, maionese de pote, pão integral só que não e — ufa! — meio grama de cenoura e meia folha de alface. Essa receita virou hit na famosa barraca do Pepê, na Barra da Tijuca, e viralizou entre os surfistas e a geração “saúde”, desbancando o bom e velho milho verde e o abacaxi com groselha (servido na própria casca, quem lembra?).

Anos 1990: abram alas pro queijo coalho
Espetinhos de camarão assassinos, empadinhas, sacolés e saladas de frutas fizeram sucesso nos anos 1990. Mas o que virou febre foi o suco de laranja com cenoura, pra dar aquela turbinada no bronze. Seu reinado, porém, acabou abafado pela chegada fulminante do queijo coalho, que se tornaria uma iguaria praiana definitiva, espalhando-se por todo Brasil. Até hoje os vendedores-raiz usam pedaços de latas cortadas com algumas pedras de carvão, que giram freneticamente pra ativar o braseiro.

Anos 2000: boca roxa de açaí
Ingrediente da vida toda no norte do Brasil, onde o é servido numa espécie de sopa salgada que acompanha o peixe frito, o açaí conquistou o Brasil (e o mundo) quando o açúcar entrou na jogada. Doce e geladinha, a fruta virou febre, deixando todo mundo com língua de chow-chow e cérebro congelado nas praias brasileiras. Começando pelo Rio (como quase sempre), as esfihas também começaram a bombar nessa época. E como a criatividade do brasileiro não tem limite, teve até quem descolasse camelo (de mentira) e odalisca (de verdade) pra se destacar no meio da concorrência: paulista de alma carioca, Marco Antonio Maciel é o “Árabe do Pepê”, uma das figuras mais icônicas da Barra da Tijuca.
Anos 2020: raio gourmetizador
Se os sushis (medo!) já ensaiavam circular pelas praias, agora eles ganharam a concorrência de dadinhos de tapioca com geleia de pimenta, biscoito de polvilho com ervas da Provença e outras invenciones além de, claro, muito gim-tônica com pimenta rosa.