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DJ por amor e por acaso, a vida no shuffle de Cix

Por
Eloá Orazem
Em
14 fevereiro, 2016

A mão que aponta a direção e os compromissos inadiáveis traz, no lugar de alianças, o pacto de sangue e tinta que Cecília Papi – a Cix – fez com a vida: “FREE”, assim mesmo, em caixa alta, é o que se lê, letra a letra, nos dedos finos e alongados da DJ carioca, cujas 20 e poucas tatuagens espalhadas pelo corpo talvez contem mais de seu futuro que um mapa astral. Dos desenhos que os olhos alcançam, vemos estrelas, um astronauta sonhador, um gato, um coração alado em chamas, a palavra vida e a célebre frase “what goes around comes back around” – símbolos que, para bom entendedor, são uma perfeita síntese de tudo o que é e acredita a musa do extinto programa “Nós 3”, levado ao ar pelo Multishow, em 2009 e 2010. Designer por formação, a moça confessa que não detém a autoria de nenhum dos traçados que traz na pele, mas é a diretora artística do conjunto da obra, tendo pensado em cada uma das figuras que compõem o mapa da mina. Se podemos supor tantas coisas com as (poucas) tattoos visíveis, é de se pensar que as censuradas revelem ainda mais sobre o passado, presente e futuro dela. Mas o que os olhos não veem, a gente pergunta – e, por sorte, a Cix responde.

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Como foi a transição de designer para DJ?
Sempre fui apaixonada por música e, certa vez, um amigo organizou uma festa e convidou a mim e uma amiga, a Yasmin Vilhena, para tocar. A gente nem sabia o que fazer direito, mas a experiência foi tão incrível que resolvemos levar a coisa a sério. E eu me liguei tanto nessa questão de pesquisa musical que hoje trabalho na Rádio Ibiza, uma empresa que faz identidade musical para empresas e marcas. Criamos trilhas personalizadas para restaurantes, shoppings, lojas… Paralelo a isso, eu e a Yasmin lançamos o ecommerce ALTLAW: a gente garimpa coisas legais no exterior e traz para cá. Com essa nova empreitada, eu meio que voltei à ativa no design, que é a minha formação. Na verdade, eu queria fazer moda, mas meus pais achavam que o design era mais amplo e me permitiria trabalhar com moda também. Embora tenha concluído o curso e desenvolvido alguns projetos na área, nada me prendia, porque eu preciso de liberdade criativa. Para ser sincera, todas as minhas experiências de trabalho acabaram me frustrando, porque eu fazia algo e o cliente pedia tantas mudanças que, no final da história, já não tinha nada a ver com o que eu sou e acredito.

E a Cix hoje ainda faz questão de colocar sua própria identidade nos trabalhos ou já conseguiu um distanciamento entre criador e criatura?
É engraçado, porque muitos clientes parecem um pouco comigo, então a minha identidade flui naturalmente. Mas, obviamente, alguns clientes que atendo não têm nada a ver comigo: um, por exemplo, tem a vibe do sertanejo e eu tenho que pesquisar esse estilo musical; eu tenho que me adaptar às necessidades do cliente. Eu trabalho numa sala com pessoas muito diferentes e com conhecimentos muito diferentes, então a gente acaba sempre trocando muito. Um é ligado em jazz, o outro em música brasileira… Todo dia eu aprendo sobre áreas da música que eu naturalmente não pesquisaria por conta; mas tem gente por perto para me abastecer e ensinar.

E qual foi a sua última grande descoberta musical?
Eu sou mais de músicas soltas do que um artista específico. Não sou dessas pessoas que baixam um álbum inteiro e ficam viciadas, mas eu tenho ouvido e curtido muito a música “Feel So Good”, dos Sailors.

Desde a época do fotolog você parece arrastar uma multidão no ambiente online. Acha que esse frenesi aumentou depois de fazer um programa na TV?
Acho que sim. Mas eu sempre fiz as coisas por mim e para mim. Meu fotolog era um diário virtual, fiquei arrasada quando tiraram o site do ar. Era um álbum de fotos, de recordações.

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Então tudo isso não é um exercício de vaidade?
É mais para mim do que para os outros. Acho que os outros acabam gostando, mas eu faço isso para mim – às vezes eu volto o Instagram inteiro e lembro o que eu estava fazendo lá atrás, ou quero ver as fotos de uma determinada viagem.

Você não tem a preocupação de se montar inteira para uma foto, então?
Zero. Eu posto mais fotos de viagens, porque eu gosto de conhecer lugares bonitos: acumulo e vou soltando.

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Qual o próximo destino que veremos no seu perfil?
Agora em abril vou para Tailândia e Filipinas. Neste último, vou fazer um passeio incrível de barco. São cinco dias conhecendo as ilhas do lado esquerdo: você vai da primeira à última, parando para dormir nas praias desertas, em redes, sob as estrelas. O tour é conduzido por locais e o grupo tem umas 20 pessoas apenas.

Vai sozinha?
Estou indo com mais duas amigas.

Mas você curte viajar avulsa?
Nunca fiz essa experiência. Quer dizer, quando eu morei em San Diego, na Califórnia, eu acabei ficando um bocado mais sozinha, mas eu logo comecei a namorar lá. Eu nunca fui para um lugar sozinha. Sempre que eu vou, alguém quer ir, mas eu não teria problema em viajar sozinha.

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Você faz trilhas sonoras das suas viagens?
Ainda não fiz, mas sempre depois da viagem eu faço vídeos, essas coisas. Eu nem posto esses vídeos em lugar nenhum; são recordações minhas mesmo – e lá tem as músicas.

E você pretende publicar ou escrever sobre isso?
Então, no site da ALTLAW a gente tem um blog que anda meio parado, mas é um investimento futuro. Quero colocar coisas lá, sim, minhas viagens e outras coisas. Eu curto escrever sobre música, moda… coisas do meu cotidiano.

E quando você viaja, seu foco é curtir belas paisagens ou se conectar com a cultura local?
Acho que para mim é uma coisa muito visual, sabe? Eu gosto de ver aquela água, daquela cor que eu acho que eu nunca vi na vida. Tenho uma coisa com cores! Já fui para o Havaí, já fui para as Maldivas, já fui para muito lugar bonito, mas acho que o que mais me impressionou foi uma parte da Sardenha. Não tem como chegar lá de carro, só de barco. E a gente alugou um barquinho – um bote com motor, na verdade, e contratamos um marinheiro. Nem era para ele ir com a gente, mas a minha amiga não deixou eu pilotar o bote e nós acabamos contratando o cara. Mas, enfim, a gente pegou esse botinho e ele ia parando nas praias e a gente nadava até a areia. E sobre as águas verdes, se via um paredão rochoso com umas formas que eu nunca vi na vida. Aliás, aquela água é a mais transparente que eu já vi na vida. Foi um passeio que durou o dia todo e eu voltei agradecendo por um dos momentos mais marcantes da minha vida.

Mas você viveu muitas coisas marcantes, em vários lugares. Como foi essa experiência de morar na Califórnia?
Passei oito meses em San Diego. E amei! Sabe aquela coisa de inventar pretexto para viajar? Eu estava na faculdade, mas meus pais me deixaram fazer um curso de inglês nas férias: dezembro, janeiro e fevereiro. Fui com um grupo de amigos e o plano inicial era ficar num albergue e depois alugar uma casa. Mas comecei a namorar um menino do hostel e pensei: “não vou voltar de jeito nenhum”. Foi uma loucura. Estava com visto de estudante, então fui ao México cancelar aquele visto e entrar com o carimbo de turista. 

Seus pais devem ter ficado malucos!
Ficaram, e disseram que não me mandariam um centavo. Comecei a trabalhar vendendo flor de madeira no parque de Mission Beach. Tinha 21 anos, era a hora de fazer essas coisas; você tem que viver!

Mas você ainda é destemida assim?
Mais ou menos, hoje em dia eu não faria mais isso, mas naquela época eu não achava nada demais, eu só pensei “vou trancar a faculdade e em seis meses tô de volta”. Foi uma das melhores coisas que eu fiz, porque foi a primeira vez que eu tive que me virar de verdade – na época eu ainda morava com os meus pais. Foi um amadurecimento, eu tive que ralar muito para me sustentar. Trabalhava horas e horas, carregava umas madeiras pesadas. Era o maior perrengue; eu tinha que ficar gritando para as pessoas comprarem a minha flor.

E todas essas tatuagens aí?
Acho que as tatuagens têm a ver com o fato de eu ser muito ligada à arte. Fiz aula de pintura dos 8 aos 18 anos. Sempre amei desenhar. Tatuagem para mim era fazer um desenho na minha pele. Minha primeira foi aos 15, uma estrela no dedo. Não me arrependo de nenhuma delas: tenho umas 20 e poucas. Vinte e duas, talvez.

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Fazendo uma retrospectiva da sua vida, qual você diria que foi o grande ponto de virada da sua história?
Cara, é difícil isso, porque mesmo eu gostando muito do que eu faço, eu ainda não descobri o que eu quero fazer para sempre. Amo o meu trabalho, mas não dá para ser DJ para sempre, embora hoje em dia seja a minha principal fonte de renda, porque eu sei que uma hora vai parar, até porque têm meninas mais novas começando e eu sei que isso é fase. Mas ainda não achei o meu turning point. Estou me renovando. Primeiro fui ser designer, aí comecei na música e agora tenho o ALTLAW. Meu site é uma coisa que eu gostaria de investir, porque tem muito a ver comigo. Gostaria de investir muito no blog para linkar tudo o que eu gosto em um só lugar. Sei lá, dá para fazer um vídeo de uma receita e servir em um pratinho lindo, feito à mão, que vendemos online e linkar tudo. O conjunto é uma comunicação muito legal.

Mas essa empreitada pede uma visão mais administrativa…
Total! E nessa parte eu sou um desastre. Sou toda arte e estética. Sou um terror nos números, mas a gente tem um contador para nos ajudar. Esse ano eu vou dar um passo importante: vou continuar trabalhando para a Rádio Ibiza, mas de casa, porque eu sinto que eu preciso desse espaço. Tudo o que você quer criar depende de muita dedicação, porque se não, não vai. Por mais que eu estivesse me esforçando e fazendo as coisas nas horas vagas, se eu realmente quiser fazer acontecer, eu preciso estar lá todos os dias e me dedicar.

E paralelo a isso você continua movendo multidões no Instagram e outras plataformas. Você aceita o título de digital influencer?
Ah, isso é muito difícil. Não sei. Tudo o que eu faço são coisas que eu gosto, sabe? Eu gosto do Instagram: não é que eu trabalhe a minha imagem, mas acho que tudo o você gosta, você acaba se dedicando sem perceber. Eu não fico planejando. Tem blogueira que todo dia pensa em um look e um cenário, e vai longe para fazer foto bonita. Essa preocupação não existe em mim.

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Você é superaberta à beleza real?
Acredito que sim. Eu não sou dessas que faz mil tratamentos estéticos. Não passo nem hidratante, pra você ter uma ideia – só quando eu viajo pra um lugar megaseco e eu começo a criar escamas. Nunca fiz a unha num salão na vida – olha como tá a minha unha [mostra as mãos tatuadas]. Nunca tirei a cutícula! Eu faço as unhas em casa. Acho que as pessoas mais naturais são mais bonitas, sabe? Agora, por exemplo, eu estava tocando e eu só coloquei uma base, um blush e acabou. À noite, quando eu vou tocar, eu preciso me arrumar mais, até porque é o meu trabalho. Não vou chegar lá de chinelo para tocar, mas não sou nem um pouco escrava da estética e nem da malhação. Até que eu corro de vez em quando porque é bom fazer exercício, mas também como um hambúrguer gigante.

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E você aproveita muito o Rio de Janeiro?
No final de semana eu não curto ir à praia porque fica muito cheio. O que me encanta na praia é a paz que você sente lá. Na última vez que fui ao Leblon num final de semana, um cara tacou uma bombinha atrás de mim. Fiquei uma hora sem escutar direito! Eu acho que, por ser uma cidade grande, a praia não é bem um escape, não tem aquela tranquilidade… Eu amo praia, mas eu amo a praia na paz. Cara, eu falo essas coisas, mas para mim o Rio é o melhor lugar do mundo. Não sairia daqui por nada. Ficara uma temporada fora, mas minha casa é aqui.

Você está em paz consigo?
Estou sempre em busca da paz. Acho que faz parte da minha essência. Minha mãe às vezes fala “cara, até agora você não sabe o que você quer, mas você vai sempre se virando”. É isso mesmo!

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