Em pleno 2023, os corpos estão menos diversos nas passarelas. Entenda por que a idealização da magreza extrema é tão nociva.
Não há nada de errado em ser magra. Aliás, julgar o corpo da mulher por seu tamanho, forma ou qualquer outro aspecto deveria estar fora da pauta. No entanto, o problema acontece quando a magreza passa a ser sistematicamente associado a um padrão de beleza que é inalcançável pra grande maioria da população e se torna uma questão de saúde pública.
Fantasmas do passado
Essa discussão parece anos 1990 demais pra ser verdade em 2023. Mas o retrocesso é real e preocupante. Desde o fim do ano passado, a imprensa internacional vem denunciando uma volta expressiva do predomínio da magreza extrema às passarelas. Essa “tendência” vem aliada a uma redução drástica da diversidade.
A redução da representatividade de outras formas corporais na passarela vem associada a tendências de moda que contribuem pra reacender o debate sobre a gordofobia e a pressão estética. Por exemplo: calça de cintura ultrabaixa.
Direto de Paris

O que era tendência em 2022 ganhou força este ano. “O casting de modelos nessa temporada da Paris Fashion Week realmente está priorizando meninas muito magras e excluindo corpos diversos e gordos”, escreveu a jornalista de moda Maria Rita Alonso em artigo publicado no último fim de semana na Marie Claire.
A quem não viveu nos anos 1990, vale dizer que a indústria da moda chegou a cunhar o termo “heroin-chic“. Ele faz em alusão à magreza extrema e à palidez das pessoas dependentes de heroína. Em 1997, o presidente norte-americano Bill Clinton disse: “Não precisamos glamourizar a adição às drogas pra vender roupa”.

“Numa época em que as ansiedades sobre a imagem corporal são abundantes, a idealização da magreza é perigosa demais pra ser deixada aos caprichos da indústria da moda”.
Trecho de um editorial do jornal britânico The Guardian.
Países europeus, incluindo França, Itália e Espanha, já possuem leis pra evitar que modelos abaixo de um índice de massa corporal (IMC) considerado saudável participem de desfiles. No entanto, a medida é polêmica e, ao que tudo indica, pouco efetiva. Assim como o próprio conceito de IMC, que vem sendo questionado por várias pesquisas científicas.

Garantir a diversidade de corpos na passarela e na mídia é uma questão de responsabilidade social. Movimentos como o Body Positive levam anos botando abaixo os padrões de beleza impostos. Durante um tempo, a indústria da moda parece ter feito concessões — mas isso não pode ser encarado como mais uma tendência passageira.
Créditos da Imagem de destaque: Reprodução / Miu Miu