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É muito axé: as ervas mágicas de João Diel, da incensaria Primeira Folha

Por
Fabiana Corrêa
Em
28 setembro, 2018

Entre ervas de poder e pós mágicos, ele cria incensos e banhos que ajudam seus clientes a se aproximar do divino que há em cada um

O quintal da casa de sua bisavó, em Poços de Caldas (MG), se unia com dois outros terrenos vizinhos, formando uma espécie de latifúndio para o pequeno João Diel. Era ali que era cultivada uma bela horta, com ervas, xuxu, maracujá e rabanete que alimentavam a família, além de alamandas e outras flores. E também onde João Diel brincava e começou a inventar suas primeiras “poções”. “Eu era meio bruxinho desde cedo. Mais tarde, lia livros de Wicca, misturava o que colhia no jardim, cozinhava, ia criando. Era só uma brincadeira mas, ao mesmo tempo, o embrião do seu trabalho de hoje em tempo integral, à frente da incensaria Primeira Folha, que faz incensos 100% naturais e artesanais.

Presença constante nas feiras de artesãos contemporâneos e designers de São Paulo, como o Mercado Manual e a Feira Na Rosenbaum, além da loja colaborativa Endossa, em São Paulo, a Primeira Folha tem incensos em pó para serem queimados em uma cumbuca de cerâmica da marca, banhos de ervas com poderes especiais, como o Abre Caminho ou o Chama Dinheiro, e pemas, um pozinho usado para momentos em que se busca força ou proteção. “Eu sempre curti incensos, mas era tudo cheio de essências artificiais e eu buscava algo puro”, explica. Hoje, além da pureza, João pensa sempre nos males contemporâneos da alma – e tenta criar maneiras de amenizá-los por meio de seu trabalho.

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Tudo é feito pelas mãos de João. No começo da incensaria, era ele quem cuidava do processo inteiro, incluindo fazer as etiquetas e embalar seus incensos. Aos poucos, foi delegando. Mas não pode deixar com outra pessoa a criação de suas misturas, algo que ele faz rezando. “As receitas: foram passadas pela minha mãe de santo, com alguns segredos que são ensinados apenas oralmente. Tenho que espalhar para o maior número de pessoas”, conta. Isso não quer dizer que ele tenha espírito empreendedor.

João Diel não curte muito a palavra empreendedor. “Esse universo de palavras não contempla o que os pequenos produtores fazem. Faço por que tenho que fazer, só isso”, diz. Ele explica melhor em seu perfil no Instagram: “Um dos grandes desafios da Primeira Folha não é da ordem do empreendedorismo, ou de enfrentar burocracias, ou tentar o tempo todo estar na frente daquilo que seria a concorrência: nenhum desses desafios me move. O principal desafio da Primeira Folha é conseguir viver uma experiência divina, verdadeira, no meio do caos de informação de 2017, e mostrar mais sobre o caminho que decidi seguir.”

João procura se paramentar com algo que remeta ao candomblé durante as feiras | Foto: Leonardo Sang / Casa Dobra

E, por matar sua necessidade, ou melhor, sua “fome”, como ele diz, esse fazer foi ganhando clientes. E hoje serve para que o filho de santo mate não só sua fome, mas pague também os boletos. “Quando cheguei em São Paulo, morava no quartinho na casa de um amigo. Hoje me dou ao luxo de morar onde gosto, perto do Museu do Ipiranga, que tem os jardins mais lindos e onde eu amo passear.”

João faz parte do candomblé Angola desde a faculdade de Letras em Campinas, quando alguns colegas de graduação o convidaram para uma festa ligada a essa religião. Festa é uma maneira de falar: é um encontro religioso, onde há dança, reza, música. E foi onde João “bolou” pela primeira vez. “Você sabe o que é bolar?”, pergunta. Eu não sabia, claro. Mas João me conta que estava sentado em um banquinho para conhecer mais sobre aquele tal de candomblé, quando começou a se sentir emotivo, o corpo começou a tremer e ele entrou em transe. “É a presença do divino, ele se conectando com o mundo por meio de você. Tem pessoas que nunca entram nesse estágio. Eu entrei de cara e descobri que teria um trabalho a fazer”.

Os banhos de ervas e incensos naturais | Foto: Divulgação

E esse divino na vida de João vem ficando cada vez mais próximo. “Existe mais do que o olho vê. O que eu conheço desse mundo, esse jeito de acessar o sagrado, pode ajudar outras pessoas”, diz. Assim, a Primeira Folha é como se fosse uma empresa com responsabilidade espiritual sobre seus clientes. Mas e esse banho Chama Dinheiro, pergunto? “Sabia que nem é o mais procurado? As pessoas são muito instintivas na hora de escolher as ervas. Elas querem se cuidar, viver melhor, terem tempo pra elas se conectarem com o divino. Tem muito axé nesses vidrinhos.”

Foto de abertura: Naira Mattia/Rede Manual

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