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Artista cega constrói casa sob rodas com as próprias mãos

Por
Eloa Orazem
Em
1 setembro, 2015

“Muito antes de cruzarmos as fronteiras como migrantes, imigrantes, escravos ou refugiados, nós éramos nômades. Vivíamos a vida de passagem, como fazem os pássaros, mudando a direção segundo manda a Mãe Terra e suas quatro estações. Cruzamos barreiras inimagináveis em busca de um lugar para um descanso prolongado, mas sempre soubemos, em nosso íntimo, que a Terra é o nosso lar.”

dominique-moody-nomad-house-tiny-microFotos: Stephanie Case

Assim começa o manifesto escrito (e vivido) pela artista afro-americana Dominique Moody, de 58 anos, que fez da mudança parte de sua obra. “Já troquei de endereço 45 vezes, a maioria das vezes foi por querer, e isso gerou em mim uma enorme sensação de liberdade”, explica.

Entres idas e vindas, Dominique passou a se reconhecer e se encontrar apenas nas mudanças, então decidiu fazer sua morada na própria estrada. O sonho começou 25 anos atrás, o planejamento há sete e a construção há três, e agora finalmente podemos ver o resultado: “Nomad” é uma pequena casa sob rodas, toda feita a partir de materiais descartados e recicláveis, e integralmente construída pela artista.

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Desde que abriu as portas de seu lar ao público, Dominique tem chamado muita atenção, sobretudo porque é deficiente visual. A pouca visão periférica que lhe resta é útil aqui e acolá, mas perante o estado e a sociedade, a artista é legalmente cega.

Quando a encontrei, numa tarde de domingo, Dominique estava nitidamente exausta. Com o corpo franzino repousando em sua cadeira, explicava que há quatro dias consecutivos vem dando entrevistas e conversando com o público em geral por cerca de 12 horas diárias, levando suas cordas vocais a um colapso.

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Num último esforço de me contar mais sobre o projeto, a americana sussurra suas experiências na área de design de interiores, mas se mostra surpresa com tamanha comoção: “já fui convidada a expor o projeto nas Bahamas e no Havaí”, revela, no derradeiro fôlego do dia.

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Mesmo sem voz, Dominique abre os braços a quem queira entrar, na esperança de contagiar e dar asas a mais alguém, para que, livre, possa voar não seguindo as estações, mas os próprios anseios.

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