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As melhores rodas de samba do Brasil

Por
Manuela Stelzer
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Essa forma de celebrar a cultura e a coletividade está vivendo um momento incrível. Saiba o que está por trás dessa ascensão e veja nossas dicas de onde sambar em várias capitais.

Não é de hoje que as rodas de samba são o rolê de milhões de brasileiros, claro. Mas, ultimamente, elas ficaram ainda mais populares. Segundo Luiz Antonio Simas, essa é uma maneira de praticar a cidade e a vida numa instância coletiva que a gente tem perdido. Autor de O corpo encantado das ruas e, em parceria com Nei Lopes, Dicionário da história social do samba, o professor, historiador e compositor atribui a alta desse tipo de manifestação cultural ao contexto pós-pandemia. “Na história das rodas de samba, há uma relação profunda com a cultura de botequim, de rua, dos bares”, explica. “Cada vez mais, estamos vinculados a um cotidiano profundamente individualizado. E essa volta tem a ver com o redimensionamento da maneira como frequentamos a rua.”

As melhores rodas de samba do Brasil
Foto: Natalia Blauth / Unsplash

No Rio de Janeiro, cidade natal de Simas, e em muitas outras capitais, o samba tem se apresentado como uma opção de diversão e entretenimento, além de criar um complexo cultural intenso. “Na roda, você encontra uma tradição vinculada à culinária, à maneira como brincamos, amamos, nos vestimos, dançamos, rezamos, lamentamos a morte e celebramos a vida”, comenta o historiador. “Elas vão além do ritmo, e ainda trabalham a favor da diversidade.”

As melhores rodas de samba do Brasil

Samba de Rainha, em São Paulo; Samba Que Elas Querem e Roda Sambay, no Rio; Roda de Samba Mulheres de Itapuã, em Salvador, e Quilombo do Samba, em Belo Horizonte — não faltam grupos que, por meio do batuque, colocaram mulheres, pessoas negras e LGBTQIAPN+, entre outras comunidades, em evidência. “Uma boa roda de samba é isso: descontração, acolhimento, respeito e cerveja gelada”, define Erica Japa, percussionista do Samba de Rainha, grupo paulista que começou em casa, entre amigas que queriam fazer um som e se divertir. “É onde o público se mistura com a banda e a banda com o público, criando uma unidade de alegria e pertencimento”, completa.

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Foto: Natalia Blauth / Unsplash

Tamanha diversidade atraiu um público novo e igualmente variado à cena do samba. Luiz Antonio Simas explica que, de certa maneira, o gênero precisou vestir a carapuça de ter sido, durante muito tempo, machista e vinculado à presença majoritariamente masculina nas rodas. O que, a rigor, não corresponde à história profunda do samba, ligada às grandes tias baianas e às mães de santo do Rio. “A diversidade na roda é fundamental”, afirma. E não só ela: a altíssima qualidade musical é crucial. “Qualquer debate sobre samba não pode passar ao largo disso. Esse novo público que descobre as rodas também conhece uma musicalidade fascinante”, diz.

Do ponto de vista de quem gosta, entende e até estuda o ritmo, as rodas são papo sério. Segundo Simas, pra muita gente, o samba restaura o sentido da vida como uma experiência coletiva. Uma boa roda de samba, segundo o escritor, é um evento da cultura que tem fundamento, repertório consistente e, acima de tudo, integração. “É aquela que convida, na qual você interage na palma da mão, sambando, cantando.”

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Rio de Janeiro

Samba do TrabalhadorDesde 2005, as semanas cariocas começam bem, com Moacyr Luz e o Samba do Trabalhador no Clube Renascença, quilombo urbano em Andaraí. Até o embaixador da Coreia do Sul participou da folia, em abril deste ano.
Rua Barão de São Francisco, 54 — Andaraí; 2ª: 16h30-21h45

Bar do Omar — De quinta a domingo, o bairro do Santo Cristo ganha trilha sonora, com entrada gratuita, vista incrível e cardápio clássico de boteco — nos últimos dois anos, esteve entre os dez primeiros colocados no prêmio Comida di Buteco. Já passaram por lá: Jack Rocha, Batuque Suburbano, Roda de Sambar&Love, entre outros.
Rua Sara, 114 — Santo Cristo; 5ª e 6ª: 17h13-00h13, sáb e dom: 15h13-00h13

Samba Que Elas Querem — O grupo feminino já passou por Niterói, Cinelândia, Cosme Velho, Barra da Tijuca, Botafogo, Lapa e pela Casa The Summer Hunter, que rolou em janeiro. Eis a força da roda de samba de verdade, como bastante interação e cantoria conjunta.

Poeira Pura — Nascido em Madureira, na Zona Norte, tem papel importante dentro do movimento negro no samba, se aprofunda na ancestralidade e leva a sério o conceito de coletividade. No WhatsApp, oferecem comunidades pra trocas e avisos com público, e já lançaram um single, “Suor e Febre”.

Pedra do Sal Monumento histórico da cultura afro-brasileira, a Pedra do Sal é considerada um dos berços do samba. Puro suco de Rio de Janeiro, abriga rodas icônicas nos fins de semana e na segunda-feira. Pra se acabar de dançar e suar, de graça.
Rua Argemiro Bulcão – Centro; 6ª a 2ª: 18h

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São Paulo

Samba do Adilson — Comemorando um ano de existência em abril deste ano, foi criado “pra celebrar a família, as amizades, curar onde havia dor e recarregar as energias”. O batuque paulistano já passou por bairros como Vila Buarque, Barra Funda, Lapa, Vila Anglo, entre outros.

Dois-Dois — Espaço de fomento à cultura popular nos Campos Elíseos, leva a definição de roda ao pé da letra: no centro do galpão, um palco permite que os músicos fiquem rodeados pelo público. Já passaram por lá: Trio Gato Com Fome, Moacyr Luz, Dexter com Pagode da 27, Pagoterapia, Berço do Samba de São Matheus e outros.
Alameda Dino Bueno, 711 — Campos Elíseos; 4ª: 19h30-1h30, 6ª, sáb, dom: 20h-2h

Samba de Rainha — Há 20 anos, elas rodam São Paulo e se apresentam em eventos particulares, bares, festas, arenas e casas noturnas. Já lotaram os mais variados espaços na Vila Madalena, na Mooca, em Interlagos e até no terraço da Biblioteca Mário de Andrade, quando abriram a Jornada do Patrimônio de 2023, evento da Prefeitura de São Paulo.

Ó do Borogodó — O bar trava uma luta inédita: quer alcançar o tombamento por relevância cultural na capital. Stefania Gola, dona do espaço, diz que quer preservar o que acontece ali dentro — não deixar o samba morrer, claro.
Rua Horácio Lane, 21 — Pinheiros; 3ª: 21h-00h, 4ª e 5ª: 21h-02h, 6ª e sábado: 22h-03h, dom: 20h30-01h

Galpão Zona Norte — Na Vila Maria, na Zona Norte, o fervo é forte. O galpão recebe as mais diversas rodas, em datas e horários variados: Samba de Caboclo, Carica Sensação, Grupo Fundo de Quintal, Terreiro de Crioulo e muitos outros.
Rua Severa 212 — Vila Maria

Boteco da Dona Tati — Aos 68 anos, Dona Tati comanda um dos estabelecimentos paulistanos mais procurados por quem curte samba. Começou meio sem querer: com apresentações ao vivo na hora do almoço. Tinha forró, MPB, entre outros gêneros. Em 2017, uma roda pediu pra ensaiar no espaço e, desde então, o samba tomou conta do boteco, tanto que demandou um espaço maior e levou Dona Tati e o filho, que ajuda na direção do negócio, até a Barra Funda, onde o samba permanece vivo e o bar, sempre cheio.
Rua Conselheiro Brotero, 506 — Barra Funda; 4ª a 6ª: 17h-23h; sáb: 13h-23h; dom: 13h-21h

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Recife

Ôro Cozinha Garimpo — Todo domingo eles fazem tudo sempre igual: a partir das 13h, Mari’s do Samba e Ari Falcão juntam a galera pra tocar em um dos principais mercados públicos de Recife, com direito a caipirinha de cajá e feijoada. E tem gente importante por ali: Leyde Do Banjo é a primeira mulher a tocar banjo em Pernambuco.
Mercado da Encruzilhada — Encruzilhada; 3ª a 6ª e dom: 11h30-17h, sáb: 11h30-20h

Armazém do Campo — É mercado, é livraria, é bar, é delivery, é tudo junto. E o mais importante: tem samba nessa mistura. Há cinco anos no bairro Santo Antônio, o armazém já recebeu Maria Pagodinho, Grupo Black do Samba, Roda de Samba Batuqueiros do Engenho do Meio e outros, sem nunca deixar de praticar uma boa militância. Quando o mercado encerra as atividades, o samba entra em cena.
Avenida Martins de Barros, 387 — Santo Antônio; [Horário do mercado] 3ª a 6ª: 10h-17h, sáb: 06h-17h

Pagode do Didi — Fechado desde março por questões regulatórias do estabelecimento, o samba mais clássico de Recife está de volta: desde 1981, às sextas, há muito calor, música e encontros proporcionados pelo imperdível Pagode do Didi.
Rua Ulhôa Cintra, 43 – Santo Antônio; 6ª: 19h-01h

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Salvador

Bar A Marujada — Mais do que um bar: um espaço pra vivências soteropolitanas, que fica em um cantinho encantado no Centro Histórico. A cozinha funciona até às 00h, mas o samba segue firme com os inimigos do fim. As rodas que estão sempre por lá: Alacorin e Viola da Isa, dois sambas de terreiro, às quintas; e, às quartas, o Samba de Lua.
Rua do Passo, 37 — Carmo; 4ª a dom: a partir das 18h

Roda de Samba Mulheres de Itapuã Não é sempre que essa roda acontece, mas quando Amanda Quadros, Adalice Gonçalves, Meire ngela e outras musicistas se unem, pare tudo pra escutá-las. Começou como um movimento de resistência, e segue animando e resistindo dentro do samba.

Samba do São Lázaro É só chegar, qualquer sexta-feira, a partir das 20h, em frente à igreja de São Lázaro. O batuque por ali já é tradição. E dá pra escolher entre o Samba Crioulo Show, que toca dentro do Bar da Dilma (com entrada paga, entre R$ 8 e R$ 15), ou as rodas gratuitas que rolam na frente da igreja, como é o caso do grupo Oz Favoritos.
Ladeira de Xaponã — Federação

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Belo Horizonte

Bar do Cacá O que Cacá Santos faz há mais de 35 anos, no bairro São Paulo, é misturar público animado, alegria e muita música. De sexta a domingo, o espaço recebe diferentes rodas e musicistas, como Batuque Dagmar, Adriana Araújo e Grupo Tradicionalmente. E, ao longo do ano, datas como Dia de São Jorge (23/04), Dia da Abolição da Escravatura (13/05) e Dia Nacional do Samba (02/12) recebem uma atenção especial. Geralmente, às sextas e sábados, a casa abre às 19h e o samba começa 20h30. Aos domingos, o bar costuma começar a funcionar às 17h30 e o som chega às 19h.
Rua Andiroba, 20 — Bairro São Paulo

Três Preto Bar Se o Djonga recomendou, a gente segue. Definido pelo rapper como o lugar onde se encontra o samba mineiro raiz, o Três Preto Bar já recebeu rodas como Grupo Tradicionalmente, Criolo de Raiz, Raquel Moreira e Samba da Ju, geralmente aos sábados e domingos.
Avenida Pedro II, 3608 — Jardim Montanhês

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Curitiba

Quintal Maria Flor Vice-campeão do Comida di Buteco 2024, o Quintal Maria Flor é mais que um bar — é uma casa de samba. Serve feijoada aos sábados e, de sexta a domingo, não falta música ao vivo. Grupo Contradição, Tom da Cor e Trio Negreths são algumas rodas que já passaram pela casa.
Rua Holanda, 1089 ­­— Boa Vista; 6ª: 17h30-01h, sáb: 11h30-15h30, 17h30-01h, dom: 17h30-00h

Folia Bar e Cultura De quarta a domingo, rola música ao vivo. Caxambu, Marginálias e Triopicália são algumas rodas que estão sempre por lá. Aos domingos, a partir das 17h, acontece o Samba do Folia, uma roda à moda da casa pra fechar a semana com as energias renovadas.
Rua Jaime Reis, 320 — São Francisco; 4ª a dom

Crédito da imagem de abertura: iStock Photos