Ele já correu pra vencer. Hoje, prefere fazer as pessoas felizes.
Bicampeão do Xterra Brasil (2015-2017), o fluminense Márcio Souza é ultramaratonista e especialista em desafios extremos. Em 2016, quase quebrou o recorde mundial de maior distância em sete dias na esteira. “O esporte começou a entrar na minha vida vendo o Joaquim Cruz nas Olimpíadas pela televisão.” Ainda criança, em Niterói, se encantou com a velocidade na tela. Da TV pra pista, não demorou muito: entrou na escolinha de atletismo e logo se destacou entre os meninos da sua idade. Rápido no passo, abraçou a vida de atleta.

Mas, quando o sonho vira profissão, nem sempre a alegria acompanha o ritmo. “Treinava, dormia, acordava, treinava, viajava, competia, voltava pra casa e tudo de novo.” Ganhar, ele ganhou. Mas se perdeu de si mesmo. “Não era feliz, não tinha amigos do meu lado e meu relacionamento não estava dando certo, porque estava pensando só em mim, só em ganhar.”
Até que veio o baque. Em 2015, a depressão entrou pela porta que a solidão deixou aberta. Ele parou. Não quis mais saber de corrida. E ali, no meio do silêncio que tanto evitava, descobriu verdades que o foco na performance não permitia enxergar. “A partir do momento em que eu não era mais ninguém, não estava mais correndo, todo mundo sumiu da minha vida.”
Foi preciso perder a pista pra encontrar um novo rumo. “Eu tinha que buscar algo diferente pra ter mais alegria comigo mesmo”. Márcio aprendeu com o esporte que o atleta está sempre recomeçando. E ele recomeçou. Mas, dessa vez, deixou o cronômetro de lado pra correr no compasso da natureza, pra se conectar, pra lembrar que ninguém vence sozinho. “Não olho mais pro relógio, deixo o relógio ir no tempo dele. Você tem que deixar as coisas acontecerem.” O universo mostra o caminho, a floresta mostra o caminho, o silêncio também mostra o caminho. Márcio não quer ser lembrado por medalhas nem por recordes. “Um cara que tentou chegar em alguns lugares, passou por poucas e boas e está aí, vivendo.”

A história do Márcio é mais um episódio da websérie O que eu penso quando eu corro?, uma parceria entre The Summer Hunter e Netshoes. Ao longo de oito episódios, a gente corre junto com quem faz da corrida um maneira de recomeçar, se ouvir e entender o que realmente importa.