Vibes

De um simples quiosque de revistas, como a Banca do André se transformou no ponto de encontro mais legal do centro do RJ

Por
Bruno Dieguez
Em
16 março, 2020
Em parceria com
true

Feira literária, festas como a Xêpa, apresentações de jazz e rodas de samba só de mulheres são alguns dos rolés organizados na Banca do André semanalmente.

São poucos os lugares no mundo onde uma banca de revistas vira uma sensação boêmia e um caso de amor, tudo ao mesmo tempo. No meio da Cinelândia, o carioca André Breves viu o hype crescer ao seu redor nos últimos três anos, quando a banca que toca há uma década deixou de ser apenas um lugar para comprar revistas ou jornais para se transformar em café, bar e o ponto de encontro mais orgânico e simpático do Centro do Rio. Essa história ganhou ainda mais música e mais festa com a chegada da paraense Gabriela Sobral — na vida de André e no negócio. Gabe, como ele a chama, é, em suas palavras, outro turning point da Banca do André. 

O comerciante até tinha experiência no ramo quando assumiu o ponto de uma prima da ex-mulher, em 2009. Além de recepcionista, concierge e gerente de alguns hotéis da cidade, ele já trabalhara numa banca em Ipanema. Mas foi a primeira oportunidade de fazer um negócio do seu jeito. É notável a amabilidade com que André recebe, serve e sorri a qualquer pessoa que se aproxima. Sabe o nome de todos os clientes e aprende rápido o dos que chegam pela primeira vez. “A banca é um lugar de encontro. Você conhece as pessoas e acaba sabendo um pouco da vida de todo mundo”, diz André. “Isso dá certo porque gera uma sensação de pertencimento, cria um vínculo. É um patrimônio mesmo, de laços, encontros, afetividade. É o que faz a banca funcionar”, completa Gabriela, que desembarcou em terras fluminenses para viver esse amor que nasceu na Cinelândia. 

Noite de jazz com Guga Pellicciotti e convidados em frente à Banca do André | Foto: Guido Argel

Gabe morava em Brasília três anos atrás, quando começou a frequentar a banca instalada entre o Centro Cultural Justiça Federal e a Biblioteca Nacional. De tempos em tempos, ela vinha ao Rio para aulas do mestrado e acompanhava os colegas no cafezinho entre os estudos. Logo alguém recomendou o expresso e o pão de mel vendidos no ponto que eles diziam ser a “Banca do Amor”. E ali conheceu André. Trocaram contatos, começaram a conversar pelo telefone e voltaram a se encontrar pessoalmente no ano passado. Ela tinha voltado a morar no Pará e tocava um restaurante com o irmão na Ilha de Marajó. Mas se apaixonaram e Gabe fez as malas e se mudou para o Rio. Em outubro passado, já estavam casados e tocando juntos a programação cultural que agita as noites de quintas e sextas-feira na banca.

Fechada ao trânsito, na prática, a rua Pedro Lessa é uma praça ocupada durante o dia por senhores que vendem LPs antigos. Vira e mexe, eles encerravam o expediente tomando uma cerveja gelada ali mesmo, ouvindo música e batendo papo na frente da banca. Em maio de 2016, André fez uma pequena festa para celebrar seu aniversário, no mesmo dia em que Caetano Veloso fazia uma apresentação no Gustavo Capanema em protesto à ameaça da extinção do Ministério da Cultura. Lotou tanto que algumas pessoas desistiram de assistir ao show e se depararam com os festejos na Banca do André no caminho para o metrô. Não foram mais embora.

Anette Carla, Marara Kelly e Myra Mara da Festa Xêpa | Foto: Ana Wander Bastos

Outras comemorações passaram a rolar por ali. Encontros da Companhia Volante de teatro, rodas do Samba Que Elas Querem, Freeda Baile e outros rolés se tornaram frequentes. Alguns chegam a reunir mais de 2.000 pessoas. Com Gabe ajudando na organização, o fervo ganhou mais corpo e novas atrações. Já rolaram edições da Xêpa, com o melhor do brega do Norte e do Nordeste, uma feira literária com autores independentes e rodas de samba, choro e jazz. Cada estilo tem um músico fixo, que traz convidados a cada edição.

A primeira feira de publicações da Banca, em 2019, reuniu mais de 30 expositores | Foto: Divulgação

No fim da tarde vão chegando os amigos, quem sai do trabalho nos arredores da Cinelândia e um pessoal atraído pelo som e pela concentração de gente legal. André garante isopores com cerveja muito gelada, segurança, banheiros químicos e uma equipe de limpeza. “Tem uma coisa de contra-cultura, de ocupar a cidade e reagir ao momento de crise que o Rio está passando”, diz Gabe. “É um espaço para todo mundo”, completa o dono da Banca do Amor. 

Foto de abertura: Guido Argel

É nos botequins da cidade, entre os amigos reunidos em torno de copos de cerveja, petiscos e, com sorte, música boa, que mora a alma da boemia. O pessoal do dominó continua por lá, enquanto novos endereços pipocam pelas ruas do Brasil, provando que dá para se reinventar sem perder a tradição. A Bohemia gelada acompanha, mas o que importa mesmo são os encontros.
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