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Para ele querer é poder

Por
Eloá Orazem
Em
20 maio, 2016

Ele tem pressa para aprender e compartilhar, mas o que lhe falta em paciência, sobra em competência: Bruno Natal já não conta mais nos dedos, porque essa coisa de somar pouco a pouco não condiz com a realidade de quem aprendeu a conjugar a vida na primeira pessoa – do singular e, principalmente, do plural. Carioca da Zona Sul, Bruno foi criado ao ar livre diante do Redentor, cujos braços sempre abertos lhe inspiram a saudar o novo e o desconhecido com o respeito e a curiosidade de quem sabe que o mundo vai muito além do próprio quintal. Um dos homens na linha de frente do revolucionário Queremos!, uma plataforma digital que conecta fãs e artistas para promover shows, o jornalista e documentarista de 38 anos ainda têm fôlego para se dedicar ao seu primogênito URBe, site sobre música e cultura digital, sócio do Esquina Rádio Bar e a tantos outros projetos e hobbies que rolam simultaneamente e afinam ainda mais a linha tênue que separa o pessoal do profissional.

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Como é que essa sua empreitada digital começou?
A primeira pessoa que colocou um computador na minha frente foi a minha mãe, que é pesquisadora. Tive internet muito cedo por conta disso – tanto que, em 1991, 1992, eu já tinha e-mail. Não tinha para quem escrever ou de quem receber mensagens, mas o endereço eletrônico estava lá. Acho que o começo de toda a minha revolução tecnológica particular foi ali mesmo, dentro de casa.

Mas e a música, como entrou nessa história?
Não sei bem da onde veio esse interesse, pra falar a verdade. No prédio onde eu cresci havia uns meninos mais velhos que tinham uma banda, talvez seja mais por aí. Eu via eles tocando guitarra, eu gostava de camiseta de banda. Eu era o cara que descia pro playground com o som. No final de semana, descia pra piscina ou pra jogar bola e levava o som do meu quarto e botava na rádio ou umas fitas.

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E como é que o Urbe surgiu, então?
Por três meses eu trabalhei como produtor do então Jornal da MTV, e era um trabalho que eu verdadeiramente adorava, porque unia jornalismo e música – duas paixões minhas. Como era uma vaga temporária, não havia chance de renovação do contrato ou coisa do tipo, eu fiquei bem chateado, mas para não perder o contato com aquilo tudo, eu levei ao ar o URBe. Isso foi em 2003.

A MTV foi o seu primeiro emprego?
Não foi, não. Ainda na faculdade eu estagiei na Conspiração Filmes, uma das maiores produtoras do Brasil. Em 1999, 2000, eles deram início a uma área digital para produzir e alimentar sites. Lembro que tínhamos clientes grandes, como a Marisa Monte e a Xuxa – e foi justamente com essa segunda que eu trabalhei como responsável pela parte de vídeo. Eu tinha que fazer making off das gravações da Xuxa, então tava sempre ao lado dela. Não sabia quase nada de técnica, só o básico que um amigo da faculdade de jornalismo havia ensinado, mas a coisa começou a acontecer. Naquela época ninguém via filmes pela internet, porque a conexão era muito ruim, muito lenta, e, por isso, eu poderia fazer basicamente o que eu quisesse, porque ninguém iria ver. Imagina só: para assistir ao vídeo, era preciso baixar o arquivo! Bom, isso me deu muita liberdade pra experimentar. Aprendi muito com essa oportunidade e com todo o pessoal da Conspiração. Fiquei nesse posto por um ano e meio ou um pouco mais, mas me cansei. Pedi demissão e, meses depois, rolou a vaga na MTV.

MTV e URBe, saquei. E o site tá no ar há um tempão… Nunca deixou a peteca cair?
O URBe me abriu portas. Montei o site pra continuar em contato com as coisas que eu curtia, e comecei a escrever pra um monte de gente: Globo, Estadão, Jornal do Brasil, Revista da MTV, Folha e outros tantos veículos – inclusive publicações internacionais, como XLR8R e Urb. Mas apesar dos trabalhos e projetos paralelos, eu nunca deixei o URBe morrer, mas eu faço pra mim. Não me preocupo com views e audiência – uso o site como um depósito de ideias mesmo. Agora que as pessoas consomem informação pelo Facebook e o cenário é completamente diferente, é natural que sites e blogs percam um pouco da sua relevância como plataforma, mas, como eu disse, o vejo como uma coleção de coisas que eu gosto e que, por acaso, pode interessar a outras pessoas também.

Você nunca investiu pesado no site, então?
Bom, eu nunca o vi como um trabalho. Até tentei transformá-lo em alguma coisa maior quando eu me juntei a três pessoas para lançar O Esquema, que funcionou de 2008 a 2015. O portal era tocado por mim, pelo Alexandre Matias, de São Paulo, do Trabalho Sujo, o Arnaldo Branco, cartunista do Rio, e o Gustavo Mini, um publicitário de Porto Alegre. Na fase final, o portal contava com mais de 30 profissionais, só gente afiada, mas ninguém realmente trabalhava naquilo – não tínhamos nem departamento comercial. Com um milhão de page views mensais, ficou caro manter o site. Chegamos até a montar um projeto, mas a gente decidiu parar com O Esquema, porque tava todo mundo gastando dinheiro. Essa foi a única investida de verdade. Este ano, para o URBe, eu trouxe o Rodrigo Sampaio como colaborador. Passo pra ele os links todos que eu vou achando (e isso leva tempo), e ele vai editando, montando os posts e deixando pronto para que possa entrar no blog e apenas escrever. O Rodrigo também traz conteúdo e escreve alguns posts. Ele arrebenta!

Gente, e no meio disso tudo ainda rolou fazer o documentário Dub Echoes? Como é que rolou isso?
Em 2004, o Felipe Continentino, meu amigo e sócio, tinha uma amiga que dona de uma marca de surfwear feminina. Ela pediu ajuda para contextualizar a empresa e um outro amigo nosso, o Chicodub, deu a ideia de fazer uma coleção de Jamaica – como se vê pelo nome, o cara curte muito reggae. A gente ajudou a marca a desenhar a coleção toda, com as referências certas, e fomos fotografar o catálogo em Kingston. O Felipe fotografou, eu fiz o making of e o Chico fez a produção da viagem. Investimos a grana que ganhamos com esse trabalhando numa ideia que tínhamos há tempos: um documentário sobre dub, porque não tinha nada a respeito e era um negócio genial. Ficamos na Jamaica na cara e na coragem por mais uma semana, depois de passar meses na internet entrando em contato com as gravadoras e com as pessoas que a gente queria entrevistar. Foi assim meio na loucura mesmo: eu, Chico e Felipe com uma câmera na mão, andando Kingston inteira, entrevistando mó galera – gente que não dava entrevista há anos e que nunca tinha falado especificamente sobre o dub.

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Mas vocês ficaram apenas na Jamaica?
Eventualmente conseguimos o apoio da American Airlines e viajamos para os Estados Unidos e para a Inglaterra para gravar mais entrevistas. Rendeu um material muito legal. Eu ainda continuei filmando esse documentário por quase uns dois anos, porque vinha artista para o Brasil e, como eu não tinha verba nenhuma, dependia de amigo pra editar, amigo pra fazer arte… Por isso eu digo que o Dub Echoes foi o primeiro documentário que eu comecei, mas não o primeiro que eu terminei.

O primeiro concluído foi o do Chico Buarque, né? Como foi que você teve essa sorte toda?
Um outro sócio meu aqui no Queremos!, o Pedro Seiler, era produtor executivo na Biscoito Fino, gravadora do Chico Buarque na época. Quando soube que o Chico ia para o estúdio de novo, depois de oito anos, pedi ao Pedro que me colocasse lá, pra eu filmar o cara gravando. Detalhe: eu não sabia que ele nunca tinha sido filmado em estúdio, era só uma ideia – e que acabou rolando. O documentário ficou muito legal e repercutiu muito, mais que o próprio disco, de certa forma, por conta do registro. Foi a partir daí que a coisa começou a pegar profissionalmente. Fiz esse documentário do Chico e depois fiz o do Jota Quest, da Vanessa da Matta, um atrás do outro.

Foi tudo na base do boca a boca ou você que foi atrás dessas outras oportunidades?
O documentário do Chico repercutiu muito e aí o pessoal do Jota viu. Eles gostaram que eu era novo – tinha 27 anos na época –, e que eu tinha uma visão de fora da banda, que estava completando uma década. Eles me deram carta branca para que eu fizesse o que bem entendesse, e eu fiquei bem feliz com o resultado.

Tá, mas voltando ao Dub Echoes, quando foi que você o terminou, então?
Em 2008, mas o DVD saiu em 2009. E eu só concluí esse trabalho porque ganhei uma bolsa de estudos do British Council para fazer um mestrado em documentário em uma universidade da Inglaterra e eu queria viajar com o filme pronto. Para ter tudo em ordem, tive que tirar dinheiro do bolso e pagar (simbolicamente, é verdade) uma galera para uma força-tarefa. O trailer desse documentário começou a ser divulgado em um monte de lugar, inclusive na revista Wired e outros veículos que não necessariamente cobriam música. Por conta da repercussão, recebi um convite de um festival de documentários da Dinamarca, o CPH:DOX, para estrear o filme lá. Viajei para Londres em setembro e o festival era em outubro – tudo muito corrido. Depois disso, o filme rodou por um monte de festivais e eu consegui lançá-lo pelo cultuado selo inglês chamado Soul Jazz.

O que te atrai tanto no dub?
O som e a história toda de como surgiu, da falta de recurso, da genialidade dessa galera que deu outro uso aos equipamentos de estúdio e criou o que essencialmente é o remix: elaborar uma outra versão de uma coisa original, mas totalmente intuitivo. Vem tudo de uma paixão de reconhecer o pioneirismo da coisa. Vale lembrar que o dub surgiu no final da década de 60, então a galera tá velhinha, daqui a pouco não tem mais gente pra falar disso na primeira pessoa.

Quando voltou da Inglaterra não quis mais continuar nesse caminho de fazer documentários?
Quando voltei, as gravadoras tinham afundado: projeto que eu tinha R$ 60 mil para desenvolver com calma, caiu para R$ 5 mil – aqui estou falando de orçamento total, não sobre a minha participação. Tive que pular fora disso, porque não tinha mais sentido. Voltei a gravar o Chico em 2010, para o DVD Chico Bastidores, que tinha um conceito de vazamento proposital muito legal: quem comprava o CD na pré-venda ganhava um código para acessar o site e ouvir as músicas em primeira mão.

E, me conta: como é trabalhar com o Chico Buarque, um dos maiores artistas do País?
O chico é um cara muito tranquilo e o empresário dele é igualmente aberto. Na época, quando a gente levou a proposta, o empresário deixou certo que eu iria ao estúdio toda sexta-feira para filmar um pouco. Eu tava fissurado na coisa do cinema-verdade, do registro mais puro possível, que achava que só sexta não seria suficiente – queria mais material! Passei a frequentar o estúdio todos os dias, de segunda à sexta. Eu achava tudo aquilo surreal: saía nota no jornal, vazava gravação, todo mundo queria saber o que acontecia e eu lá dentro, vivendo tudo aquilo ao lado dele.

Ele censurou algo?
Ele não falou nada! Ele viu o corte e adorou, só fez um comentário sobre uma passagem, onde ele falava algo que talvez pudesse ser visto como indelicadeza com uma pessoa. Não era nada maldoso, mas poderia ser interpretado de uma de outra maneira. Mas nem por isso ele pediu ou exigiu nada, ele apenas mencionou essa passagem. Em momento algum ele pediu edição, mas aí eu assisti de novo e vi que aquele trecho não acrescentava nada à história, então eu tirei. Agora, o que eu não tinha noção era que o Chico veio de outra escola. Imagina: a primeira gravação foi em 2006, mas fazia oito anos que ele não pisava num estúdio. Ele não estava acostumado com aquela câmera pequena e nem sabia o que estava sendo registrado ali. Na segunda vez que a gente gravou ele já estava mais esperto. Mas ele não interferiu muito, apenas falava “ó, cuidado com isso”.

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Depois dessa primeira vez com o Chico, você entrou em estúdio com artistas mais novos, que têm noção de tudo. Alguém tentou te editar?
Não, porque eu não deixo. Não dou espaço pra isso, não. Quando eu fui chamado para fazer o do Jota, eles me explicaram o que eles queriam, que a minha visão de fora era a que ia valer – aí eu topei em fazer a coisa do meu jeito. Fiquei uns dois ou três meses com a banda, viajando para todos os shows, fui até pra Portugal. Eles me deram acesso total, foram superabertos. O único combinado era “no final a gente vê, se tiver alguma coisa a gente discute sobre elas”. Mas, no princípio, eles ficaram incomodados com o que viram, talvez porque era isso: uma visão externa, que não era deles. Levantou conflitos que acho que eles não queriam pensar a respeito, não sei… Mas o documentário saiu da forma que eu quis.

E como é que surgiu o Queremos!?
Depois que as gravadoras afundaram, eu estava fazendo umas festinhas, mas não eram uma fonte de renda propriamente dita. A ideia surgiu mais ou menos nessa época, porque eu e meus amigos soubemos que o Miike Snow tocaria em São Paulo, e a gente não queria viajar para ver mais um show. A gente descobriu que não precisava de uma grana obscena para trazer a banda ao Rio, então escrevemos um manifesto, Cansamos de Esperar, e encaminhamos a ideia para vários colegas e gente que poderia se interessar. Levantamos o dinheiro em menos de 48 horas. Isso foi o embrião do Queremos! – chamávamos esse levante de “cariocas empolgados”. Bem, as cem pessoas que bancaram o show viraram novecentas no dia do evento, que caía numa segunda-feira. O formato do show repercutiu tanto que a brincadeira virou coisa séria. Dois meses depois ofereceram Belle & Sebastian pra gente fazer com a nossa galera. Só que a questão não é só grana: tem a divulgação, o saber chegar na galera certa, entender como fazer o povo se interessar e participar… De qualquer forma, o Queremos! começou a tomar todo o meu tempo e eu não consegui filmar mais nada. A plataforma cresceu tanto que se internacionalizou: inauguramos a WeDemand! nos Estados Unidos, em Nova York, onde fica nosso escritório central. Nossa ideia é ser global.

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E o que você faz exatamente na Queremos!?
Sou o diretor criativo. A minha função é ter as ideias e o direcionamento da comunicação e de estratégias. Tenho outros sócios: o Pedro Seiler, diretor artístico; o Tiago Lins, CEO e responsável pelo financeiro; o Pedro Garcia, responsável pelo produto; e o Felipe Continentino, COO. O mais legal é pensar que todos somos amigos de faculdade, ainda que de cursos diferentes, é verdade.

Queremos! e WeDemand! são exatamente iguais, se diferenciando apenas no nome?
Nos Estados Unidos a gente não produz show, a gente é uma plataforma de relacionamento entre fã e artista pra ajudar na venda dos ingressos de uma maneira mais ampla e independente. Aqui a gente usa a ferramenta como promotor para produzir os nossos shows – e outros promotores já a usam também.

Vocês arbitram os shows levados ao site?
A gente não censura: se tem pedido, artista nenhum é impedido. Se a galera do sertanejo, do rock, do pagode ou de qualquer outro gênero se juntar, não tem problema nenhum usar a plataforma.

Qual foi o show mais grandioso que o Queremos! já produziu?
O do Chemical Brothers, no ano passado, que trouxe dez toneladas de equipamento. O engenheiro do Vivo Rio teve que assinar um documento autorizando o evento, porque tava tudo no limite da casa. O show foi o maior nome que a gente fez em termo de popularidade, mas não deu certo financeiramente, porque era muito caro e o dólar estourou no meio do processo e, cara, os ingressos já estavam caros, mas eles perderam o valor frente ao dólar. Foi uma operação que financeiramente não foi boa, mas o show foi demais.

E qual foi o show que você mais curtiu?
Vai parecer mentira, mas foi o show que menos teve gente, o do James Blake. Caiu um temporal no Rio e só trezentas pessoas apareceram, mas foi muuuuito foda. O cara colocou um setup extra, com subwoofer à beça, foi lindo. Esse e do LCD Soundsystem, que foi um dos primeiros do Queremos!. Era turnê de despedida dos cara.

Você é todo amante da música, mas toca alguma coisa?
Só toco violão, e sozinho em casa, não dá pra tocar na frente dos outros, não (risos). Fiz aula de guitarra e violão, mas não tenho a dedicação necessária. Não tenho paciência para aprender, eu quero pegar o negócio e já sair tocando – então eu desinteressei, só toco de brincadeira com meu filho.

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Você sempre teve seu gosto musical muito amplo ou isso aconteceu por conta do trabalho?
Um pouco dos dois. Eu nunca tive dessas de focar em um apenas gênero. Nunca tive fase de adolescente metaleiro, essas coisas. Tá, até tive um pouco, mas eu nunca me fechei pro resto do mundo. Eu via muito filme de surf quando era adolescente, então tinha muito som diferente, só não tinha eletrônico, que veio depois. Meus pais sempre ouviram muita música também. Na minha casa tinha muito vinil, mas aí chegou o CD e meus pais venderam todos, o que foi uma cagada, porque a coleção era excelente.

Como você descobria artistas alternativos numas época que tudo era muito “Top 10”?
Cara, na adolescência eu ouvia rádio e MTV, e, na época, tinha muita banda nova lá. Essas bandas me levaram para outras. Filme de surf era uma coisa que tinha uma trilha sonora muito legal – e na adolescência eu tive uma fase de pegar muita onda e só ver filme de surf. Sempre gostei muito de ir em shows e meu pai me levava nuns diferentes. Os amigos davam dicas valiosas também, além da minha irmã, que é mais velha que eu, e quem foi quem me apresentou o reggae e vários outros sons. Eu queria ir na casa das pessoas e saber o que elas ouviam. Sempre quando eu ia na casa de alguém a primeira coisa que eu fazia era olhar a coleção de discos.

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Você se decepcionou com o mercado fonográfico depois que passou a ver a realidade nua e crua nos bastidores, é?
Não me decepcionei porque acho que foi sempre assim. Talvez por pesquisar e conhecer mais eu tenha ficado mais chato e seletivo, mas tomo cuidado para não perder o encanto. Ultimamente tenho me deixado levar pela música apenas, ignorando os ruídos externos, porque eles não interferem e nem deveriam fazê-lo.

Ao mencionar diretores e documentários, você disse vários nomes e títulos dos Estados Unidos e da Europa. Acha que esse pólo é o berço criativo do mundo?
Não. O funk e a bossa nova nasceram aqui e pegaram no mundo todo. Por ser um país em desenvolvimento temos, naturalmente, menos recurso. Se um brasileiro for aos Estados Unidos e se destacar, ele vai ganhar bolsa, visto de entrada e eles vão tentar reter aquele talento. Eles têm dinheiro pra reter esses caras. Aqui é o oposto: tem pouca verba e infraestrutura pra reter as mentes criativas. É difícil criar e repercutir mundialmente, a gente precisa de ajuda financeira externa pra impulsionar isso. Acho que é mais isso do que uma questão de limitação criativa.

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E o que o Rio tem que é catalisador de talentos nacionais?
Eu acho que a cidade tá perdendo um disso; tem muita gente indo pra São Paulo por conta do mercado. Música, moda, cinema, fotografia… Produtoras de vídeo ficam por conta da locação, mas têm que buscar clientes em São Paulo. O miolo do Rio, a Zona Sul, tem cinco bairros, é muito pequeno. Tem essa rotina do ar livre, tem muito evento de graça. Qualquer coisa que você faça no Rio, você tá brigando com o Baixo Gávea, com a Lapa, com a São Salvador e outras opções ao ar livre. Cara, eu posso tomar cerveja ao ar livre, sem pagar entrada, com um monte de gente. Convença-me a fazer outra coisa! Parte dai, né?

Qual sua última descoberta musical?
Chicano Batman, uma banda de LA que ouvi no último South by Southwest, e gostei muito! Curto essa coisa com a pegada latina.

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Ô, Bruno, e a paternidade mudou muito?
Muda muito, né? Não tem jeito. Agora tem alguém que depende de você; tem alguém que você quer que esteja bem o tempo todo. E foi engraçado como a ficha caiu, quando eu me toquei que eu ia ser pai: minha ex-mulher me contou que estava grávida, aí, tempos depois, eu fui atravessar a rua ignorando o semáforo, e eu fui correndo meio que passando pelos carros. No meio da corridinha me deu um “cara, eu tenho que ficar atento ao que me acontece, essa vida não é só pra mim”. Mas é bom demais, eu curto muito ser pai. Você aprende muita coisa sobre você mesmo, e você quer melhorar. Ser pai te faz querer ir além.

Eu fico pensando em todas as revoluções que nós testemunhamos. Acha que seu filho vai vivenciar mais mudanças ainda?
Vai acontecer muita coisa, só não tenho noção do que vai ser. Em 2004 eu comprei o meu primeiro iPod e já na época eu pensava que chegaria um tempo que eu não precisaria colocar músicas no aparelho, e que nele caberiam “todas” as músicas do mundo. Pode ser que o que mude seja a forma de fazer música, talvez mais interativa, não sei. Só sei que meu filho, que está com 4 anos, já lê e escreve tudo e é viciado em Spotify – tem até a própria playlist dele. Ele já aprendeu a ir nos artistas relacionados e me mostra um monte de coisa. Ele gosta muito de punk rock e de metal. Ele é viciado em música, a gente compartilha esse amor. Meu pai deu a ele uma bateria e ele é todo ritmadinho. Ele tá indo pra esse lado… mas tomara que ele não vire músico.

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