People

Bruno Paschoal, da Santa Esther: um novo jeito de trabalhar no campo

Por
Fabiana Corrêa
Em
9 janeiro, 2019

Bruno Paschoal trocou uma vida bem urbana por uma casa de fazenda onde tudo acontece. E com isso inaugura uma “nova ruralidade”

Hoje em dia, quando volta para Berlim, cidade onde morou por dois anos e fez seu mestrado em políticas públicas, Bruno Paschoal já não tem mais tanta intimidade com todas as maravilhas urbanas da capital alemã. Apesar do lugar ter parecido um paraíso em alguma época, quando ele a a mulher, Barbara, levavam vidas bem diferentes, hoje tudo isso é um tanto estranho. Ainda que ele esteja passando uma temporada em São Paulo no momento (aproveitando para fazer exames e cuidando da vinda do segundo filho) e tenha nos recebido em um apê emprestado de amigos, a grama cercada de árvores centenárias da Fazenda Santa Esther, onde mora, em Amparo, a 120 km da metrópole, virou seu habitat há dois anos. “A gente se acostumou a viver em um outro tempo, com uma comunidade que se forma e de dissolve, fazendo tudo em outro ritmo, podendo tomar banho de cachoeira no fim da tarde”.

Nos últimos dois anos, a Santa Esther se transformou em um hub de ideias, encontros, negócios e inspiração ao começar a receber e a conceber eventos de tudo o que é tipo, desde que reúnam muita gente com bagagens diferentes. Uma espécie de escritório alternativo para profissionais autônomos, que se reúnem em seus workshops ou festivais, ou funcionários de empresas que usam a expertisse de Bruno e Barbara para criar maneiras novas de buscar inspiração e conexão, duas palavras que Bruno adora repetir. “Tivemos uma fase experimental onde aqui poderia ser tudo. Um ateliê para a Barbara, um lugar de residência artística, uma comunidade, como muitos de meus amigos sugeriram”, conta Bruno. “Mas hoje vemos que é um lugar onde as pessoas vêm para se conectar, criar, inspirar.”

O evento do Mesa e Cadeira que rolou na Santa Esther em 2018

O portfólio vem aumentando. O evento Saia pra Santa, que tem a quarta edição com duração de seis dias nesse mês de janeiro (vai até dia 12, domingo), é voltado para a arte e o bem-estar, promove encontros e incentiva a consciência corporal por meio de yoga, dança e movimento. O Esther é um festival mais tradicional, digamos assim, com shows, atividades para as crianças, workshop de grafite e por aí vai. Mas é o Coworking Camp, em que a gente esteve em abril do ano passado, na sua quarta edição, o mais inovador. Criado em parceria com a Onda, consultoria de inovação fundada por Bruno, Barbara e os amigos Caio Werneck e Juliana Costa (já desfeita), propõe uma nova forma de trabalhar e de unir esse trabalho ao bem-viver. Algo que Bruno já tinha percebido ser possível e que virou realidade quando se mudou para a fazenda.

Durante uma semana, os participantes do Coworking Camp podem usar internet rápida para trabalhar no meio do mato e fazer um break pra tomar um banho de cachoeira no fim de tarde. Ao longo do dia, rodas de conversa, workshops, palestras, práticas corporais. À noite, pocket shows na capela que faz parte da fazenda. E a comida maravilhosa feita por Barbara, que é dona da Cozinha Cósmica, de pratos veganos criativos. “Formamos essas comunidades durante um período específico e que depois se dissolvem. Alguns voltam, outros chegam de longe. E tem muita troca pois as pessoas se desconectam da correria para se conectar consigo, com a natureza e com os outros”.

Silêncio, paz e conexão rápida: Bruno no casarão principal da fazenda

As comunidades temporárias da Santa Esther também são formadas pelos voluntários estrangeiros que se inscrevem por redes como a WWOOF, que organizam hospedagem em troca de trabalho em ambientes rurais, mundo afora. “Viver aqui é solitário mas também há muitos momentos em que tem muita gente em torno.”

A ideia de adotar essa vida veio quando o casal chegou de Berlim, há três anos, e fez uma pausa da fazenda pra pensar o que fazer dali em diante. “Estávamos na piscina quando a tia da Barbara deu a ideia. Ela disse: muita gente trabalha anos na cidade para poder viver no campo quando fica mais velho. Vocês já podem fazer isso hoje’. E daí percebi que seria uma boa”.

A sugestão bateu com o que Bruno havia visto – e gostado – nas ecovilas que visitou na Bahia para uma pesquisa de trabalho. “Eu tinha ido para lugares no meio do nada e vi as pessoas com ocupações absolutamente urbanas, trabalhando com e-commerce ou consultoria. Foi inspirador”, lembra. Na Alemanha, um pouco antes, conheceu um espaço de coworking rural, o Coconat, a duas horas da capital, onde é possível se hospedar, levar os filhos, tomar banho no lago e passear no campo. Todas as ferramentas estavam ali na Fazenda, comprada por seu pai uma década antes e que já serviu para reuniões familiares ou festas de casamento. Bastava instalar a internet de fibra ótica e juntá-la à vontade de reunir gente em torno desse novo estilo de vida, ainda que por alguns dias. “Eu peguei todas aquelas ideias e trouxe isso para a Santa Esther. A história começou assim, quando eu percebi que, mesmo nos lugares mais distantes, dá pra trabalhar como se você estivesse na cidade. Aliás, eu diria bem melhor.”

Como se estivesse na cidade, sim. Mas parando para colher verduras na horta pela manhã, respondendo emails à tarde, sob a copa das árvores ou brincando na piscina com a filha no fim do “expediente”. Com tempo de sobra que seria gasto no trânsito, na fila de espera de um restaurante, dentro do metrô. Um jeito de viver a “nova ruralidade”, como ele diz. Rural, simples e, por isso mesmo, totalmente contemporâneo.

Bruno nos recebeu no apartamento de um amigo em São Paulo. | Foto: JP Faria

Foto de abertura: JP Faria

abandono-pagina
No Thanks