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Camila Ribeiro é uma bailarina carioca em busca do sol – em São Paulo e no mundo

Por
Mariana Weber
Em
8 outubro, 2019
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Camila é bailarina e vai onde o sol estiver. Mesmo assim, em 2009 ela trocou o Rio de Janeiro por São Paulo. Deixou a Cia. de Dança Deborah Colker pra integrar o Balé da Cidade de São Paulo. Hoje, divide seu tempo entre os palcos, as aulas de yoga e coreografias pra videoclipes. E segue em busca do sol — em São Paulo e no mundo.

Na prática diária de dança, Camila Ribeiro escolhe seu lugar na barra de balé de acordo com o sol. Ali, e em outros momentos do dia, ela busca sempre o espaço mais iluminado. Gosta dos janelões, das varandas, das praças, das mesas na calçada, das cangas estendidas na areia. Depois de sete anos na Companhia de Dança Deborah Colker, deixou o Rio de Janeiro pra dançar no Balé da Cidade de São Paulo. No começo, estranhou o clima, a solidão, a falta de mar. Mas, com o tempo, aprendeu a identificar e amar os cantinhos ensolarados paulistanos. Hoje, quando não encontra um, inventa. “Eu sigo o sol. Ele é fundamental no meu dia a dia”, diz a bailarina de 34 anos que acaba de se apresentar no espetáculo Um Jeito de Corpo, com músicas de Caetano Veloso como “Sampa” e “Joia”. “Gosto de transpirar. Assim me sinto quente, preparada pro que vier. Não consigo me imaginar num desses lugares com inverno o tempo inteiro e poucas horas de luz.”

Mesmo o inverno paulistano, quando Camila chegou, em 2009, foi um baque. “Eu era aquela carioca da praia, que ia pro balé de bicicleta, pela orla.” Alguns anos depois, em 2013, sofreu de síndrome do pânico. Sentia a cidade cinzenta. “Até a dança começou a perder um pouco da cor”. Por sugestão de um terapeuta, tentou a yoga — a contragosto. “Eu já tinha praticado no Rio, mas odiava aquela ideia de ficar cinco minutos parada numa posição”. Desta vez, deu certo. “Eu aprendi a me acalmar, a respirar. E assim ver que cada coisa tem seu tempo.”

O que era terapia virou profissão. Além das sete horas que passa no Balé da Cidade, ensaiando no andar da companhia no complexo Praça das Artes, no centro de São Paulo, Camila dá aulas de dança e de yoga. Também se apresenta e desenvolve coreografias pra desfiles, comerciais e clipes — como “Shazam Shazam Boom”, de As Bahias e a Cozinha Mineira.

Isso quando não está em turnê. Com a dança, já viajou pelo Brasil, pelas Américas, pela Europa, pela Ásia, pela Oceania. Está na estrada desde os 12 anos — idade em que fez a primeira viagem pra dançar, ao Paraguai. Filha de bailarina, tem aulas desde os 5 anos e dança pela casa desde sempre. Entre suas lembranças queridas, está a família toda pulando ao som de “Não Quero Dinheiro”, de Tim Maia (o pai também entrava na brincadeira).

“Nem sei o que seria de mim sem a dança”, diz Camila. “Com ela conheci lugares, pessoas e culturas que me transformaram. Tem também o reconhecimento emocional. Ela me desnuda completamente. Já me levou a lugares de exposição, de experimentação e de aceitação. No palco, você pode acertar e pode errar. Treina pra acertar, mas pode errar.”

Um erro nunca esquecido: “Eu estava começando, na Cia Jovem de Ballet do Rio de Janeiro. Dei um grand battement [como um grande chute], com sapatilha de ponta, e o pé de base escorregou. Caí de bunda no meio do espetáculo. Pareceu que o mundo parou, senti o rosto vermelho. Mas levantei e continuei. Fiquei um pouco triste depois, mas percebi que não foi tão ruim assim. Mudou uma chavinha em mim.”

Foto: Autumn Sonnichsen

Outra chavinha virou depois de conhecer a fotógrafa Autumn Sonnichsen — autora das fotos deste post. Elas se encontraram em 2016, quando Camila, cansada da rotina puxada, pensava em voltar ao Rio. “Eu sentia que precisava de praia. Tinha decidido que faria a mudança quando acabasse uma turnê pela Europa.”

Um dia, pra recuperar os músculos cansados, a bailarina mergulhou da cintura pra baixo num tonel com gelo. Fez foto e postou no Instagram. Autumn viu e mandou uma mensagem dizendo que gostaria de fotografá-la. Camila aceitou na hora. “Quando cheguei na casa dela, ela fez um café e pediu que eu dançasse no terraço”, lembra a bailarina. “Dancei uma hora sem parar. Foi uma catarse. Era um dia de sol, com uma brisa, a cidade de São Paulo aos meus pés e minha cabeça no céu. Tinha muito tempo que eu não me sentia desse jeito.”

Resolveu cancelar a mudança pro Rio. “Percebi que ainda tinha muito pra experimentar e viver em São Paulo”, diz. “E reconquistei meu amor pela dança. Ainda maior.”

Hoje, Camila tem uma varanda ensolarada num apartamento de Pinheiros. Se chove, recorre a artifícios pra se aquecer. Podem ser posições de ioga, pode ser uma trilha sonora vibrante (não sai dos seus ouvidos “Leve”, de Mahmundi — “Dá vontade de abrir a janela, de sair pela rua abraçando todo mundo e dizendo ‘Vai dar tudo certo!'”). Busca, enfim, um sol que é só dela. “Consegui trazer minhas raízes pra dentro da cidade. Hoje amo São Paulo. Criei aqui meu lugarzinho, meu templo.”

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