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Canastra e cia: onde o savoir-faire francês flerta com a simpatia carioca

Por
Bruno Dieguez
Em
23 abril, 2019

A história dos amigos Laurent Rinaldo, Vassia Tolstói e Gerard Giaume, que comandam de bermuda e bronzeado em dia os incensados bares e restaurantes Canastra, Le Pulê, Salomé Bistrô, Canastra Rosé e Iara Mar e Bar, no Rio

Esses franceses são cariocas demais. Laurent Rinaldo, Vassia Tolstói e Gerard Giaume comandam de bermuda e bronzeado em dia os incensados bares e restaurantes Canastra, Le Pulê, Salomé Bistrô, Canastra Rosé e Iara Mar e Bar. As cinco casas reúnem o melhor combo possível no Rio de Janeiro: comida e bebida de qualidade, gente bonita e alto astral casual chic. Os três sócios se conheceram no Brasil e encontraram na Cidade Maravilhosa o estilo de vida ideal para se divertir e fazer negócio.

Tudo começou em Ipanema com o Canastra, bar despretensioso que entrou em operação em 2015 em diminutos vinte metros quadrados na rua Jangadeiros. A ideia era simples, como toda genialidade: um boteco de vinho. Algo comum na França, este conceito foi elevado à máxima potência da descontração no #errejota. O espaço cresceu com os anos e virou point de uma turma que aprendeu a beber vinho na calçada e sem gastar os tubos.

O Canastra hoje ocupa uma área um pouco maior e em suas mesas e entornos abriga algumas dúzias de pessoas. Tem também um inferninho no subsolo, mas segue mesmo bombando com a fórmula de origem: rótulos de bom custo-benefício, queijos, embutidos e outras delícias servidas com sorrisos. O tom informal impera e é como se você estivesse na casa de amigos de longa data. Toda a atmosfera deixa o cliente à vontade, quase ao ponto de você se descalçar e cruzar as pernas numa espécie de sala de estar. Mas é um ponto comercial e ele funciona com atendimento eficiente e cortês.

Os sócios-amigos Laurent, Vavá e Gerard
A mesma lógica foi estendida anos depois ao Le Pulê, uma quadra distante na própria rua Jangadeiros. Diferente do Canastra, ele é um restaurante de fato e abre todos os dias para almoço e jantar. É a mais silenciosa das casas, sem perder o espírito central de oferecer uma experiência de comer e beber bem e numa boa. Este mood cresceu significativamente nos últimos tempos. Em quatro anos eles expandiram os domínios dos arredores da praça General Osório para conquistar também o Leme (o Salomé fica na avenida Atlântica, em frente à praia), Botafogo (o Canastra Rosé está na rua Álvaro Ramos, quase ao lado do bar-boate Bukowski e da recém agitada rua Fernandes Guimarães) e mais recentemente o Leblon (em janeiro abriu o Iara, no finalzinho da rua Dias Ferreira, junto ao Esch Café).

Um roteiro pelos cinco endereços permite conhecer um painel diverso e complementar sobre a atual vibe da boêmia da zona sul carioca. Nenhum deles é uma franquia do outro, não se trata de um grupo de estabelecimentos-irmãos. Talvez primos de primeiro grau. Uns mais próximos de outros, todos descaradamente da mesma família fanfarrã, daqueles que bebem juntos sempre que se encontram. Seja semana após semana, em aniversários, casamentos ou festas de fim de ano. Tudo gente boa e seguindo uma mesma linhagem-filosofia: o DNA da diversão que funciona, uma boa mistura do savoir-faire francês com a simpatia carioca.

Salão do Canastra Rosé, em Botafogo

Deu certo, não há dúvidas. E a razão talvez esteja no modus operandi dos sócios. São cinco no total: um carioca, uma francesa-americana e os três que mencionei na primeira linha. Conversei com eles para tentar entender o segredo do sucesso e percebi que não há nenhum grande mistério. É, no fim de tudo, bom senso misturado com bom gosto. E uma boa bagagem de histórias vividas em alguns cantos do mundo. Laurent nasceu em Marselha, Vassia (que todos só chamam de Vavá) em Paris e Gerard em Nice. Nunca se viram no país de origem, rodaram o planeta em diferentes profissões e, sorte nossa, reinventaram suas vidas por aqui.

Gerard, por exemplo, era fotógrafo de celebridades na França e chegou a fazer várias capas de revistas brasileiras do gênero quando se mudou para cá. Cansou do culto ao ego e abriu um primeiro restaurante no Leme com um ex-sócio que era mau-caráter e lhe roubou. Deu mais sorte com a galera nova que foi conhecendo e topou a aventura do Canastra porque o aluguel no início custava R$ 1.500 e só os três pagando pelas próprias bebidas já conseguiriam fechar a conta. Parecia destino: o futuro nasceu mesmo a partir de um lugar de encontro para beber.

Lagosta no Iara e Canastra Bar

“A gente é artesão”, contou Vavá, que atuava como fotógrafo de publicidade, é filho de um pescador e tataraneto do escritor russo Liev Tolstói. É de fato perceptível que há um cuidado especial na montagem e no funcionamento dos bares e restaurantes e que cada detalhe das cinco casas tem a mão deles. O jeito de vestir, falar e pensar dos três está em total harmonia tanto com a disposição dos ambientes, o mobiliário e as peças de decoração, como com os produtos que eles servem e a atitude não-uniformizada e elegante dos funcionários. Não existe ostentação ao redor, mas um olhar fotográfico que resvala em perfeitos encaixes de peças, espaços e pontos de luz. A rua invade e faz parte da vida dos cinco endereços; e vice-versa.

Laurent já era do ramo e teve bares na sua cidade natal e em St. Martin, no Caribe. No Rio achou a alegria e o lifestyle que faltava, fincou raízes. Adora a rotina solar da cidade, pratica boxe todos os dias e luta com afinco por novidades. Acabou de voltar de Itália e França, onde passou uma semana visitando pequenas vinícolas. A ideia é introduzir novos rótulos e criar uma espécie de selo de qualidade Canastra, uma curadoria de vinhos de alta qualidade e preços mais acessíveis. O apuro por produtos diferenciados também está na gastronomia, que eles acompanham de perto. Enquanto conversávamos, provamos e aprovamos novas sugestões do chefe para os cardápios sempre em experimentação.

Le Pulê

Abrir caminhos é uma tônica do grupo, mesmo que seja preciso nadar contra a corrente. Quando quase ninguém investia na segunda maior metrópole do país, apostaram e conseguiram crescer. Quase abriram também em São Paulo; fecharam um ponto ótimo em Pinheiros mas sentiram que ainda não era a hora de passar muito tempo fora do Rio para garantir a excelência do negócio em terras paulistanas. Em breve, talvez, arriscarão esse passo. Por ora, se ocupam dos domínios que alcançaram e testam um espaço para churrascos na praça General Osório, em frente ao Le Pulê. E tem mais notícia quentinha no forno. Está quase pronto o salão do segundo andar do Canastra Rosé que funcionava apenas como depósito e agora vai ter seu pé direito alto e decoração caprichada à disposição para receber eventos. E, como quem olha pro horizonte das praias cariocas, eles não descartam novos endereços pipocando qualquer dia desses aí.

Canastra Bar

Sócios que viraram amigos e não amigos que resolveram abrir um negócio juntos. A isso eles atribuem o crescimento saudável e sustentável da sociedade. Os laços que os unem foram criados conforme foram investindo nos bares, restaurantes e, por que não, na amizade. Esbarrar com pessoas de sintonia semelhante, curtir a companhia delas e tempos depois saber o que elas fazem para ganhar a vida é um movimento natural por essas bandas. “Aqui é assim, bem diferente da França, onde logo de cara já se pergunta o que você faz”, diz Gerard. Ele compara com a mistura que acontece nas praias da cidade, que os três adoram. Pois que eles sigam se inspirando no melhor do lifestyle local e o harmonizando com o tão francês saber viver e fazer acontecer. O Rio agradece.

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Foto de abertura: Gessica Hage | Seat By the Window

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