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Carloforte: na contramão da Sardenha

Por
Ricardo Moreno
Em
20 novembro, 2014

Parece consensual que a Sardenha seja sinônimo de praias concorridas, como as cravadas na Costa Esmeralda. Mas um pessoal mais relaxado começa a migrar para outra ilha, San Pietro, sete quilômetros a Sudoeste.

Antiga conhecida de fenícios, romanos e sardos, é menor, discreta e lá ainda se ouve o dialeto tabarchino – mistura de italiano com árabe. Isola de 50 quilômetros quadrados, tem apenas uma cidade de cerca de seis mil habitantes, a charmosa Carloforte.

Carloforte, Sardenha

Banhada pelo Mar Mediterrâneo e lambida pelo vento morno que vem do Saara, é um paraíso praticamente intocado num recorte geográfico surpreendente. Mas paga-se um preço para se chegar até lá: chama-se paciência. Você vai embarcar num voo doméstico até Cagliari, na Sardenha, seguido de um percurso de carro e de balsa.

A primeira impressão do pequeno centro justifica seu acesso difícil: as ruas são espremidas, há bandeirinhas coloridas e casas de dois andares geminadas. Os moradores mais antigos mantêm o costume de se sentar em frente às suas moradias para falar da vida alheia e dançar na praça nos fins de semana. Ali, todo o mundo se conhece. Não hesite, portanto, em perguntar onde fica a Casa di Sale, um dos mais charmosos resorts locais.

Carloforte, Sardenha

Fincado a cinco quilômetros do centro, conta com apenas três quartos com tamanhos entre 140 e 200 metros quadrados e varandas privativas. Feito de pedra e reboco natural, dispensa o uso de ar-condicionado, mesmo no verão.

Também não há televisão. Mas fique tranquilo: o resort dispõe de internet wifi, embora a conexão seja bastante lenta. O café da manhã é orgânico e uma cozinha aberta e superequipada fica à disposição para refeições. Vale a pena reservar uma tarde para comprar produtos nos mercados da cidade e preparar um jantar no hotel. Há também aulas de ioga e pacotes dedicados à meditação.

Carloforte, Sardenha

Os maiores atrativos, entretanto, são as praias, de pedra ou areia, com mar azul-turquesa ou verde-esmeralda. Há mais de uma dezena delas espalhadas numa costa de 18 quilômetros. São enseadas de águas calmíssimas, sem ondas ou fortes correntezas.

Se estiver com crianças, a dica são as de Guidi ou La Bobba. Elas têm fácil acesso, quiosques que fazem sucos e outros drinks servidos na areia fina. Se a onda é caminhar sobre pedras ou mergulhar do alto de rochedos – que ultrapassam os 10 metros de altura – e nadar rodeado de vida marinha, a La Conca, que se transforma numa piscina natural de profundidades variadas, é o destino. Porém, exige-se algum esforço e equilíbrio no sobe e desce das pedras, muitas vezes pontiagudas e deslizantes. Para os praticantes de surfe, windsurf e mergulho, a opção é a praia de Girin, repleta de cascalhos e conchas.

Carloforte, Sardenha

Ao Norte, do lado direito do Farol, a diversão é alugar um caiaque para duas pessoas e desvendar as grutas. O passeio não dura menos de três horas e faz os músculos dos braços e das costas trabalharem um bocado. Quando a fome apertar, bom saber que parte do atum consumido no exigente mercado japonês passa por San Pietro.

Carloforte, Sardenha

Você vai encontrar o peixe nos simples, porém bons, restaurantes de Carloforte. Um deles chama-se Ciapeletta: ponto de encontro de músicos, artistas e alguns turistas nos fins de tarde. Concentre-se nas entradas do cardápio e peça o pane carasau (uma massa finíssima e crocante típica da região) com carpaccio fresco e bottarga de atum (ova do peixe, extraída com sua membrana, salgada, pressionada e seca ao sol), vegetais e abacate. O sabor é indescritível e, como tudo por lá, será apreciado num cenário fascinante e com temperatura dos sonhos, já que – como é mandatório no verão do mediterrâneo – os termômetros raramente marcam menos de 20 graus, mesmo à noite. Resumo da ópera: com pouca plateia, são férias exclusivas e cada vez mais raras.

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