Educadora física e meia maratonista, a Atleta de Peso desafia estereótipos e defende a corrida como um direito de todos.
“Amor próprio é quando a gente entende que tem o direito de existir.” Ellen Valias corre por muitos motivos, mas talvez esse seja o principal: lembrar, a cada passada, que seu corpo tem lugar no mundo. E não só lugar — tem força e tem saúde, mesmo que queiram fazê-la acreditar o contrário.
Conhecida nas redes como Atleta de Peso, ela desafia um imaginário antigo: o de que corpos gordos não pertencem ao esporte. “Desde criança tive uma relação boa com o meu corpo. O problema é que ele incomodava os outros.” Foram anos tentando se moldar, caber e agradar os estereótipos. “Minha mãe insistiu muito pra eu fazer bariátrica. E eu fiz.” Depois do terceiro filho, o corpo voltou a ser o que era. “Foi quando entendi que meu corpo é esse. E tudo bem.”

A corrida entrou na sua vida mais ou menos nessa época. Começou devagar e foi correndo cada vez mais longe. Não pelo emagrecimento: correr, pra Ellen, virou forma de liberdade e de reivindicação, e ocupou um espaço muito maior do que um simples exercício físico.
Ela vai no próprio ritmo. Durante as corridas, pensa nos filhos e no quando quer inspirá-los: uma mãe que põe o tênis e corre de peito aberto, driblando os preconceitos e os medos. Lembra das vezes em que se sentiu diminuída, em vestiários, academias, consultórios, e transforma isso em resistência.
“Eles acham que estão te protegendo e acabam pressionando você pra emagrecer.” Ellen aprendeu, com o tempo, que essa pressão não é cuidado, e sim controle. E que amar o próprio corpo é também desobedecer certas expectativas.
Ela não corre pra se encaixar — corre pra expandir. Com o corpo em movimento, é o maior exemplo de que o amor próprio também se treina, e de que a gente tem o direito de se amar por inteiro, seja antes, durante ou depois da linha de chegada. “Meus filhos dizem: ‘obrigado por existir’. Isso, pra mim, é o maior elogio.”

É com a história da Ellen que chega mais um episódio da websérie O que eu penso quando eu corro?, uma parceria entre The Summer Hunter e Netshoes. Ao longo de oito episódios, a gente corre junto com quem faz da corrida uma forma de resistir, inspirar e ocupar espaço — com o corpo e a força que tem.