Descubra como a cozinha caipira da Paulistânia, marcada por pratos como feijão tropeiro e frango com quiabo, está sendo resgatada e valorizada. Um patrimônio cultural que conecta história, sabores e sustentabilidade no Brasil.
A cozinha caipira da Paulistânia é uma expressão autêntica do Brasil profundo. Rica em história e sabores, ela é marcada pela simplicidade e pela criatividade no uso de ingredientes locais, como o milho, que é a base de muitos pratos. Ainda pouco conhecida, essa tradição, que conecta passado e presente, está sendo resgatada por chefs e pesquisadores que destacam seu valor cultural, histórico e sustentável.

Paulistânia: o coração da cozinha caipira brasileira
A Paulistânia, região nomeada pelos portugueses, abrange áreas do Centro-Oeste (Goiás e Mato Grosso), Sudeste (Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo) e Sul (Paraná e Santa Catarina). É nesse território interiorano que nasceu a cozinha caipira, carregando influências dos povos indígenas, africanos e europeus.
O milho, estrela dessa culinária, é utilizado em receitas como pamonha, canjica, fubá e farinha de milho flocada. Ele também sustenta a criação de porcos e galinhas, formando a base de pratos como feijão tropeiro e frango com quiabo. Mais do que um ingrediente, o milho representa a conexão do homem com a terra e a economia rural.

A história e a alma da cozinha caipira
A cozinha caipira surgiu da escassez e da necessidade de usar recursos disponíveis de forma criativa. “A origem da cozinha caipira está ligada à pobreza, mas, simbolicamente, carrega uma enorme riqueza, que não está nos recursos materiais, mas na relevância histórica. Apesar disso, essa tradição tem sido esquecida nos centros urbanos. Por isso, o Lobozó busca resgatar essa cultura e trazê-la a São Paulo”, diz Gustavo Rodrigues, chef e coproprietário do restaurante Lobozó, ao lado de Marcelo Côrrea Bastos e do socíologo Carlos Alberto Dória.
Pra além dos ingredientes, essa culinária reflete o modo de vida de um Brasil interiorano, onde a simplicidade e os ciclos da natureza moldam os hábitos alimentares. A BBC descreve essa tradição como um testemunho das raízes agrárias do país, um resgate das origens do que significa ser brasileiro.


Chefs que resgatam a cozinha da Paulistânia
O resgate da cozinha caipira não é só um movimento cultural, mas também gastronômico. Restaurantes como o Lobozó, em São Paulo, estão trazendo essa tradição para o centro das discussões. Inspirado no livro A culinária caipira da Paulistânia: A história e as receitas de um modo antigo de comer, escrito por Dória e Bastos, o Lobozó reinterpreta receitas típicas, mantendo a essência e valorizando ingredientes regionais.
Além do Lobozó, chefs renomados como Jefferson Rueda (A Casa do Porco) e Alex Atala (com sua galinhada) têm incorporado influências caipiras em seus pratos. Como destaca Dória em reportagem da Gama, “esses chefs estão tirando a cozinha caipira da marginalidade gastronômica, trazendo-a para um patamar de respeito e valorização cultural”.

Sustentabilidade na cozinha caipira
Mais do que resgatar sabores, a cozinha caipira dialoga com questões contemporâneas, como a sustentabilidade. O uso de ingredientes locais e frescos promove uma alimentação saudável e reduz o impacto ambiental. Essa gastronomia também valoriza o artesanal, reforçando a importância de “descascar mais e desembalar menos”. Técnicas tradicionais, como o preparo de farinhas e carnes, preservam o conhecimento ancestral e promovem um estilo de vida mais conectado com a terra.

Por que valorizar a cozinha caipira da Paulistânia?
Resgatar a cozinha caipira é mais do que celebrar pratos deliciosos. É preservar histórias, práticas e saberes que moldaram o Brasil profundo. Cada receita carrega uma memória, uma conexão com as raízes e uma possibilidade de construir um futuro mais sustentável.
Na próxima vez que você saborear pratos como feijão tropeiro ou frango com quiabo, lembre-se: ali não está apenas o sabor, mas o legado de um Brasil que valoriza suas tradições e seu território.

Fotos: Tati Frison/Divulgação