People

Danilo Perelló e o Carnaval de um músico independente em (r)evolução

Por
Bruno Dieguez
Em
25 fevereiro, 2019

“Amor de Carnaval”, seu primeiro single lançado há poucas semanas nas plataformas digitais, celebra a folia mas também fala de memórias, amores e liberdade

“Quando encontrei você naquela noite, quase era carnaval”. O carioca Danilo Perelló começa assim a narrativa de Amor de Carnaval, seu primeiro single lançado há poucas semanas nas plataformas digitais de áudio e também como videoclipe. O momento é propício para celebrar a folia que se aproxima, sem dúvidas. Mas a música fala mais até dos ecos dessa época festiva do que dos dias de maratona de blocos de rua e desfiles de escolas de samba. É sobre a memória que fica, os amores platônicos e a sensação de liberdade que o espírito de Momo evoca na gente.

Danilo é meio assim também; um jovem com a energia habitual dos 26 anos mas longe de ser inconsequente. Formado jornalista pela PUC-Rio, chegou a trabalhar nos diários O Globo e Extra e por alguns anos fez diversas matérias para os cadernos de cultura. Em janeiro de 2016, foi forçado a bancar uma decisão que mudaria sua vida. Foi demitido em um dos passaralhos recorrentes da imprensa carioca e teve que optar entre continuar investindo na carreira de formação ou voltar sua atenção integralmente para a paixão pela música. Muitos hesitariam, ele não.

“Eu não tinha tempo. Sonhava com as pautas, me envolvia muito com o jornalismo e acabava não tocando tanto quanto eu gostaria. Ainda assim, gastava todo o meu salário em equipamento para gravar em casa e não usava aquilo. Talvez por isso eu não sentia tanto medo de ser mandado embora do jornal. Eu sabia exatamente o que ia fazer se fosse demitido”, diz.

Danilo Perelló
Fotos: Rafa Chlum

Esta certeza não nasceu com ele e foi construída aos poucos. O próprio apreço pela música foi quase ao acaso. Começou aos 10 anos graças ao pai, que sempre gostou de dar uma mãozinha aos conhecidos. “Lembro perfeitamente de estar indo com meu pai a uma locadora de vídeos e ouvir dele: ‘Se quiser fazer aula de violão, tem um amigo precisando de ajuda”, relembra Danilo. Foi assim que ele conheceu Ricardo Queiroz Silva, o Tatu, e passou a ter aulas uma vez por semana. Também aprendeu a tocar baixo e aos poucos estava conseguindo sozinho seguir as cifras que encontrava na internet.

Entre a adolescência e o início da vida adulta chegou a participar de algumas bandas. Primeiro a Hipérbole, que entre 2007 e 2009 atuava na cena independente de Cabo Frio, cidade praiana na Região dos Lagos fluminense de onde veio a família e para onde ia quase todo fim de semana. “A gente tocava de tudo. Até música bagaceira, mas em ritmo de punk rock. A gente abriu muito show da For Fun, que já era meio conhecida. Eu era guitarrista e só cantava uma música ou outra”, conta. Depois, já na época de faculdade, foi baixista e vocalista na banda 3×4.

Entender-se músico, de verdade, respeitar essa profissão e acreditar num futuro nela foi uma descoberta. Não repentina, mas catalisada pela experiência na oficina do palhaço e ator Marcio Libar, em janeiro de 2015. Danilo tenta explicar: “É algo realmente transformador, que só quem vive consegue entender. Você se entende muito ali e começa a tomar as rédeas da própria vida.” A tal oficina é um “game” que coloca os participantes em situações-limite consigo mesmo, uma espécie de hora da verdade com o espelho. Os organizadores não detalham o processo, mas dá para sacar algumas pistas no spin-off em forma de conta no Instagram @aceitaidiota_.

Seja efeito direto ou indireto do jogo, fato é que foi neste momento que Danilo começou a trabalhar mais seu lado artístico e perceber que estava o deixando muito de lado. Em paralelo à rotina no jornal, ele começou a estudar por conta própria. Fez canto na Escola Villa Lobos, uma das maiores referências no Rio. “Ali eu passei a exercitar um olhar mais atento sobre a minha voz. Trabalhei teoria e prática e conheci muitas pessoas interessantes.”, aponta Perelló.

Após a demissão, nos últimos três anos ele experimentou de tudo um pouco como artista que está começando. Foi dar aula de violão, procurou barzinho para tocar e deu canja em shows de amigos. E daí vieram diversos projetos, como o Tintim Baião, grupo vocal de MPB e samba, e o Duo Darín, que mantém com Guilherme Gonzalez e foca em sets acústicos de pop rock. O fato de não ter uma rotina tradicional de trabalho muitas vezes o incomoda e por isso Danilo fica o tempo todo tentando se manter ativo. Um exemplo foi o #umacançãopordia: 100 covers de 1 minuto postados diariamente no seu Instagram ao longo de quase quatro meses. A autocobrança permanente fica clara em todas as suas falas: “É difícil viver como músico independente. Ainda me banco com a ajuda dos meus pais, moro com eles e vou ganhando dinheiro aqui e ali. Financeiramente é foda. E emocionalmente não é fácil porque tem hora que as coisas não estão acontecendo. Tem momentos de alta e de baixa. O clipe agora é um bom exemplo de alta e aconteceu quase ao acaso.”

No último Réveillon, Danilo viajou com amigos para Nova Friburgo, na serra fluminense. Entre conhecidos de muitos anos e novas pessoas recém-apresentadas, resolveu mostrar a canção Amor de Carnaval, que fez com o parceiro Nelson Borges, também presente. Todos se encantaram com a melodia leve e a letra cheia de referências a vários blocos de rua e algumas escolas de samba. Ali nasceu a ideia de transformar aquela história em videoclipe e surgiu um grande mutirão colaborativo, tônica natural à maior parte das realizações da economia criativa. Em cinco semanas a trupe reuniu parceiros, mão de obra de várias áreas e com quase nenhum dinheiro produziu, gravou, editou e fez festa para lançar o produto final. A direção do clipe coube a mim. Sem quase nenhuma divulgação, eles já passaram de 13 mil visualizações entre YouTube e Facebook.

O próprio Danilo participou de muitas das etapas do processo, dando pitacos e colocando a mão na massa na produção, edição, arte, assessoria de imprensa e comunicação via redes sociais. Segundo ele, isso parece ser essencial para entrar no mercado da música que vive uma intensa transformação já há alguns anos. Tanto para os artistas que querem “apenas” tocar e cantar, como para quem, como ele, quer atuar também produzindo outros talentos. “Tem que jogar nas 11. Não se preocupar só com a música em si, mas cuidar de marketing, relacionamento, tudo. Fiz muitos cursos online. Outro dia assisti um vídeo em que o cara explicava como funcionava uma gravadora, eram, sei lá, uns 12 departamentos. Daí eu pensei: ‘tenho que ser uma gravadora inteira, fazer um pouco de cada coisa’. Às vezes eu me pergunto como eu seria se tivesse cursado faculdade de música e não jornalismo. Acho que ter feito comunicação foi ótimo para o músico que eu sou hoje. Penso em maquiagem, figurino, arte, marketing, audiovisual, em tudo o que está em torno das minhas criações”.

Danilo, entretanto, não se considera autossuficiente, longe disso. Para ele, conhecer pessoas e encontrar outros profissionais é fundamental. Tanto que ele organiza com Nelson e outros amigos e parceiros o Sarausco, um misto de sarau com churrasco que mensalmente recebe antigos e novos convidados para beber, confraternizar, tocar clássicos, mostrar composições, trocar ideias e articular parcerias. “A galera do samba faz muito isso. Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz encontram compositores deles bebendo por aí. Bossa Nova, Tropicália, Novos Baianos, tudo aconteceu assim”, comenta. “É preciso dar chance também à sorte, a essas oportunidades”.

É como se fosse uma busca eterna de não se sabe exatamente o quê. Pode ser o resgate de algo que já se viveu, tentar tornar real aquilo que foi idealizado, inventar algo inédito ou transformar a bagagem acumulada. “Quero ver você me encontrar” e “não quero ver o carnaval passar”, dizem os últimos versos da música. É o turbilhão que move Danilo e seu personagem Rêvo, o protagonista do clipe Amor de Carnaval. Um flâneur que paira pelas ruas da imaginação buscando sobreviver, se fortalecer e fazer a sua própria revolução.

P.S. Para quem for pular o Carnaval no Rio este ano, Danilo/Rêvo deve subir ao palco do bloco Boitatá, na Praça XV, no domingo de manhã, para cantar Amor de Carnaval. Para isso, está liderando uma vaquinha virtual no seu @danilo.perello_revo. Curtiu? Segue e ajuda.

abandono-pagina
No Thanks