Esse espaço que a gente tantoama já foi considerado o retrato do inferno. Aqui, a gente repassa a história da cultura praiana no mundo ocidental.
Povos originários mundo afora cultivaram uma relação saudável com a areia, o sal e a natureza em geral ao longo dos séculos. Mas encarar a praia como um destino de lazer estruturado, nos moldes de hoje em dia, é algo recente. Aqui, a gente conta essa história de amor e ódio, que tem tudo a ver com a relação turbulenta entre os europeus colonizadores e a praia ao longo dos séculos.
Outro olhar

É fato que a praia pode ser vista como um território inóspito, sobretudo quando não se sabe nadar e sem o advento do protetor solar. E a literatura não ajudava. Na Bíblia, vem do mar a enchente do fim do mundo. Na mitologia grega, seres monstruosos emergem das profundezas. No Inferno de Dante, um dos cantos tem chão de areia!
“Desde a Antiguidade até o século 18, a praia despertava medo e ansiedade na imaginação popular. A paisagem costeira era sinônimo de um deserto perigoso; era onde naufrágios e desastres naturais ocorriam.”
Daniela Blei, historiadora, em artigo pra Smithsonian Magazine
Longe da água

Não foi à toa que cidades costeiras europeias, a exemplo de Barcelona e Atenas, se desenvolveram longe do mar, protegidas dos inimigos e dos perigos marinhos. Filósofos do Império Romano descreveram o oceano como “uma força insociável que mantinha os homens separados”.
Perigo no horizonte


Autor de The Lure of the Sea: The Discovery of the Seaside in the Western World, 1750-1840, Alain Corbin explicou ao The Washington Post que é só lá pelo século 17 que o mar começa a aparecer de um jeito mais solar na poesia francesa e nas pinturas da escola holandesa.
Receita médica

A virada veio entre os séculos 18 e 19, quando médicos europeus, principalmente britânicos, passaram a recomendar banhos de mar como tratamento. Com o tempo, surgiram casas de banho elegantes em balneários como Biarritz, na França, e San Sebastián, na Espanha, que caíram nas graças da aristocracia. Foi aí que hypou.

A popularização da praia no Brasil seguiu um caminho parecido. A teoria mais aceita é a de que, infestado de carrapatos, Dom João VI inaugurou os banhos de mar no Rio de Janeiro em 1810, carregado por escravos.
“Em pouco tempo, as feridas estavam aliviadas e o rei não precisou mais ir à praia. E, como tudo o que a realeza fazia era seguido pelos súditos, o hábito de tomar banhos de mar pegou entre a população da cidade, sendo o pontapé inicial para a ocupação do vasto litoral brasileiro pro lazer.”
Trecho de reportagem de Marcus Lopes na Aventuras na História
Crédito da imagem de abertura: Holger H. Jerichau, 1900