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Desert X: fomos a uma exposição de arte no deserto da Califórnia

Por
Ricardo Moreno
Em
15 março, 2017

Há quem goste de provocar afirmando que artistas contemporâneos primeiro realizam suas ideias para, só depois, dar um sentido (ou uma explicação plausível) para elas. Em cartaz, ou melhor, espalhada pelo deserto de Coachella Valley até o dia 30 de abril, a mostra Desert X reúne 16 artistas que criaram instalações especialmente para o local – no caso, uma extensa área de quase 70 quilômetros, que vai de Palm Springs a Salton Sea, no sul da Califórnia. É preciso dois dias e um veículo motorizado para se desfrutar com tempo todas as obras. Não há um comprometimento com o calendário, de modo que a próxima edição pode ocorrer daqui poucos ou muitos anos.

O protagonista é o deserto. “Há muito tempo que ele [o deserto] exerce fascínio sobre as mentes de artistas, arquitetos, músicos, escritores e outros exploradores de paisagens e da alma”, diz o curador Neville Wakefield. “Trata-se de um lugar de escassez, de contrastes rígidos, de sobrevivência bruta, mistério e transformação.” Nas palavras do escritor Honoré de Balzac, “O deserto é Deus sem os homens”.

“The Circle of Land and Sky”, Philip K Smith III. Fotos: Lance Gerber

Conhecido pelo instigante Sonic Pavillion no Instituto Inhotim, em Minas Gerais, o californiano Doug Aitken criou uma das obras mais impactantes da coletiva. E também uma das mais, digamos, instagramáveis. Chamada Mirage, consiste em uma casa de campo cuja estrutura, das paredes ao telhado, é feita de espelhos.

Poderia muito bem se chamar Selfie House. E usar como discurso o egocentrismo e como as pessoas, hoje em dia, esforçam-se para fazerem de si mesmas o centro das atenções, independente do entorno. A ideia original, no entanto, é um pouco mais mundana: se camuflar no entorno desértico, refletindo cânions e o céu azul durante o dia e as estrelas ao cair da noite.

“Mirage”, Doug Aitken

Curves and Zigzags”, Claudia Comte

Também californiano, Phillip K Smith III segue linha parecida. Levou até o deserto uma variação de uma de suas mais famosas criações. “The Circle of Land and Sky” é formada por 300 ‘postes’ espelhados e dispostos quase que paralelamente a um ângulo exato de 10 graus, causando uma ilusão de ótica de modo que a parte de cima da peça reflita a terra enquanto a inferior reproduza o céu.

“hEART”, Lita Albuquerque

A artista e também ativista ambiental Lita Albuquerque ocupa o labiríntico e idílico Annenberg Retreats, no Sunnylands Center & Gardens, com a performance “hEART”, cujo conceito gira em torno da relação do corpo e do espaço.

Visto de longe, “Curves and Zigzags”, da suíça Claudia Comte, nada mais é que um muro com 30 metros de largura por 3 de altura aos pés das trilhas de Palm Desert. Mais de perto, no entanto, revela uma incrível ilusão de ótica sob a sua superfície: contempla uma série de linhas que começam em formato ondular e terminam, no outro extremo, como um zigue-zague totalmente irregular.

“One I Call”, Sherin Guirguis

Há, ainda, obras de Jennifer Bolande, Will Boone, Jeffrey Gibson, Sherin Guirguis, Norma Jeane, Glenn Kaino, Gabriel Kuri, Armando Lerma, Richard Prince, Rob Pruitt, Julião Sarmento e Tavares Strachan.

Em tempo: aos fãs de música, o Coachella Valley Music and Arts Festival ocorre na mesma região nos fins de semana de 14 a 16 e 21 a 23 de abril com apresentações de Radiohead, Lady Gaga, Kendrick Lamar, The XX, Bon Iver, Lorde e muito mais.

“The Third Place 2017”, Richard Prince

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