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O que motivou Lia Dieguez a trocar Berlim e o cinema por uma cozinha em Picinguaba

Por
Ricardo Moreno

Ela deixou um trabalho com o cineasta Karim Aïnouz na capital alemã para cozinhar na pousada mais charmosa de Picinguaba, no litoral norte de São Paulo.

Berlim é considerada uma das cidades mais criativas e cosmopolitas do mundo. Respirar o denso ar alemão, de uma história repleta de altos e baixos, é o sonho de muita gente. O que todo mundo esquece de dizer é que essa Berlim dos sonhos tem duração curta: dois meses por ano, entre julho e agosto, no auge do seu verão. Passada a melhor estação, a terra natal de gente como a atriz Marlene Dietrich, a banda Rammstein e o pintor Lucian Freud é fria, monótona, triste, blasé. E para quem gosta de sol e praia o ano inteiro, ainda não inventaram lugar no mundo melhor do que o Brasil — e aí não tem Liepnitzsee ou qualquer outro lago ou comunidade criativa que te convença do contrário. Em tempos de pandemia, então, nossos mais de 7 mil quilômetros de costa são um presente que pode ser alcançado numa curta viagem de carro.

A cozinheira Lia Dieguez: de Berlim a Picinguaba | Foto: divulgação

A paulistana Lia Dieguez que o diga. Ex-editora de livros, ela se mudou para Berlim no início de 2017. Logo estava trabalhando com o cineasta cearense radicado na cidade, Karim Aïnouz. Como assistente de produção, participou da equipe do longa de ficção “A Vida Invisível” e do documentário “THF: Aeroporto Central”. Não foi o suficiente. Em uma das visitas ao Brasil, no começo do ano passado, Lia decidiu que viver sob o sol não tinha preço. “Eu não aguentava mais o frio, os dias cinzentos, sentia falta da brasilidade”, me contou. “Era verão e eu tinha vindo passar férias na Bahia. Decidi não voltar mais”. 

Cozinheira diletante, com passagem pelo extinto restaurante Capivara, na Barra Funda, em São Paulo, Lia encontrou na mais gostosa e exclusiva pousada do litoral norte de São Paulo, em Picinguaba, a 270 km da capital, seus novos trabalho e morada. Chegou em dezembro do ano passado e, três meses depois, por causa da pandemia, a Pousada Picinguaba fechou e ela se isolou na casa que havia alugado. Um mês atrás, com a flexibilização, a Pousada, com diária a partir de R$ 1.680 (com café da manhã e jantar para 2 pessoas incluídos), voltou a receber hóspedes com novos protocolos de segurança e serviços adaptados. E Lia a colocar em prática seu novo estilo de vida. “Fora a oportunidade de comandar uma cozinha pela primeira vez, estava precisando mudar de ares: sair da cidade, levar uma vida mais saudável e passar mais tempo sozinha”, disse.


Vista do mar e da Praia da Fazenda ao fundo; acima, yoga no deck da piscina com vista para a mesma baía | Fotos: Ricardo Moreno

Fundada em 2001 pelo francês Emmanuel Rengade, a Pousada Picinguaba é uma jóia encravada no meio da Mata Atlântica, a poucos minutos de uma trilha que desemboca no vilarejo e na praia em frente. Em tempo: Emmanuel também é o nome por trás da igualmente charmosa Fazenda Catuçaba, em São Luís de Paraitinga, subindo a serra. Aqui em Picinguaba, a pousada ocupada uma casa colonial cujos nove quartos são decorados com esmero, num balanço entre o simples e o elegante difícil de se alcançar quando muito planejado. Das janelas azul e branca, vê-se no horizonte o mar e a deserta Praia da Fazenda e seus 3 km de extensão — a pousada disponibiliza stand-up paddle para você fazer essa travessia. Da piscina tem-se essa mesma vista para quem planeja dias mais preguiçosos. O silêncio é interrompido somente pelo assobio do vento entre as árvores e as “discussões” entre tucanos e maritacas.

Lagostins com cuscuz de camomila, um dos carros-chefe da Pousada Picinguaba | Foto: divulgação

E da cozinha de Lia, que desde junho também acumula a função de gerente da pousada, saem receitas que variam de acordo com a disponibilidade dos insumos, todos autóctones — alguns deles, como as verduras, os queijos, o leite e até a cachaça, vêm da Fazenda Catuçaba. Já os suculentos lagostins, servidos com cebola e cuscuz com molho da cabeça do próprio crustáceo e camomila, são capturados ali mesmo em Picinguaba. Outra delícia, essa ainda inédita: o camarão à moda vietnamita, que vem sendo desenvolvido há 8 meses e volta e meia surge no cardápio, ainda em esquema não-oficial. Tudo vai depender da maré e da sorte: sua e dos pescadores.

pousadapicinguaba.com.br
catucaba.com

Fachada da Pousada Picinguaba, detalhe do quarto e rede com vista para o mar: elegantemente simples | Fotos: divulgação

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