Fundador da Beleaf, startup de delivery de comida plant-based, Jônatas Mesquita deixou São Paulo no meio da pandemia para viver no litoral baiano sem prazo para voltar.
Há dez anos vivendo em São Paulo, o mato-grossense Jônatas Mesquita, 29 anos, já havia se adaptado bem ao estilo de vida que a maior cidade da América do Sul propõe, mas não conseguiu suportar a sua versão pandêmica. “Para você ser saudável no lifestyle do paulistano na pandemia tem que ir contra a maré: a alimentação é muito baseada em aplicativos e em muita tranqueira. É difícil manter uma dieta frugal que acredito ser a que faz mais bem à saúde”, diz, com a propriedade de quem é Chief Marketing Officer (CMO) e um dos fundadores da Beleaf, startup de delivery de comida plant-based. “Passei por uma fase trash. Era muito trabalho e pizza, o que foi me deixando ansioso e estressado. Sou uma pessoa muito ativa, enérgica, e a impossibilidade de praticar esportes acentuou a minha saturação”, conta.

Para piorar, o único feixe de sol que entrava em seu apartamento de 40 metros quadrados, e amenizava a falta de vitamina D de meses de quarentena, foi ofuscado pela construção de dois prédios ao redor do seu. O barulho das obras, no entanto, atingiu sua casa em cheio. Depois de meses flertando com a ideia, em uma noite de muito vinho, comprou uma passagem para outubro, sem volta, com destino a Itacaré, no litoral da Bahia, que já tinha lhe encantado durante um mochilão feito em 2019. “Não sou tão bicho do mato, então, não queria uma coisa tão inóspita; valorizo uma infraestrutura básica e aqui tem bastante restaurante de cozinha natural e uma internet boa. Também levei em consideração a parte da natureza, que é espetacular. Tem muitas praias e cachoeiras lindas, além de um pôr do sol dos mais bonitos que já vi”, diz o empreendedor. Seu lugar preferido na região é a Prainha, que costuma figurar nas listas de praias mais bonitas do Brasil. Ela é acessada por uma trilha de quase uma hora partindo da praia da Ribeira. “Ao chegar lá você se depara com uma orla espetacular de coqueiros e um mar dos mais azuis, onde não é raro ver tartarugas nadando. Coisa de cinema!”, diz.
Junto a um amigo conhecido nas primeiras semanas em Itacaré, Jônatas foi morar em um casarão no centro da cidade, com piscina na área interna, mirante no terceiro andar e uma internet ok. A mudança seguinte foi em seu relógio biológico. Se na capital paulista o normal era se deitar às 3h da manhã e acordar às 9h, agora tem ido dormir às 10h da noite e às 6h já está de pé. Como o sol desponta mais cedo em terras baianas, tem aproveitado para fazer aulas de surf antes de começar o expediente, o que tem colaborado para que se sinta mais disposto e melhor fisicamente e mentalmente — e para a diversão dos colegas de trabalho, que tiram sarro do estado de seu bronzeado a cada reunião por vídeo.

“Vir pra cá não mudou tanto o meu rendimento no trabalho. Sigo na mesma intensidade e com igual empenho mesmo porque, como o negócio é meu, não tenho muita opção; ou vai, ou vai. Só que eu trabalho mais feliz, e isso é muito legal”, diz. “Os problemas ainda aparecem, mas a vida segue linda”, reflete. O que também mudou foi sua forma de enxergar o trabalho. “Eu era extremamente workaholic — trabalhei todo final de semana durante os últimos quatro anos. Aqui, dedico duas horas no sábado ou no domingo somente quando é realmente necessário. Tirei os finais de semana para descansar e aproveitar a cidade, e isso tem sido muito positivo. Eu considerava o meu trabalho a minha vida. Agora, o vejo como uma parte dela.”