Vibes

Em Los Angeles, ser pobre dá um puta trabalho

Por
Eloa Orazem
Em
13 agosto, 2015

Tinha espaço para uma escola de samba inteira desfilar (com direito a área de recuo da bateria e tudo), mas o bração que pilotava o Lexus novinho, duas portas, não conseguiu fazer a baliza entre a Cherokee capenga e o Honda Civic velho de guerra.

O cara até insistiu: foram duas tentativas antes de jogar a toalha – ou de se envergonhar diante do meu olhar de reprovação. Deixou o vai e vem para alguém como eu, duranga e desesperada, e comprou o seu conforto num estacionamento pago, no quarteirão seguinte.

Ser pobre não é para amadores, minha gente. E se não aguenta, pede pra sair (brinks, eu mesma já pedi pra sair mil vezes e continuo aqui, como prova viva de que não funciona). Ninguém foge de graça da rua da amargura, lugar bem mais casca grossa que o BOPE.

A primeira coisa que a gente aprende quando não tem grana é que não se deve desperdiçar nada, e que reciclar a cara de pau é uma das melhores alternativas para se fazer um bom negócio.

Deixei uma confortável vida brasileira para me lançar na guerra americana da sobrevivência. Trocar de país é tipo voltar pro final da fila, sabe? É a vida dando um peteleco naquele castelinho de cartas que você levou anos para construir.

Mas eu não me arrependo, e sei que o processo leva tempo e muita disciplina. Existe toda uma ditadura em ser pobre que as pessoas não fazem ideia.

Você deixa de almoçar às 13h, por exemplo, e se educa a ter fome só lá pelas 15h, para aproveitar o horário de Happy Hour dos restaurantes, onde diversos pratos e drinques são vendidos pela metade do preço. Aí você aproveita a o desconto e come o suficiente pra não ter fome no jantar também! Heheh

Só recomendo guardar um pouco do apetite nas noites de terça, porque é Taco Tuesday e casas mexicanas vendem tacos a um doleta. Pode comer a vontade e ainda levar uns pra casa.

eloa5

Às quintas rola a Thirsty Thursday, então se organiza pra convidar @s gatinh@s do Tinder pra sair nesse dia, que dá pra afogar as mágoas sem declarar falência.

Cinema também é caro, mas sai pela metade do preço se você for em horários alternativos, tipo 10 am. Então, ó, quando você acordar com aquela larica brava e tá totalmente sem grana para o tradicional brunch, invista em um bom filme que o distraia da fome – e que, de quebra, ainda te deixa por dentro das novidades do mundo da sétima arte, pra você poder pagar de cult no meio da galera.

eloa3

Aos sábados não tem pra onde correr. Quer dizer, tem sim: pra lavanderia, onde você vai gastar suas últimas moedinhas lavando os lenços para chorar em paz (e higiene) pelo resto da semana.

Para não dizer que o fim de semana é uma desgraça para todo pobre, vale lembrar que aos domingos, a partir das 18h, alguns boliches fazem caridade e vendem uma hora do jogo por cerca de 3 dólares por pessoa. Uma pechincha!

Nos demais dias da semana, seja legal com aquele seu amigo dono de uma conta no Netflix e devore o catálogo de filmes e séries da empresa. Eu já zerei até Meu Pequeno Pônei e agora tô atrás de uma amizade sincera com alguém que seja membro do Hulu <3

Entre um episódio e outro, a gente segue fuçando o Craigslist pra ver se abocanha outro frila que nos garanta os tacos de terça e o boliche de domingo.

Ser pobre dá um puta trabalho.

abandono-pagina
No Thanks