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Alma gringa em pele bronzeada: o lado brazuca de Dimitri Mussard

Por
Fabiana Corrêa
Em
7 julho, 2016

O nome dele é Dimitri Mussard, mas poderia ser Dimitri do Brasil. Assim como sua empresa, a Acaju do Brasil, uma consultoria e loja multimarcas que descobre grifes alternativas e descoladíssimas mundo afora e traz para cá. É que, apesar do sobrenome estrangeiro, do sotaque gringo e dos olhos azuis, esse francês fez do nosso país sua casa e adotou o bronzeado como estilo de vida. Seja nas areias da Barra do Sahy, no litoral paulista, ou em qualquer outro lugar onde o sol esteja batendo sem dó. Diga-se de passagem, ele conhece nossa terra melhor que muitos locais. De mochila, viajou de Florianópolis à Chapada Diamantina, dos Lençóis Maranhenses ao Rio de Janeiro. Em uma dessas, virou fã de açaí, sabor que trouxe para o cardápio de sua sorveteria, a DriDri, aberta em conjunto com o amigo Nicolas, que conheceu em um internato na França e com quem compartilha gargalhadas diárias durante o expediente. Até Rondônia ele visitou, só para ver de perto quem fornecia a madeira usada na construção da sua casa de campo, em Catuçaba, interior de São Paulo, seu novo refúgio, bem no meio do mato. “A casa é linda, mas foi pensada para que a gente curtisse o lado de fora, onde está o mais bonito de tudo: a natureza brasileira”.

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Você chegou faz cinco anos e está cheio de projetos por aqui. Como nasceu essa sintonia com o Brasil?
Eu 2007, eu trabalhava em Londres, no mercado financeiro, e ganhava um bom salário. Então juntei uma grana, pedi demissão e resolvi passar um ano viajando. Minha primeira parada foi o Brasil: cheguei no Rio em pleno Carnaval sem hotel, sem nada. Então acionei meus contatos e achei uma polonesa, que acabou me hospedando em um apartamento na Vieira Souto! Imagine, que sorte a minha…

E como foi esse primeiro contato com o país? Do que você mais gosto, além da vista do mar?
Eu não sabia nada do Brasil, além da Seleção. Então fui conhecer tudo, viajei o país todo de ônibus, fui para as cidades históricas de Minas, para a Bahia, para as praias de Santa Catarina. E gostei de tudo.

Mas depois disso você continuou seu mochilão e só voltou três anos depois, dessa vez com casa em São Paulo. Como foi essa escolha?
Eu conhecia muito pouco da cidade, tinha passado dois dias na comunidade de Paraisópolis, com um primo que fazia um trabalho social por lá. Quando comentei com o Charlô [Whately, restaurateur], meu vizinho em Paris, que estava querendo morar no Brasil, ele me disse que emprestaria seu apartamento na cidade. De cara, achei o clima bom, as pessoas interessantes, as mulheres bonitas. Arrumei um emprego como corretor de imóveis para gringos, depois saí e montei a Acaju do Brasil. Tudo foi acontecendo. Acho que não tem que ficar fazendo muita pergunta, pensando muito, escolhi e pronto.

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Abrir a sorveteria DriDri também foi assim, sem planejar?
Meu amigo de infância, o Nico, veio me visitar e não queria mais ir embora. Mas é caro se manter por aqui, por isso tínhamos que pensar em algo interessante. Daí tivemos a ideia de trazer a DriDri para cá no ano passado. Fomos até Bologna aprender como se faz o gelato e assim começamos. A DriDri é uma sorveteria britânica fundada em 2010. O próximo projeto é um aplicativo que estou fazendo em sociedade com um outro amigo gringo. É assim, com 20 anos eu achava que iria parar de trabalhar com 30. Agora, com 33, acho que vou parar aos 50, mas as coisas vão acontecendo…

Em abril você inaugurou a loja física da Acaju do Brasil, cheia de marcas descoladas. O que ela tem de diferente das outras multimarcas?
Não tenho essa pretensão, mas acabaram dizendo que é uma mini Colette [a loja-conceito mais hypada de Paris], pois reunimos marcas bacanas e alternativas do mundo todo no mesmo lugar, coisa que aqui no Brasil não tinha ainda. Mas temos uma diferença: aqui os vendedores estão sempre sorrindo. Outro dia estava conversando sobre isso com o Oskar Metsavaht, da Osklen, e ele me disse que vendedor de cara amarrada, fazendo um tipo, não tá com nada. O melhor é ser amável. E é isso o que eu quero na minha loja. Se você vai comprar algo lá, no mínimo merece um sorriso.

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E parece que você tem mais um projeto ligado à tecnologia em andamento. Pode nos adiantar algo?
Em setembro vamos colocar no ar um aplicativo ligado à área financeira. Mais do que isso ainda não posso contar.

A instabilidade da política e da economia brasileira não te afligem? Pelo jeito você não puxou o freio de mão.
Acho uma pena o que acontece por aqui, por conta da riqueza que existe e que é sugada pela corrupção, mas sei que há problemas em todos os lugares. Na Europa, eles só mudam de nome, mas estão lá. Além do mais, não sou banqueiro, não sou advogado, sou empreendedor, tenho que me adaptar, esse é o meu trabalho.

Você diz que ama a natureza, mas mora na selva de pedra e trabalha cada vez mais por aqui. Como é que lida com isso?
Pois é… São Paulo é uma cidade louca, incrível, bonita, muito diferente, mas tira muito a energia. E, para mim, o luxo maior no mundo é me refazer na natureza. Quando cheguei no Brasil, eu adorava balada, adorava a noite. Hoje, eu fujo. Quando chega o final de semana, vou para a Barra do Sahy com meus “primos”, o Fernando e o Ricardo Whately, que são sobrinhos do Charlô, ou para a casa da minha família em Catuçaba, interior de São Paulo. Eu preciso disso. Quando estou em um lugar com o céu muito cinza, tempo fechado, começo a ficar para baixo. A luz do sol traz serotonina pra minha vida.

Está gostando da entrevista? Que tal dar uma pausa pra escutar a playlist que o Dimitri criou especialmente pra gente com as músicas que são sinônimo de uma vida solar

Como você se envolveu no projeto dessa casa?
É a primeira casa 100% sustentável do Brasil e eu me dediquei bastante a isso, pesquisei técnicas de construção, materiais ecológicos. Usamos o sol e o vento para gerar energia, aproveitamos a água de uma nascente local. É tudo natural e integrado. Acho que o Marcio [Kogan, arquiteto] queria fazer algo diferente, não mais uma casa para milionários em algum bairro bacana. E, justamente porque nesse lugar a natureza é tão linda, queríamos aproveitar o que está ao ar livre. Então, é uma casa pequena com uma varanda enorme. E lá a gente planta nossos legumes na horta, trocamos algo que produzimos com um porco da fazenda vizinha e por aí vai… Uma vida bem natural.

Será que é por conta desse refúgio que você consegue manter a tranquilidade que aparenta?
Ah, pode ser. Eu decidi fazer tudo o que estou fazendo, então não posso reclamar muito do trabalho. Mas, sim, preciso me refugiar no final de semana, tomar sol, estar no meio do verde. As pessoas me veem com esse jeito, bronzeado, feliz, mas não têm noção de que eu trabalho muito. Eu sou assim, é meu jeito. Pareço leve, tranquilo, mas no fundo sou bem exigente e difícil no trabalho.

Você fala da natureza como um lugar para se refazer. Existe uma conexão espiritual aí?
Acho que sim, não tem como você olhar o mar e não se conectar. Talvez por isso estou no Brasil, para uma busca espiritual que eu não tinha antes, para prestar mais atenção às pessoas que estão ao meu lado, dar mais importância a coisas simples. Quando cheguei, era muito materialista. Aqui, pude entrar em outro ritmo, desenvolver um lado que eu não tinha, perceber que algumas coisas têm um valor imenso e não custam nada, como beber água de um coco que alguém acabou de colher ou pegar uma manga no pé. Por aqui, tudo é incrível.

Você não tinha essa conexão na Europa?
Não, lá é muito diferente, não tem essa exuberância. Mas morar aqui me fez valorizar minha cidade, Paris, que é linda, fenomenal, e eu nem ligava. Hoje eu tiro foto na Torre Eiffel! (risos). Me fez valorizar ainda mais minha família, meus amigos de lá. Tudo ganhou mais importância depois que eu vim morar aqui. O Brasil me ensinou bastante coisa.

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