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Mergulhamos no Envision, o festival mais hedonista e good vibes da Costa Rica

Por
Isabela Manara
Em
28 março, 2019

Na Costa Rica, todos os anos o Envision Festival reúne seres revolucionários, mágicos, amantes e artistas pra celebrar a vida em torno de música, surfe e yoga

Pra quem alinha destino com intuição, tudo começa com sinais. E foi assim que a Costa Rica se instalou primeiro na minha mente, antes de ter meu coração. É verdade que a alma estava inquieta e gritando por novidade. Sabe aquela sede de vida? Vontade de voltar pra casa sem saber exatamente onde é esse lugar? Neste país da América Central que é ícone em turismo ecológico, 25% do território é protegido por leis ambientais. Parques nacionais, reservas biológicas… Além da biodiversidade surpreendente, por todos locais cultiva-se o amor pela paz social, democracia e natureza sublime. Essa consciência coletiva, simples como um bom dia e obrigado, é um estado de espírito contagiante, a PURA VIDA.

Envision Festival
Foto: Cremerica/Divulgação

Há tempos que não colocava o mochilão na estrada e mais ainda que não éramos só eu e ela por aí. Na intenção de ter uma mala prática, escolhi levar poucas roupas e leves, em sua maioria peças que desenvolvi pra minha marca @stylemanara . Acionei meu amigo Renan Serrano, que, preocupado com o meio ambiente e com o futuro, criou a @visto.bio, uma tecnologia que protege as roupas contra o cheiro de suor. Um frasquinho de 42ml que mantém a gente cheirosx, economiza nosso tempo e preserva as águas – esse é o Brasil que eu quero – Borrifiei ele nas minhas peças e lá fomos nós – eu, minha barraca, saco de dormir e as roupas.

Envision Festival
Foto: Eric Allen/Divulgação

Cheguei na Capital San José e me hospedei em Escazú, ou La ciudad de las brujas, nome herdado de histórias e mitos locais. Era semana de lua cheia. De manhã parti para Jacó, na costa do Pacífico. Eu precisava ver o mar. Nas praias, Jacó Beach e Playa Hermosa, mutirões de limpeza e competições de surf. Pra minha surpresa um festival de bass music que acontecia em um sítio próximo parecia ser o destino da maioria dos gringos do hostel, e dos ticos e ticas também. Como num perfeito alinhamento dos planetas a mágica e os encontros começavam.

Num ambiente perfeito pros insights da alma, os produtores dos festivais, apaixonados, permitem-se viver do que amam, viajando o mundo montando os mais alucinantes sets, palcos e projeções que vão até o amanhecer. Música, performances, live paintings e um pouco de drogas inspiram e atraem criaturas de diversas nacionalidades pra esse paraíso.

Na semana seguinte me organizei para estar no Envision Festival em Uvita, um encontro escondido entre a floresta e a praia, com os seres do futuro, os revolucionários, os mágicos, amantes e artistas. Se a vida é um espelho eu quero me ver através desses olhos.

Muito além de um evento de música, essa comunidade é uma grande escola, criada para durar alguns dias e sediar as mais genuínas e diversas formas de arte como expressão humana. Com ênfase na política de lixo zero, não usa-se embalagens plásticas e todos são encorajados a levar seus próprios utensílios ou fazê-los em oficinas de bambu. Além de refeições vegetarianas e trabalhos com a terra como composteiras para o lixo orgânico e plantio de árvores, o evento promove rituais de cura, palestras e workshops com yogis, curandeiros, biólogos, coachs, bruxas e xamãs. Foram ao todo 68 aulas com 42 professores de mais de dez nacionalidades, em quatro dias!

Envision Festival
Eu, Jean Bibens-Laulan, Antonia Benson, Mar Marvin Lopez, Kristalynn Love

Como voluntária, meu papel consistia em alguns dias de trabalho no café e encontros valiosos com pessoas geralmente em trânsito de uma atividade pras pistas de dança, de lá pro mar e assim sucessivamente. Muita emoção, fluidos, calor, transpiração, suor, choro e descobertas. O que tínhamos em comum era a busca por conexões reais e expansão da própria consciência. Na praia um aglomerado de artesãos e comerciantes locais formavam um caminho até os limites dos portões, pipas frescas (côco gelado) e muito groove.

A convivência harmônica de tantas culturas, raças e religiões, entre nômades, curiosos e radiantes seres humanos de todas as idades vivendo sua best life, gera uma egrégora de amor e confiança que reverbera além, e tudo está em perfeita sincronia. Brasil, Guatemala, Nicarágua, Canadá, França, Austrália, África do Sul, Israel, Estados Unidos… O festival que terá a sua décima edição no dia 20/02/2020 e tem proporções gigantescas, com cerca de 8.500 convidados esse ano, adota dentre as políticas de preservação o uso restrito de água doce. O voucher pros chuveiros custava US$ 5 e passou longe de ser uma prioridade ali; nada que um banho de mar ou de pia não resolvesse.

Envision Festival
Foto: Isabela Manara

Sempre reaplicando o visto.bio nas roupas, eu tava perfumada e protegida, às vezes borrifava no corpo também porque o cheiro é delicioso. Essa atitude me fez resgatar o sentido de fazer tudo com consciência e atenção plena para o futuro. Nenhuma peça foi invalidada por mau cheiro, somente por lama ou smoothies de frutas (risos). Vivi uma eternidade e tudo passou rápido. Em um piscar de olhos todos partiram pro resto de suas vidas e eu fui pra minha próxima parada: Dominical, ao lado de Uvita. A essa altura do campeonato meu celular estava quebrado e eu completamente offline. Não pense que achei isso ruim – me dei o luxo de permanecer ‘no escuro’, e se tive outra vida nem me lembro. Armei minha barraca na praia e por lá fiquei alguns dias, numa onda pós-festival onde sempre apareciam rostos conhecidos, o pôr do sol e as performances com fogo reuniam todos na areia. Durante os dias muita sombra e água fresca, rios e cachoeiras, em especial a Nauyaca.

Envision Festival
Foto: Eric Allen/Divulgação

Foi chegando o momento de escolher o destino final, a última semana da viagem. Ainda tinha o outro extremo inteiro do país para ver. Do lado Atlântico, essa parte caribenha é um lugar de praias lindas como Puerto Viejo e Limón, e berço de comunidades afro-costarriquenhas e indígenas. Reggae roots. Mas essa será outra história… Naturalmente, como todos os encontros, estava caminhando quando ouvi um amigo dizer “No caminho para Ojochal tem uma placa Welcome Family, e é pra lá que eu vou”. Ele tava indo pro Rainbow Gathering, o Encontro Arco-Íris. “Por que não?” Decidi continuar explorando o Pacífico e seguimos pra beira da estrada pedir carona.

Envision Festival
Foto: Jorgphoto/Divulgação

A placa era na porta de um sítio onde o barco nos resgataria às 16 horas para então chegarmos à Isla Coronado. Ouvimos que, do outro lado, a família já contava com quinze integrantes. Nós estávamos em dez. O passeio foi com emoção. Quase que o motor cai do barco e estaríamos perdidos. O americano tocava violão pra nos acalmar. Aos pés do mangue vários ossos de jacaré, muitos mesmo. Esse encontro naturalista é distante de tudo. Do consumismo, do capitalismo, da sociedade convencional. Existe pra celebração da liberdade, do amor, da paz, do respeito, da entrega, da família que a gente escolhe, e flui sem programação, sem chefe, sem ingresso. Sua primeira edição foi nos Estados Unidos há quase 40 anos, e desde então atrai pessoas de todo tipo, em busca da utopia de se viver em harmonia com a natureza, uma forma de vida alternativa, o paradoxo do nosso tempo. Acampados ao ar livre, cantamos, dançamos e nos olhamos nos olhos. Nada precisava acontecer e o que vinha era acolhido com carinho, respeito e cuidado. Voltei pro Brasil cheia de amor e confiança.

Envision Festival
Isla Coronado
Envision Festival
No caminho do arco-íris | Fotos: Isabela Manara

De todas as coisas, a certeza de que na vida você pode ter tudo, basta pedir com jeitinho! Peça a você mesmo, peça ao Universo, peça a um estranho. Pode ser uma resposta, um amor, um prato de comida, não importa, seu poder de manifestação vai te surpreender. Saiba o que pedir e acredite. Meu pedido pra próxima aventura: uma passagem só de ida.

Ahô!

Foto de abertura: Eric Allen/Divulgação

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