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54 horas em Favignana: uma ilha pra não ver e não ser visto na costa da Sicília

Por
Adriana Setti
Em
26 setembro, 2019
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A ilha que a Miuccia Prada escolheu pra não ver e não ser vista é um dos últimos segredos do verão italiano, escondidinha na costa oeste da Sicília. E setembro é o melhor mês pra se estar lá.

Nem a presença de Miuccia Prada a cada verão é capaz de alterar o jeitão low profile de Favignana. Com seu semblante árido pontilhado de oliveiras, a ilha que a estilista escolheu pra não ver e não ser vista é um dos últimos segredos do verão italiano, escondidinha na costa oeste da Sicília, mais ou menos onde o Mediterrâneo conversa com o Tirreno. Cercada por águas cristalinas que não fariam feio nas Maldivas, e coroada por um castelo do século 16, a maior das Ilhas Égadas demorou a entregar o seu ouro ao turismo porque, até os anos 1980, tinha na pesca industrial do atum o seu principal ganha-pão. E ainda que hoje seja controlada pelo rígido sistema de quotas da União Europeia, a captura do peixe continua garantindo filés fresquinhos nas osterie do charmoso vilarejo e o espaguete com botarga nosso de cada dia. Para chegar lá, é preciso embarcar em um dos barcos rápidos da Liberty Lines (a viagem demora meia hora). Uma vez na ilha, mantenha os cabelos ao vento pedalando uma bike para cumprir esse roteiro de 54 horas.

DIA 1

18h
Alugue uma bike

Andar de carro não combina com a atmosfera tranquila de Favignana. O melhor a fazer é seguir o fluxo de bike ou, vá lá, de scooter – há um punhado de lojinhas de noleggio no centro. Em forma de borboleta, a ilha concentra suas principais atrações na “asa” leste, onde as estradinhas rústicas e pouco transitadas são predominantemente planas. Mesmo assim, escolha uma bicicleta em condições de subir algumas ladeiras (as mais econômicas costumam ser roots) e não se preocupe: ao final dos poucos trechos mais íngremes sempre haverá uma barraquinha de granita, a raspadinha à moda siciliana para esfriar a cabeça.

Kiosko Bar | Crédito: Facebook Oficial Kiosko Bar

20h
Dolce vita mediterrânea

Nada pode ser mais mediterrâneo do que o Kiosko, uma casinha branca com janelas azuis cercada de mesas e sofás de pallet, no ponto mais estratégico para ver o sol se esconder atrás do Castello di Santa Caterina. Peça um spritz para tomar no barquinho de pescador transformado em bar e comemore que você está na Itália. Na sagrada hora do aperitivo, cada drinque vem com uma comidinha.

DIA 2

Cala Rossa | Crédito: Zoky10ka

8h
A lagoa azul

Chegue cedo para garantir um lugar ao sol na Cala Rossa. E se você é bicho criado na areia, prepare-se para começar a desenvolver suas habilidades de pegar uma praia na pedra – os locais conseguem, inclusive, a façanha de usar cadeira e guarda-sol. Você será um sujeito feliz se estiver com o seu scarpe da scolio, sapatinho de neoprene que evita a reflexologia podal involuntária. Todo esforço terá valido a pena quando você se jogar na gigantesca piscina natural em forma de meia-lua, onde o azul turquesa da água chega a ofuscar a retina. 

12h
Street food al mare

Alguns food trucks míticos de Favignana estacionam nos arredores da Cala Rossa durante o dia. Quando bater aquela fominha, procure pelo Er’ Paninaro ou o Pane Cunzato. O primeiro é famoso pelos sanduíches de atum e, o segundo, pela larica siciliana que dá nome ao estabelecimento: um sanduba de tomate, manjericão, anchova e fartas doses de azeite de oliva extra virgem, para saciar a fome de um ogro. 

Cala Azzurra: aqui a água é morna e rasa | Crédito: gandolfocannatella

15h
Pequenidão azul

Setembro é o melhor mês do ano para conseguir uma vaga nesta diminuta (e disputadíssima) faixa de areia branca, posicionada em meio a uma fenda esculpida num rochedo. A água faz jus ao nome do lugar: Cala Azzurra (praia azul). Aqui o mar é rasinho e morno, ideal para um dolce far niente.

18h
Fogo na panturrilha

A cerca de 300 metros de altitude, o Castello di Santa Caterina é uma fortaleza do século 16 erguida pelos sarracenos, um dos muitos povos que deixaram suas marcas na ilha, que já viu passar gregos, árabes, entre outros. A subida, de queimar a panturrilha, leva cerca de uma hora (a entrada fica perto do Stabilimento Florio delle Tonnare) e a vista do pôr do sol lá de cima é de enfartar. Num giro de 360 graus, você verá as ilhas vizinhas de Marettimo, Levanzo, Formiche e Maraone no horizonte.

Atum selado com batatas da Osteria del Sotto Sale | Crédito: Instagram oficial

21h
De olho na passeggiata

Apesar de sua atmosfera low profile, o centrinho de Favignana ainda exibe os palacetes e praças grandiosas do seu passado de glória. No século 19, o atum trouxe a abundância, principalmente ao industrial Ignazio Florio, que comprou a ilha inteira em 1876 e escalou os melhores arquitetos da Sicília para erguer sua mansão, o Palazzo Florio. Faça reserva para garantir uma mesinha no terraço da excelente Osteria del Sotto Sale, ideal para ficar de olho na passeggiata (o vaivém à moda italiana) enquanto traça um espaguete com frutos do mar ou atum com batatas. 

DIA 3

9h
Pro dia nascer feliz

Um polvo praticamente inteiro dentro do seu sanduíche: tem coisas que só Favignana pode fazer por você. Para começar o dia bem, passe no Santi & Marinai, o templo dos panini no centrinho. Aproveite e leve uns arancini (bolinhos de arroz demoníacos, fritos e recheados) para comer mais tarde. Desista de ser magro na Sicília. 

10h
O legado do atum

Sua principal obrigação cultural como turista é conhecer o Ex Stabilimento Florio delle Tonnare. Erguido por Ignazio Florio no século 19, o impressionante edifício servia para processar o atum pescado na tonnara (ou almadrava, método ancestral que usa um labirinto de redes para capturar o peixe). Transformado em museu, conta a história da pesca na ilha com uma exposição multimídia e é um prato cheio para quem curte pirar em fotos de arquitetura. Foi cenário da cena da matança do atum no filme Stromboli (1950) de Roberto Rossellini, com Ingrid Bergman.

Fim de tarde numa das mesas ao ar livre do Cibo Chiacchiere | Crédito: Facebook oficial

11h
Souvenir comestível

Uma delícia a qualquer hora do dia, o centrinho de Favignana tem lojinhas irresistíveis de comida, que vendem as iguarias locais, como barriga de atum, botarga (ova salgada e seca), alcaparras, azeite de oliva… Aproveite o embalo para tomar um sorvete na gelateria artesanal Ciuri Ciuri – ou para entrar de cabeça num cannollo. Outra vez: desista de ser magro na Sicília. 

13h
Navegar é preciso

Pra conhecer a costa oeste da ilha, marcada pelo relevo abrupto, o melhor a fazer é alugar um barco. Todos os caminhos levam à Cala Rotonda, que tem uma faixa de areia branca (muito mais tranquila que as das praias do oeste) e o Arco di Ulisse, uma formação rochosa em forma de arco que enquadra o azul escandaloso do mar. 

18h
Queijos e vinhos

Feche o dia na costa leste no Cibo Chiacchiere Vino Ristorantino Sul Mare, um dos lugares mais alto-astral da ilha, num platô perto da Cala Pozzo. No meio do nada, e com vistas incríveis do relevo de Favignana, tem sofás, mesas e day beds ao ar livre, de camarote para o pôr do sol. Serve boas tábuas de frios, massas e outras comidinhas para acompanhar a carta de vinhos sicilianos.

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