Desde 1995, o turismólogo Gerson Linhares organiza cerca de 30 roteiros para explorar o Centro da capital cearense no projeto batizado de Fortaleza a Pé
Quando era professor universitário, Gerson Linhares saía para caminhar pelo Centro e explorar o patrimônio da capital cearense. Alguns estudantes começaram a se juntar à ele, depois outros moradores, e assim surgiu o Fortaleza a Pé. Desde 1995, o turismólogo organiza roteiros que propõem olhar a cidade de uma outra maneira. “O Centro é um barril de cultura, um barril histórico”, explica. “Fortaleza é belíssima com seus 34 quilômetros de praia, mas também tem um patrimônio que vêm desde o século 18 sendo preservado, com inúmeras edificações, praças, monumentos e equipamentos culturais.”
Ao perceber que os turistas que visitam Fortaleza costumam explorar seu litoral, mas não a própria cidade, Gerson decidiu organizar caminhadas semanais para apresentar aos visitantes esse patrimônio tão pouco explorado. “Quando o turista faz uma caminhada cultural com a gente, ele sai com outra visão do que é Fortaleza”, diz. “Porque não é só a questão do patrimônio histórico, mas também o cultural. Aqui ele vai conhecer um pouco das nossas feiras tradicionais ao ar livre, experimentar os quitutes cearenses e conhecer o artesanato que vem de 184 municípios diferentes no interior do estado.”

Hoje o Fortaleza a Pé possui cerca de 30 roteiros diferentes que saem da Praça do Ferreira, no coração do Centro Histórico. Eles passam por lugares como o Theatro José de Alencar que, explica Gerson, foi construído em 1910 com uma arquitetura art nouveau, ou o Cine São Luiz, um cartão-postal da cidade idealizado por Luiz Severiano Ribeiro. As praças também são pontos de parada na maioria das caminhadas. São 32 só no Centro da capital, como o Passeio Público, do final do século 19, que remonta ao período da Belle Époque em Fortaleza.
Com fotos antigas ampliadas nas mãos, Gerson mostra como eram esse lugares algumas décadas atrás. “A gente caminha contando histórias. É uma oportunidade de ver também quais foram as principais mudanças arquitetônicas naquelas praças e edificações ao longo da história”, conta. Outro roteiro explora a cidade através de seus personagens, como a romancista Rachel de Queiroz e o escritor José de Alencar. “Precisamos colocar na prateleira os grandes vultos da literatura, da política e das artes plásticas que estão presentes na cultura da cidade.”

É possível entrar em alguns dos prédios, igrejas e museus pelo caminho. Afinal, essa é a ideia dos roteiros feitos a pé: descobrir cada pedaço da cidade. “A gente só conhece um destino turístico de verdade caminhando. O a pé é a vivência daquela terra, que fica mais aguçada, mais rica, mais contemplativa”, diz Gerson. Incentivar o turismo cultural e a valorização do patrimônio são as principais razões pelas quais há duas décadas o turismólogo caminha pelas ruas da capital com as turmas quase que diariamente. “A história dessa cidade precisa ser conhecida, valorizada e divulgada pelo maior número de pessoas possível”, diz Gerson. “Aqui, Fortaleza também faz história”.