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Por uma moda solar, tecnicolor e refrescante

Por
Rafael Bittencourt
Em
26 julho, 2016

Se a vida é a arte do encontro, que eles aconteçam na praia. Depois de explorar os sete mares, o Rodrigo desistiu de surfar ondas neozelandesas para trazer as beleza da cidade de Foxton para o Rio, por amor. É que o Rodrigo e a Marcella se conheceram na praia e estão juntos desde então, construindo uma nova moda masculina, com todos os tons de liberdade que o sol pode refletir. E é assim que há 12 anos a Foxton vem ganhando espaço entre rapazes de alma e coração cariocas e agora está em um momento brilhante, levando um mundo colorido, inusitado e vibrante para diversos cantos do Brasil. Como dizem os surfistas: o mar subiu.

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Como começou a história de vocês?
Marcella: Estamos juntos há 16 anos. Eu conheci o Rodrigo na praia! Descobrimos que íamos sempre aos mesmos lugares, mas sem nos conhecermos de fato. Eu sou de Minas e vim para o Rio mais menos nessa época para fazer faculdade: comecei com comunicação social e tranquei no primeiro período. Mudei para direito, fiz cinco períodos e troquei, então, para administração. Quando faltava um período para me formar, troquei para moda, que foi a que terminei.
Rodrigo: Quando a gente se conheceu eu tinha acabado de chegar de uma temporada na Califórnia. Quando eu terminei o colégio, meus pais naquela onda meio hippie, quiseram me mandar estudar em San Diego, onde eu comecei a me envolver mais com a moda.

Rodrigo, você já sabia que queria trabalhar com moda ou foi algo que foi descobrindo na Califórnia
Eu sou filho de uma artista plástica que estava totalmente envolvida na geração dos anos 80 do Parque Laje; meu pai é engenheiro, mas surfista, super da praia. Eles são bem jovens, então eu sempre tive essa influência cultural dos anos 70 e uma liberdade bem grande. A minha casa era um ponto de encontro, onde efervescia todo tipo de conversa. Desde muito cedo eu sabia que queria ir pelo caminho da moda, mas não sabia muito bem o que era e também não tinha uma influência direta de alguém nesse sentido. Eu gostava das marcas que estavam em ebulição no Rio dos anos 80 para 90 que refletiam o meu universo de praia, de skate, da minha juventude. Foi quando eu entendi que aquele era o meio que eu ia me expressar.

Marcella, e você? Conta pra gente como foram todas essas mudanças até você chegar no mundo moda.
Minha família também me deu muita liberdade para experimentar – desde que eu estudasse, estava tudo certo. E eu comprava muita roupa na adolescência. Era meu programa de final semana, sabe? Eu estava sempre indo em lojas, consumindo moda sem nem perceber aquela influência sobre mim. Na época em que conheci o Rodrigo, eu estava fazendo mil faculdades, indo a praia e em lojas… Mas quando eu estava estudando direito e chegou a hora de escolher a roupa que eu ia usar no estágio, eu só pensava: “Ferrou!”. Porque eu não me via usando aquelas roupas, sabe? Eu queria vestir algo que me expressava. Na verdade, eu larguei todas as faculdades no momento em que eu via que não me encaixava naquelas roupas. Aquela não era eu.

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Vocês tiveram alguma experiência com moda profissionalmente falando, antes da Foxton?
Rodrigo: Na Califórnia eu conheci um cara na água, surfando, que tinha uma loja de surfwear. A gente ficou amigo e ele me convidou pra trabalhar lá. Foi quando comecei a entender mais o mercado e percebi que tinha um bom olhar. Na hora de voltar ao Brasil, com a saudade apertando, eu decidi passar seis meses no Havaí curtindo e surfando. Cheguei aqui já com a ideia de construir uma marca minha.

Foi aí que vocês abriram a Foxton?
Rodrigo: Quando retornei ao Rio, tomei um choque de realidade, porque eu tinha mudado muito na Califórnia, onde eu tinha muita liberdade, mas também muita responsabilidade, o que me deu um outro olhar para as coisas. Eu comecei a me questionar se eu deveria abrir alguma coisa aqui ou se eu deveria viajar para algum outro lugar e complementar meus estudos. Nessa época eu queria muito ir para Austrália e Nova Zelândia, porque eram lugares muito modernos, novos e lindos! Mas não tinha nada certo ainda, eram planos, enquanto eu ia desenvolvendo a minha marca, ainda bem pequenininha. Foi quando eu conheci a Marcella…
Marcella: …na praia, entre as minhas mil faculdades! (risos)
Rodrigo: A Marcella foi fundamental nessa época, porque quando a gente começou a namorar eu pensei: “Pronto, eu não vou mais para Nova Zelândia”. Mas eu abri a Foxton, que é o nome da cidade onde eu ia morar lá, que é linda! Eu não fui, mas eu trouxe a Foxton para mim.

E como foi esse começo da marca?
Rodrigo: Um amigo que tinha uma marca me deu alguns canais e eu comecei a desenvolver algumas estampas de camisetas e bermudas. Com a Marcella, a gente começou levar a coisa mais a sério, entramos na Babilônia Feira Hype, isso lá em 2004.
Marcella: Aí eu já estava fazendo moda e era uma época muito boa na Babilônia, com muitas marcas legais, que cresceram e foram abrindo lojas, mas faltava marca masculina. A gente aproveitou isso e fomos aos poucos, crescendo, ganhando nosso espaço.
Rodrigo: Mas era muita ralação! A gente estava lá o tempo todo, botando a mão na massa, conversando muito com nossos clientes, atendendo aos pedidos, ouvindo as sugestões…

Tinham outras pessoas trabalhando com vocês, ou vocês davam conta do recado?
Marcella: A gente fazia tudo nessa época. Desenhava, produzia, vendia etc. Pra você ter ideia, nessa época o estoque da Foxton era na sala da minha casa. Éramos só nós dois, então a gente mesmo criava uma estampa nova para a semana seguinte, por que o cliente pedia. Era pesquisa de comportamento do consumidor ali na hora! E isso é uma coisa que nunca perdemos.
Rodrigo: Eu ainda morava com meus pais e a minha casa era o showroom. A gente não tinha grana, então começamos na paixão mesmo. A gente sempre soube o que a gente queria ser, mas não sabia como chegar até lá, mas as coisas foram se construindo no meio do caminho. A Babilônia Feira Hype formou a gente como microempresários de moda, por que tínhamos uma visão muito focada no produto, em arte e lifestyle, e lá aprendemos todo o resto e entendemos como era importante transmitir a essência da marca.

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Houve algum momento em que vocês sentiram que precisavam dar um passo maior?
Marcella: Sim. A gente construiu uma boa base de clientes na Babilônia, mas as pessoas começaram a querer comprar durante a semana também, quando não tinha feira, então a gente começou a atender na casa dos clientes e na casa do Rodrigo.
Rodrigo: Meus pais eram supertranquilos, então a gente montava nossa loja na sala mesmo. Chegava algum cliente e a gente encenava tudo: botava música e eu chamava meus amigos do prédio pra irem lá fingir que estavam comprando e o cliente de verdade não se sentir sem graça. Até que um dia, eu chamei uma cliente importantíssima e esqueci de avisar meus pais e meu pai aparece na sala de cueca cumprimentando todo mundo e dando dois beijinhos nessa cliente! (risos)
Marcella: Aqueles dois beijinhos foram a gota d’água. A gente sacou que precisava sair dali e ter o nosso próprio espaço.

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Está gostando da entrevista? Que tal dar uma pausa pra escutar a playlist que a Marcella e o Rodrigo criaram especialmente pra gente com as músicas que são sinônimo de uma vida solar para eles

A moda brasileira é muito mais feminina. Por que vocês decidiram fazer moda masculina?
Marcella: Nossa missão é levar novas possibilidades para o homem se vestir. Afinal, você pode usar o que você quiser, né? E hoje não dá nem para comparar como a moda masculina está crescendo no mundo. As semanas de moda masculina se destacaram, têm espaço próprio, o e-commerce masculino já é bem maior e vai crescer mais ainda.
Rodrigo: A gente está vivendo uma transformação muito grande no mundo e as pessoas têm mais cultura de moda, mas no Brasil essa relação ainda está sendo construída.

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Mas vocês acham que os jovens estão mudando um pouco essa percepção de o homem brasileiro ser mais resistente à novidades?
Marcella: A juventude atual está muito informada, já sabe tudo que o que está rolando no mundo e tem interesse em moda. Já vi diversas cenas de a namorada ficar sentada esperando, enquanto o cara estava lá experimentando roupas.
Rodrigo: Quando eu morei na Califórnia eu conheci o que era a moda masculina, o que é você ter mais liberdade para se vestir como quiser, sem questionamentos. Lá as pessoas tem mais essa ousadia. Quando voltei, comecei a perceber que ainda tem muito preconceito com a forma como as pessoas se vestem e eu achava esse pensamento muito ultrapassado, queria trazer outro olhar e liberdade para as pessoas se expressarem. Você não precisa estar preso ao estereótipo.

E foi por causa dessa liberdade que vocês fizeram a campanha do Dia dos Namorados com diferentes formatos de casais?
Rodrigo:Nossos próprios clientes entendem que a Foxton é uma marca mais livre e mais moderna e eles mesmos cobram isso da gente.
Marcella: Dois anos atrás, numa campanha dos Dia dos Namoradas, alguns clientes comentaram em nossos posts: “E se ele tiver namorado?!”

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A Foxton agora está em um momento de muita visibilidade e crescimento desde que entrou para o Grupo Soma (formado pela marcas Farm, Fábula, Animale, A.Brand e FYI). Como está sendo essa transformação pra vocês?
Rodrigo: Essa é uma fase muito importante e maravilhosa, porque o Grupo Soma compartilha dos mesmos valores e princípios que a gente, mas nos deu um respaldo comercial de poder ampliar a nossa base sem perder nosso DNA. Isso realmente deixa a gente livre para criar e se expressar. As marcas têm que se expressar de forma verdadeira, isso é o que faz a diferença, é isso que toca as pessoas. Não adianta não ser fiel à sua verdade, porque assim você convence por muito pouco tempo.
Marcella: Nos vimos em outras situações que a gente não tinha essa liberdade tão grande. Os grupos não tinham a mesma sintonia de visão que a nossa, era uma visão mais focada em varejo e não tanto em marca. Aí você acaba querendo ampliar, mas você não vira nada.

A moda do Rio passou por um momento meio “frio” com o fim do Fashion Rio. Mas em 2016 vimos o setor voltar a efervescer com o Veste Rio e o Rio Moda Rio. Como vocês veem a moda carioca atualmente?
Marcella: A moda do Brasil é muito representada pelo Rio de Janeiro. O Rio não quer fazer uma moda pretensiosa. Aqui as marcas olham muito para dentro, para cidade, para usabilidade das peças. A moda carioca tem uma identidade muito forte, porque a gente se apropria do estilo de vida da cidade. Eu acho que muitas marcas de São Paulo, por exemplo, fazem coisas que poderiam estar em qualquer lugar do mundo mas não refletem, especificamente, o estilo de vida daquele local.
Rodrigo: Não que não existam marcas autorais legais em Minas Gerais e em São Paulo. Mas aqui é uma moda que reflete a cara do lugar, tem mais personalidade. Isso é bom do Rio, mas ao mesmo tempo é muito ruim, porque você acaba olhando muito para dentro e virando as costas para o resto do Brasil e se você não toma cuidado, acaba se bitolando.

Além da moda, a gente vê o Rio de Janeiro em um momento único, com as Olimpíadas trazendo muita gente para a cidade. Como vocês encaram tudo isso?
Rodrigo: O Rio de Janeiro é o melhor lugar do mundo, mas é o melhor lugar do mundo para poucas pessoas ainda. Eu acredito que a juventude vai transformar muito o mundo e o Rio. Tem muita gente vindo com ideias legais, com possibilidades de ocupação de novos espaços, e mesmo com o pouco incentivo, tem muita força coletiva. Por isso eu sou muito otimista em relação à cidade, muito mesmo. Essa juventude é muito transformadora – ela já entendeu que tem que se unir ao outro e que quando isso acontece ela tem ferramentas correntes pra ganhar força e conseguir executar alguma coisa.

Como vocês se inspiram no dia a dia?
Rodrigo: A Foxton é uma marca solar e moderna também, somos atemporais. Trazemos referências antigas, mas olhamos muito para o atual momento e para frente também. A gente brinca com essa história de ser tecnicolor, por exemplo, porque é nosso olhar colorido, moderno e inusitado, de quando o sol bate na lente e explodem todas aquelas cores e emoções!
Marcella: Nosso projeto criativo acontece o tempo todo. É muito louco, porque às vezes a gente está só vendo uma revista, bate o olho em alguma coisa e já diz: “Eu quero isso para nova coleção. Eu quero o que essa imagem está representando”. Mas sempre com aquele desafio de fazer alguma coisa que as pessoas ainda não viram.
Rodrigo: Ou algo que vai te trazer uma estranheza que você não sabe muito bem o que é, mas desperta uma curiosidade. Tirar você da zona de conforto, instigar um segundo olhar.

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Alguma novidade que vocês possam adiantar?
Marcella: Nossa coleção de verão chega em agosto e chama Te Vejo na Praia. Buscamos inspiração em um livro que estávamos lendo e que dizia: “Todo mundo tem uma história de praia para contar, uma lembrança especial à beira-mar que vai guardar para sempre”. Quando eu li, logo pensei: “É isso!”. Porque quando você mora no interior, você tem aquele momento que se prepara pra ir à praia; se você mora aqui no Rio e vai ter um feriado, você já quer saber se vai ter um feriado para ir à praia.
Rodrigo: A gente aproveitou para trazer o nosso olhar inusitado para algumas misturas de praias nessa coleção também: por exemplo, a Hawaii-Bahia, que tem uma sinergia do relax baiano com a força das ondas havaianas. A gente também fez o Biarritz Carioca, que era sofisticação de praia do litoral francês com a descontração do Rio. Isso mostra muito o quanto a Foxton é democrática. Não existe lugar mais democrático que a praia, existe?

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