People

A maré trouxe e a chef Gisela Schmitt ficou pra cozinhar num barco em Paraty

Por
Mariana Weber
Em
21 agosto, 2019
Em parceria com
true

Publicitária paulistana que se descobriu cozinheira profissional em Nova York, Gisela Schmitt encontrou em Paraty (RJ) o porto e o mar de que precisava pra levar uma vida mais solar. Ali criou o projeto Gastromar, com um barco que faz passeios gastronômicos, um restaurante numa marina e um espaço cultural no centro histórico. E ali trabalha descalça, vê os filhos crescerem, compra direto de quem pesca, prepara com ingredientes locais e sazonais pratos que atraem gente de longe.

“Sempre fui superurbana, mas em busca do sol”, diz a chef. “Em São Paulo, amava a sensação de saber que tinha tudo 24 horas e delivery. Disso sinto falta. E do supermercado Santa Luzia. De andar pelas ruas e respirar multidão, ideias, diferenças, contrastes. Mas isso também é o lado sufocante que me faz amar a escolha de me mudar pra cá. Muita informação pode ser brutal pra quem quer viver bem.”

Paraty_Sem-Pressa-1_Cre-dito-Affonso-Neto-1

Pra sua relação com Paraty evoluir de namoro para relacionamento sério, Gisela transformou em negócio o barco em que ela e o marido, o empresário Miguel Borges, costumavam – e ainda costumam – reunir amigos, filhos e o cachorro Gin. A traineira de 50 pés, construída em 2009 por artesãos locais com madeira de reflorestamento, era um antigo sonho de Miguel, que a batizou de Sem Pressa em uma alusão ao tempo que esperou por um transplante de rim. Ele tinha um problema congênito e foi operado em 2012.

Hoje o barco recebe gente que paga pelo pacote de horas do Gastromar. Tem mesão, deck com almofadas, banheiro. E, o mais importante, uma cozinha onde Gisela prepara frutos do mar sobre o mar e à vista dos clientes, que se revezam entre comes, bebes e mergulhos nas águas verdinhas da região – é algo normal a prancha de stand-up paddle virar mesa flutuante.

“A melhor parte de ter uma cozinha no mar é estar em contato com a natureza, com uma vista linda e mutável, cada dia um céu, um mar, um peixe”, diz Gisela. “A pior é a tensão permanente da previsão do tempo.” Coisas de uma existência ao sabor do vento e do sol.

A história de Gisela com Paraty começou 12 anos atrás, quando foi contratada para ajudar a montar um restaurante na cidade – os clientes eram os sócios do extinto bar Dry, nos Jardins, de que ela também participou do projeto. A chef na época se dividia entre um buffet na capital paulista e serviços de consultoria. Apaixonada por cozinha, tinha abandonado a carreira de publicitária durante uma temporada em Nova York, quando conseguiu um emprego no restaurante Barolo. Depois vieram outros, nos EUA e no Brasil.

gastromar-paraty-foto-1

Nesse primeiro trabalho na cidade fluminense, Gisela conheceu a chef Lauretta da Martinica, que virou sua grande amiga e a contratou pra mais uma consultoria. Na casa de Lauretta, conheceu o marido, cuja família tem negócios na região, incluindo a marina Porto Imperial.

Maré vai, maré vem, em 2013, o casal teve uma filha, Gloria, mais ou menos na mesma época em que Gisela começou a oferecer um serviço de catering de alta gastronomia para barcos. Ela vivia entre São Paulo e Paraty quando veio o segundo filho, João Miguel, em 2015. “Eu estava trabalhando pra caramba e via os filhos das minhas amigas em São Paulo doentes por causa de poluição. Um dia, na cozinha de casa, depois de fazer um carbonara, olhei para o meu marido e disse: vamos morar em Paraty de vez? Em 20 dias fizemos toda a mudança. Só da minha cozinha foram 65 caixas.”

gastromar-paraty-foto-2

Com a âncora lançada no litoral, o Gastromar cresceu. Além do barco próprio e do serviço de catering pra embarcações, em 2017 ganhou um restaurante em terra firme, na marina Porto Imperial, e, durante a última Flip, a Casa Gastromar, espaço cultural montado nas ruínas de um casarão colonial no centro histórico. Na inauguração, Gisela chamou o grafiteiro Speto para fazer uma intervenção e instalou ali carrinhos do Gastromar que servem gim tônica, vinhos e comida de rua, como sanduichinhos com atum que ela mesma defuma.

Na vida que escolheu, a chef acorda às 5h da manhã para ler mensagens do pescador sobre a pesca da madrugada (que às vezes ela vai buscar de barco). “Na sequência vem o bom dia da Gloria e do João Miguel, cheios de energia.” Os dias são ao mar ou no escritório e no restaurante. As férias, de preferência no concreto. Em agosto, a família partiu para Londres, “para uma semaninha de imersão cultural in english para fazer o equilíbrio com as nossas crianças caiçarinhas na cidade grande!”.

Não é exatamente uma rotina sem pressa como as horas dos clientes no passeio de barco. Mas, como diz o neon que decora a entrada do Gastromar, com uma frase da atriz Martha Nowill, amiga de infância de Gisela: “Se a maré te trouxe, fica”.

gastromar-paraty-foto-3


A vida é aqui fora!

abandono-pagina
No Thanks