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Instituto Guandu: transformando lixo em vida

Por
Mariana Caldas
Em
31 julho, 2015

Desde que descobriu os universos infinitos e maravilhosos da compostagem, a jornalista Fernanda Danelon começou uma pequena revolução em sua própria vida. A naturalidade daquele processo que transformava lixo em vida, fez com que uma luz acendesse no caminho e ela não hesitou. Seguindo sua intuição ela criou mais do que um novo ofício para a sua vida, mas mais do que isso, transmutou o seu trabalho no seu propósito de vida.

João Bertholini

E foi assim que ela criou o Instituto Guandu nasceu. Com o objetivo de fazer a coleta seletiva dos resíduos orgânicos produzidos pelos restaurantes em São Paulo, transformar em adubo através da compostagem, e devolver o lixo em forma de hortas, que podem ser instaladas nos próprios estabelecimentos, ou então coletadas em alimentos orgânicos produzidos por agricultores urbanos de São Paulo. Sim, por mais incrível que pareça existe roça em SP. Segundo Fernanda, atualmente são mais de 1000 famílias plantando, apesar de não serem reconhecidos por lei.

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Ela sempre foi uma apaixonada pelo processo lindo e natural da vida. E o concreto paulistano nunca a impediu ter a sua hortinha em casa ou começar a transformar lixo em adubo em casa. “Atualmente os brasileiros geram em torno de 200 milhões de quilos de resíduos orgânicos por dia. A gente não precisa ficar esperando a criação de politicas públicas, muito menos se conformar com essa situação triste. A compostagem pode começar dentro de casa. E por enquanto, a melhor solução são os minhocários, que são fáceis de manter até para quem mora em uma apartamento de 30 metros quadrados”, ilumina Fernanda. “É incrível como um minhocário pode mudar a vida de uma família.”

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Em sua fala, mais do que inspiradora, no TED, que aconteceu em junho deste ano, Fernanda conta sobre uma iniciativa da Prefeitura de São Paulo, que distribuiu 2 mil minhocários para famílias de diferentes classes sociais. O resultado foi impressionante. 78% dos presentados mudaram os seus hábitos alimentares, e começaram a comer mais frutas e verduras. A vontade de ter uma plantinha em casa também aumentou e um terço deles, de repente, se viu compartilhando as suas ótimas experiências com a compostagem para vizinhos, amigos e familiares. Criando, sem perceber, uma rede totalmente espontânea de troca de conhecimento.

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“Quando criei o Instituto Guandu eu não tinha milhões para investir, não tinha um plano de negócios, obviamente não tinha um fundo de investimentos. Mas eu sabia que eu tinha que começar de algum lugar. Falei com um ou dois restaurantes que já estavam mais sensibilizados com a causa e comecei a levar o lixo no porta malas do meu carro. Sou mãe, dona de casa, e quando eu vi, estava dirigindo pra lá e pra cá, levando as crianças, o gato, o cachorro e o lixo lá no porta malas”, relembra. “Eles falavam, “mãe, você tá com lixo no carro, olha essa fedor!”. Ninguém disse que ia ser fácil, mas eu tinha um propósito, não era um trabalho, era um propósito de vida.”

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Algum tempo depois ela pegou emprestado um terreno subutilizado por uma fábrica, chamou seu irmão para ajudar, e começou a transportar300 kilos de lixo para compostar. “Lá não usamos minhocas, mas enzimas catalisadoras que aceleram o processo de compostagem porque o lixo dos restaurantes é muito punk, a gente recolhe ossos, carcaças de peixe, teve uma vez que eu abri e tinha uma cabeça de bode”, conta Fernanda, que tem muito orgulho de ter começado essa caminhada junto com os “Hortelões Urbanos”, na época das manifestações em 2011.

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Em um ano de vida Instituto Guandu já salvou 180 toneladas de lixo dos aterros e o transformou em adubo. Hoje já são mais de 10 os restaurantes que fazem parte da rede que Fernanda criou. O Maní, o Manioca e a Padoca do Maní foram os últimos a fechar essa parceria linda, que além de tudo, também está conseguindo fazer a ponte entre produtores e restaurantes, que já começaram a mudar o seu cardápio de acordo com os alimentos produzidos em cada horta. Os cozinheiros perceberam como a separação do lixo ajuda na organização da cozinha e ficam maravilhados com o frescor dos produtos que recebem, puros e totalmente orgânicos.

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“E aí a gente pensa, o que nos une invariavelmente? É o prato de comida. Somos todos diferentes. Mas somos completamente interdependentes. Queria propor pra todo mundo respirar fundo e encarar o próprio lixo. A revelução que a getne tanto quer começa na cozinha. E comer pode e deve ser um ato político. E viva as minhocas!”. Evoé, viva Fernanda também!

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Siga o Instituto Guandu aqui e aqui, para acompanhar as suas novidades transformadoras. E não deixe de ver a fala emocionante de Fernanda Danelon no TED.

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