Nos últimos meses, houve um movimento atípico numa das estradas que ligam o litoral de São Paulo à capital. Caminhões subiam a serra carregando um total de 16 toneladas de areia da praia. O destino era a rua João Moura, 613, quase na esquina da Artur de Azevedo, no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.
É ali, num imóvel de 500 metros quadrados todo reformado e pintado de branco e preto, que inaugura neste sábado (19), a partir das 16h, a Lar Mar. O misto de loja, restaurante, ateliê, espaço de convivência e eventos que vão de aulas de yoga a cinema ao ar livre pretende trazer para a metrópole um pouco da vibe do litoral. As 16 toneladas de areia branca foram despejadas num espaço em que as pessoas poderão ficar descalças enquanto trabalham (ou se divertem) esticadas em cangas ou sentadas em cadeiras de praia. Por ora tudo grátis, exceto as bebidas e comidas, naturalmente.


Espaços multiuso como esse, onde as pessoas vão mais para conviver do que, de fato, para comprar, são uma tendência global, a exemplo da concept store da TOMS, na Abbot Kinney Blvd, em Los Angeles, do misto de loja, café e coworking da Deus Ex Machina, autointitulada “empório de atividades pós-modernas”. também em L.A., ou do Space Ninety 8 da Urban Outfitters no Brooklyn nova-iorquino. No Brasil, o maior exemplo é a recém-inaugurada Academia da AHLMA, no bairro do Leblon, zona sul do Rio.


Criada em 2014 pelo ex-advogado santista Felipe Arias, o Lar Mar começou como um site que buscava histórias inspiradoras de pessoas que mudaram de vida em busca de um propósito: uma publicitária que virou desenhista; um gerente financeiro que resolveu ser instrutor de yoga; uma professora que trocou o quadro-negro por uma volta ao mundo a bordo de um veleiro. No fundo, tudo o que o Felipe sempre quis ser mas não encontrava coragem. Ele precisava ir atrás dessas histórias e travar contato com essas pessoas para se inspirar e tomar a decisão de mudar de vida. “Eu me sentia cada vez mais desconectado dos meus amigos por conta de um trabalho que não tinha nada a ver comigo”, diz. “Mas ainda não tinha a coragem para dizer ‘foda-se tudo’”.

Um ano e meio depois, as camisetas e bonés que ele fazia para presentear esses personagens começaram a fazer a cabeça também de outras pessoas, que o procuravam para comprar. De uma plataforma digital o Lar Mar virou festas, algumas reunindo cerca de 1.000 pessoas em locações paradisíacas no Litoral Norte.
No ano passado, finalmente, Felipe encarou o desafio de largar o trabalho numa incorporadora e se dedicar 100% ao sonho de viver um eterno verão. Juntou-se aos amigos e sócios Tato e Daniel “Magrão” Vanzetto para colocar de pé o endereço físico da Lar Mar.

A ideia é ser um espaço diurno, para aproveitar o sol. Abre de terça a sábado das 10h à 23h e domingo até às 20h. Batizado Gavioto, o restaurante, que será tocado pelos mesmos sócios do libanês Saj, oferece comidinhas leves para se comer de pé ou numa grande mesa de madeira comunitária.

A curadoria de marcas à venda teve como foco empreendedores iniciantes e produção handmade, em tiragens limitadas e preocupação com a procedência dos materiais. É o caso, por exemplo, da garimpagem afiada de camisas havaianas por brechós do mundo feito pela Thrif-Tee, da modelo Marina Theiss, dos biquínis da A.Mar, das pranchas de madeira da Siebert Woodcraft Surfboards e da Zzhood, que vai ter um espaço com shaper produzindo pranchas sob encomenda ali mesmo, e das roupas da S.A.L Garopaba, todos de de Santa Catarina. “Queremos quebrar o localismo, por isso fomos até os sul em busca de profissionais que estejam alinhados com o nosso propósito”, afirma Felipe.
