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O universo político, artístico e feminista de Lela Brandão

Por
Laura Cesar
Em
19 março, 2019

Lela faz arte com viés político, representativo. Retrata mulheres de diferentes etnias, corpos e idades, com frases inteligentes e empoderadoras

Lela Brandão é artista. E quem faz arte sabe bem a hora de silenciar a mente pra deixar a criatividade florescer, mesmo em meio ao ritmo caótico da rotina em São Paulo. É naquele momento, quando ela pega os canetões e começa a fazer os primeiros traços, que a noção do tempo é perdida e tudo começa a fluir numa espécie de meditação. Lela expressa em linhas a mistura de calma e caos; certezas e incertezas; e os processos de autoconhecimento e desconstrução de ser mulher aos 25 anos.

“Minha existência no mundo é por meio da arte”, conta Lela, que transita entre estilos e plataformas conforme vai crescendo e aprendendo mais sobre o mundo e ela mesma. Atualmente, a artista divide o seu trabalho em duas vertentes. No Estúdio Sinestesia, que fundou em 2015, os desenhos são em paredes, boa parte deles em preto-e-branco, criados com canetas de tinta a óleo ou acrílica. Lá, a inspiração é a natureza e as diferentes vegetações que fotografa. Uma forma mais compromissada de criação, já que existe uma conversa prévia com os clientes para entender seus desejos e necessidades.

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Mas é em sua conta pessoal no Instagram (@lela.brandao), cujo feed traz ilustrações digitais produzidas no tablet e Photoshop, que Lela faz arte com viés político, representativo, e que nos fez querer contar a sua história. Retrata mulheres de diferentes etnias, corpos e idades, com frases inteligentes e empoderadoras para promover reflexão, como “não quero flores, quero o fim do feminicídio” e “fazer as pazes com seu corpo é uma revolução”. Um espaço onde compartilha um pouco da sua vivência como mulher em ambos os universos: artístico e urbano. “Sou apaixonada por qualquer forma de expressão da existência feminina. Gosto muito da arte da Brunna Mancuso e da Pri Barbosa, que manjam muito de anatomia e têm personalidade”, conta.

Mas esse trabalho com o feminismo já existe há um tempo, e começou dentro do Estúdio Sinestesia como um projeto de arte de rua chamado “Frida Feminista”, onde Lela espalhava lambe-lambes por São Paulo. Eram pôsters coloridos com a cara da Frida e frases voltadas para mulheres. “Uma ferramenta de existência e resistência. Toquei esse projeto por alguns anos, até que percebi que precisava ressignificar, pois existia pressão da prefeitura em cima desse tipo de trabalho. Foi quando mudei o Instagram pro meu nome, isso no começo de 2018, pra assumir meus posicionamentos e ser mais pessoal”.

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Nessa época, Lela já estava colhendo os frutos de seu trabalho. Além do Estúdio Sinestesia que demandava cada vez mais, ela ilustrava as capinhas de celular da marca GoCase desde 2015, o que garantia uma grana fixa todo mês. Foram esses projetos somados ao reconhecimento nas redes sociais que deram segurança pra abandonar seu estágio formal em arquitetura, faculdade que cursa o último semestre atualmente, pra se dedicar à arte – uma paixão que carrega desde a infância e que não imaginava que poderia se transformar em business.

E digo negócio, pois hoje em dia Lela também tem loja online e uma equipe de confecção pra chamar de sua. As ilustrações feministas e com identidade única da artista se expandiram em adesivos, camisetas, tatuagens e, mais recentemente, num planner “pra dominar o mundo”, como foi batizado, voltado pro autoconhecimento e que saiu do papel graças a parceria com a Grazi Luzini, da papelaria Entre Paredes “É um local pra sonhar, organizar e se amar em todas as etapas”, baseado em tudo que envolve o ser-mulher, com reflexões mensais, planejamento de metas e ilustrações em print que dá pra usar depois como decoração.

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E organização é o segredo de Lela dar conta de (quase) tudo. A artista plástica paulistana vive numa relação de amor e ódio com a cidade, fazendo malabarismo pra manter seus momentos de arte, produção de conteúdo nas redes sociais, faculdade de arquitetura e autocuidado – os pilares da sua rotina – em sintonia. “Eu tenho inúmeras formas de organização: planner, calendário semanal pra não esquecer os compromissos e prazos, além de programas no computador e celular que uso como lembretes”, conta.

Mas você não saberia da agenda lotada de Lela se a conhecesse, pois ela transmite a leveza de quem está construindo a vida que escolheu e sabe exatamente aonde quer chegar. Até agora, ela tem tirado de letra pra balancear os compromissos da vida. O yoga, psicanálise e acupuntura colaboram pra isso. O próximo passo é finalizar o TCC e continuar gravando pro canal no Youtube, ao ar há menos de um ano. O tema dos dois? Feminismo. Isso porque Lela é apaixonada pelo assunto e não gosta de perder tempo. Enquanto finaliza o trabalho de conclusão de curso, também colhe conteúdo pro canal e pras próximas ilustrações. Durante esse processo de finalização, os desenhos vão ficar um pouco de lado. Mas depois ela volta com tudo, lançando pochetes da marca e propagando ainda mais arte e conhecimento em diferentes canais.

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