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Fabrizio Lenci: arquitetura, arte, ciclismo (e astigmatismo)

Por
Rafaela Mercaldo
Em
29 janeiro, 2019
Em parceria com

O urbano caótico e marginal dá o tom no trabalho do paulistano Fabrizio Lenci. Dos passeios ao Masp na infância aos rolês na Galeria do Rock, hoje é a bike que o faz respirar entre um risco e outro. Para a LIVO, ele criou uma ilustração a partir de uma experiência bem pessoal: como um astigmata vê o mundo sem óculos?

Quem é Fabrizio Lenci?
Eu sou um arquiteto ilustrador e ilustrador apaixonado por cidade e por ciclismo.

Quando se deu conta que tinha veia criativa?
Quando eu era criança, costumava passar bastante tempo sozinho. Então, eu tinha que inventar minhas brincadeiras, escolher coisas que conseguisse fazer sozinho. Montava maquetezinhas com caixa de remédio e desenhava bastante! Eu nunca parei de desenhar, então nunca existiu esse momento de me descobrir criativo. Mas eu acredito que criatividade é algo que pode ser desenvolvido e praticado – é como um músculo que precisa ser alimentado e exercitado todos os dias.

Poderia desenhar com palavras sua timeline como criativo?
Como eu sempre gostei de desenhar e, somado a isso, passei a minha adolescência no centro da cidade, curtindo som e no rolê na galeria do rock, optei em estudar Arquitetura. Na época, era algo um pouco mais “formal” e tinha a ver com cidade e desenho. Resumindo, o desenho me levou pra arquitetura, mas depois a arquitetura me devolveu pro desenho. Eu adorava fazer projetos, mas um dia ganhei de uma amiga um livro chamado “Urban Recordings” que são uma série de desenhos feitos por um suíço chamado Ingo Giezendanner, essa hora foi bem importante para mim, pois quando vi aquilo decidi que iria seguir mais para o desenho e ilustração do que para os projetos.

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Quais foram seus primeiros contatos com os desenhos e a ilustração?
Meus pais me estimulavam bastante, levando em exposições e me dando materiais para brincar. Me lembro de uma passagem marcante que foi ir almoçar no bandejão do Masp com eles (era um programa que a gente fazia com certa frequência) e depois irmos à lojinha do museu. Lá, eu comecei a folhear um livro do René Magritte e me deparei com um quadro chamado “O Regresso da Chama”. Aquela imagem me atraiu tanto que pedi pros meus pais comprarem o livro pra nossa casa! Não tinha internet ainda, então eu passava horas olhando a figura no livro e tentando copiar. Muito tempo depois, já na faculdade, tive aulas de desenho livre com o professor Paulo Von Poser – que é uma pessoa super importante na minha vida. Ele conseguiu fazer com que eu tivesse uma percepção completamente diferente do poder do desenho; me ensinou a olhar – o que para mim é a principal ferramenta de um desenhista. Hoje eu tenho o privilégio de dar aula de desenho na Escola da Cidade ao lado dele e da Carla Caffé.

Como define seu estilo?
Cores sólidas, linhas densas e composições que não existem de verdade.

Você costuma ter um tema principal ou recorrente?
Eu acabo juntando as minhas paixões pelo desenho, arquitetura e cidade. Gosto muito de desenhar arquiteturas possíveis; me interesso por construções mais ordinárias e não óbvias e eu gosto de retratar a cidade do século 21: caótica, de alta densidade e com uma população imigrante. Acho que meu trabalho é quase um manifesto pela aceitação do que julgam “marginal”.

Quais são suas grandes inspirações na hora de criar?
Eu não acredito muito em inspiração, pois acho que ser artista é 90% suor e repetição. Para mim inspiração não é algo que vem do nada, como uma luz que se acende. Porém, acredito que existam ambientes e contextos que me excitam mais que outros. Geralmente, meu trabalho sempre começa na rua buscando imagens e composições e quanto mais caótico for o lugar, mais eu tenho vontade de desenhar.

Quem são suas referências?
Poderia passar muito tempo citando pessoas que admiro. Mas algum deles são:
Carla Caffé, Ingo Giezendanner, Xoana Herrera, Bruna Canepa, Rafael Mayani.

O que é indispensável te acompanhar na hora que está criando?
Música e grafite 6B.

Você leva outras atividades além do trabalho criativo? Quais?
Ciclismo! É algo que me traz uma paz de espírito gigante! A bicicleta me ajuda a colocar as coisas ruins para fora e por isso costumo pedalar bastante – faço parte de um clube de ciclismo chamado Fuga CC. Treinamos na cidade e, aos finais de semana, fazemos pedais maiores, recomendo! Ócio também é fundamental para mim! Relaxar, sair, esquecer um pouco os trabalhos. Tem dias que a coisa não funciona, então, é bom ter esses hiatos entre um risco e outro.

O que podemos esperar para 2019?
No momento, estou estudando animação e é incrível perceber como a tecnologia tem mudado a vida dos ilustradores. Cada vez mais surgem demandas por desenhos com movimento. Eu me arrisquei um pouco produzindo alguns gifs e fazendo umas coisas no After (Effects), mas animação é algo bem complexo, então achei que ia ser ótimo voltar a estudar. Por isso, para 2019 eu esperaria alguns vídeos legais 🙂

Conta um pouco pra gente sobre o trabalho escolhido para circular na plataforma da LIVO?
Quando me chamaram para participar da plataforma da LIVO pensei que seria muito legal produzir algo especial. Por isso, decidi criar duas “arquiteturas impossíveis”, brincando com tipologias de clínicas de olhos. Essas composições são um pouco confusas e distorcidas – é um pouco como eu enxergo as coisas quando estou sem meus óculos (tenho muitos graus desde criança). Acho que a brincadeira foi um pouco essa! As cores se sobrepõem um pouco também, herança do meu astigmatismo…rs

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Aos Inquietos

A LIVO acredita no poder das conexões. Que boas ideias são transformadoras. E que o mundo é colaborativo. Por isso, criou o canal "Aos Inquietos", junto com o The Summer Hunter, para contar quem são os criativos que estão circulando arte sob um novo ponto de vista. Onde? Nas flanelas que acompanham todos os óculos da LIVO é possível ver os trabalhos de gente criativa e inquieta. Gente de talento e visão. Vem ver. Leia todos os posts aqui.
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