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O trabalho de Kevin Raub é viajar pelo mundo pra te ajudar a viajar melhor

Por
Mariana Weber
Em
2 setembro, 2019
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É agosto e Kevin Raub está em Long Island, em Nova York. Nos Hamptons, destino de verão de super-ricos, toma uma IPA num copo “plástico” feito de planta. Em Rockway Beach, lembra da música dos Ramones, “Rockaway Beach”: Chewing out a rhythm on my bubble gum / The sun is out and I want some / It’s not hard, not far to reach, we can hitch a ride to Rockaway Beach. Faz um vídeo numa Indian Wells Beach quase deserta, come tostadas com cogumelos sob as árvores de uma fazenda de produção orgânica, visita uma vinícola. Tudo trabalho. Kevin Raub (@raubontheroad) é coautor de quase uma centena de edições de guias Lonely Planet e precisa viver experiências de viagem pra dar aos leitores as melhores dicas – e poupá-los das roubadas.

Kevin prova um arenque cru em restaurante da Holanda

Sim, é um trabalho que parece férias. Daqueles que de vez em quando a gente vê um monte de gente compartilhando nas redes sociais: “Empresa procura pessoa pra viajar e ainda paga por isso!”. Mas é obrigação e tem seus perrengues. “A melhor parte é ver o mundo, mergulhando em outras culturas, experimentando comidas e bebidas exóticas e conhecendo pessoas de todos os cantos e recantos”, diz o norte-americano. “A pior é estar sempre ausente, nunca poder planejar as coisas com antecedência e não ter nenhum tipo de pensão ou fundo de aposentadoria.”

A rotina de viajante em si tem lá seus altos e baixos. Experimentar novas comidas é bom, mas não quando o que surge à sua frente são “larvas de árvores horrivelmente nojentas na Amazônia peruana”. O corpo dói. “Tenho 46 anos, mas sinto como se meus pés, joelhos e costas tivessem 80. Estão totalmente ferrados!” E existem tarefas sem graça que vem no pacote. Algo que o seu Instagram não mostra (porque pouca gente iria querer ver).

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Se estivesse de férias, Kevin provavelmente não faria peregrinações por agências postais e estações rodoviárias pra listá-las no guia nem passaria a tarde escrevendo. Tampouco gastaria seu tempo visitando quartos em que não pretende se hospedar. E assim não teria que se deparar com um homem idoso dormindo na cama como aconteceu recentemente num hotel de Montauk. “A recepcionista disse: ‘Oh, não se preocupe, é só o proprietário’. E continuou a me mostrar o quarto.”

Geralmente o trabalho é de atualização dos guias. Dependendo do destino, e da quantidade de estabelecimentos sugeridos no livro, isso pode levar dias ou meses. “São Paulo leva cerca de dez dias para atualizar um guia do Lonely Planet. O Nordeste inteiro? Dois meses!”, diz Kevin. “A rotina é basicamente acordar cedo, se abastecer de cafeína e começar a correr como louco pra checar museus, correios, hotéis, restaurantes etc. até cerca das 15h. Então escrevo das 15h às 18h antes de sair pra jantar e pra vida noturna. No dia seguinte: repetir!”

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Kevin passa mais ou menos metade do ano viajando e metade do ano em casa, em Lisboa, quando aproveita pra curtir os gatos, ver TV, relaxar e visitar bares locais. Mudou-se pra capital portuguesa com a mulher brasileira (hoje ex-mulher), que conheceu em Fernando de Noronha, durante uma viagem de pesquisa. “Não existe nada como Noronha e tive o privilégio de chamá-lo de minha segunda casa brasileira por uma década (a primeira casa era em São Paulo). Existem outros lugares no mundo com praias lindas, sem dúvida, mas as de Noronha são mais ou menos vazias em comparação. É muito caro, mas é espetacular.”

O única rival em termos de paisagem, segundo ele, é o arquipélago de Los Roques, na Venezuela — “praias incríveis, água como eu nunca vi. E também é um ótimo destino culinário, com residentes italianos.”

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Kevin já esteve em mais de 100 países e territórios. De 2018 pra cá: Finlândia, Romênia, Croácia, Sérvia, Bulgária, Montenegro, Índia, Sri Lanka, Lituânia, Letônia, Estônia, Albânia, Macedônia do Norte, Grécia, Portugal (Madeira), Itália e Estados Unidos. Seu próximo destino é o Havaí.

Nada mal pro menino de Atlanta que passava todas as férias de verão num resort na Flórida – na memória: “Praia, shuffleboard (jogo com discos deslizantes e tacos) e um refrigerante chamado Tahitian Treat”.

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A carreira de jornalista de viagem começou no fim dos anos 1990, quando ele saiu de um emprego na revista “Rolling Stone”, foi pra Rússia de férias e propôs uma matéria sobre bares de cerveja artesanal de Moscou pra revista “Travel+Leisure”. Desde 2007 escreve pro “Lonely Planet”.

Ainda quer conhecer vários lugares. “Eu diria que o Irã está no topo da lista, mas existem muitos outros: Etiópia, Líbano, Geórgia, Indonésia, Maldivas, Seychelles, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Egito, Quênia, Tunísia, Senegal, Noruega, Malásia, Quirguistão…” Em dez anos, ele se vê “sentado com a bunda numa vila de pedra com vista pros vinhedos em algum lugar do interior da Itália”.

Isso quer dizer parar de viajar profissionalmente? “Não!”

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