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Madama Br000na: quem é a astrológa millenial do momento

Por
Fabiana Corrêa
Em
6 junho, 2018

Bruna Paludo começou a fazer previsões astrológicas a pouco mais de um ano e virou astróloga mais querida por quem tem menos de 30

Ela fala compulsivamente. Mas também sabe parar para ouvir histórias – e as que chegam até ela são muitas. É determinada, talvez até um pouco teimosa. Quer um amor ao seu lado. Poderia dizer que Bruna Paludo tem tudo a ver com seu signo natal, Touro, se eu entendesse qualquer coisa sobre esse assunto. Mas a própria também rejeita esse negócio de que “fulano é assim porque é de Touro”. Ou de qualquer outro signo. “Se a gente considerar apenas a posição do Sol, ascendente e da Lua para cada signo, já temos mais de 1700 combinações diferentes. Como é que dá pra dizer que o signo determina tudo?”.

Mas em seus vídeos no YouTube, Madama Br000na (“Bem chique, é Brooona mesmo”), seu alter ego nas mídias sociais, a gaúcha diz que “taurinas são fofas, todo mundo ama”, “áries é cabeçudo” e que “um Mercúrio em Touro é sempre bem viado”. Claro, tem um tanto de verdade. Afinal, ela estuda astrologia a sério. Mas essas aparições não deixam de ter um quê de meme – a linguagem universal dos millenials, geração que Bruna não se cansa de dizer que representa. “Nosso humor hoje é politicamente correto. Então pelo menos dá pra fazer piadas com os signos que ninguém vai se ofender”.

Foto: Divulgação

Esse jeitinho deu certo. Madama Br000na tem 76 mil seguidores (and counting…) em seu perfil no Instagram, ganhou uma série no canal da Vice Brasil e tem uma coluna com previsões no site da revista Elle. “Eu não planejei nada, mas as coisas começaram a dar muito certo quando vim pra São Paulo. A cidade me abraçou, aqui ninguém acha estranho meu cabelo rosa e eu não preciso me definir”. Não mesmo: é taróloga e astróloga, faz frilas para agências de mídias sociais e se diz pansexual. “Não me importo com o que a pessoa tem entre as pernas, o que importa é o amor”.

Mas a Bruna de verdade, ou melhor, a Bruna longe das mídias sociais, é um pouquinho mais séria – e fala coisas muito diferentes dos memes astrológicos das redes. É meiga, está em um relacionamento “de verdade”, morre de saudade da família que ficou em Porto Alegre e defende seus ideias “feminazi” com tudo. Quanto ao seu trabalho esotérico, digamos assim, é muito cautelosa e ciente do poder terapêutico de suas consultas – além das previsões, ela atende em domicílio lendo tarô e fazendo mapa natal. “Faço análise há dez anos. Sei que tarô não é terapia, mas recebo pessoas em uma situação de muita fragilidade, preciso acolher e trazer uma reflexão em vez de ficar fazendo previsões”.

A astrologia que pratica é a linha da chamada astrologia contemporânea, que prefere análises do momento em vez de tentar antever o futuro.

Tudo isso é meio novo. Aos 30 anos, Bruna percebeu que o tal retorno de Saturno não estava pra brincadeira. Até 2016, morava em Porto Alegre, estava casada havia 8 anos “com um pisciano”, era advogada, se preparava para fazer um concurso público e guardava dinheiro para comprar um apartamento para o irmão mais novo. Embora atuasse na área de direitos humanos e defesa da mulher, o ambiente era bem careta e não podia mostrar as dezenas de tatuagens que começou a fazer anos antes, meio que como uma rebeldia aos limites que criou para si mesma.

É que a vida já começou meio puxada. Quando era criança, foi morar com os avós evangélicos – a mãe viajava muito a trabalho e não tinha com quem deixar a guria. Com eles, ia à escola dominical. “Tenho memórias afetivas da Bíblia”, conta. Daí, partiu para os conhecimentos esotéricos. Foi atrás da Wicca, a religião das bruxas, quando estava na escola. E essa era só uma de suas excentricidades. “Minha mãe trabalhava com moda, viajava e me vestia com roupas que trazia de fora. Eu era a diferentona e as crianças riam de mim, mas eu adorava me vestir daquele jeito”.

A mãe ficou doente quando ela tinha 15 anos. E passou 8 anos em tratamento, quase sempre na cama ou em um hospital até morrer, 7 anos atrás, de câncer. Quando a doença apareceu, foi procurar as respostas no espiritismo. Daí a gente vê porque Bruna é toda trabalhada na espiritualidade. “Eu sufoquei essa busca durante anos”, fala, lembrando que, antes de fazer 18, resolveu ser uma garota certinha, responsável por ela mesma e pelo irmão caçula. Entrou na faculdade de Direito, alisou o cabelo, vestiu o terninho e começou a estudar para entrar em concurso público. Mas a vida cobrou o preço e Bruna se deprimiu. “Um dia meu namorado comprou um livro de astrologia para me animar. E foi o que eu precisava para ter esse clique.”

Mal sabia ele. Terminou o casamento, deixou o emprego, pegou o avião para São Paulo e fez um curso de tarô enquanto se sustentava trabalhando em agências de mídias sociais. “As pessoas me pediam para fazer consultas e mapa natal, teve uma hora que foi natural aceitar esse trabalho”, diz. Hoje, essas consultas são seu principal ganha-pão, embora ainda faça um frila e outro pra sobreviver. Os clientes vieram primeiro do grupo de amigos, depois dos amigos e parentes dos amigos e não pararam mais. “Não consigo atender mais do que duas pessoas por dia, preciso de muita energia para me conectar com elas e, depois, fico exausta. Respeito esse limite”, diz, com toda a maturidade que julgou atingir quando fez 30. “Agora me sinto mulher, adulta, passei até a sensualizar no Instagram (risos)”.

Fotos: Camila Fraga

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