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Sob o sol (e no divã) do Rio de Janeiro

Por
Eloá Orazem
Em
15 julho, 2016

Quando se traveste o inverno de verão, só Freud explica: vem da infância o amor pela praia, que leva a carioca Marcella Franklin, de 28 anos, a costurar as estações em uma só – aquela em que o sol brilha mais. Os sintomas agudos dessa relação intensa deixaram marcas profundas na vida e na pele da estilista, cujo tom dourado revela uma intimidade um tanto obscena com o astro-rei, daquelas que a gente inveja e admira quase na mesma proporção. Para completar o cenário idílico, Marcella Franklin desfila seu bronzeado cinematográfico pelas areias do Rio de Janeiro em uma silhueta que poderia pertencer às capas de revista – mas os flashes não lhe atrapalham a visão: a bela prefere mesmo é o trabalho anterior aos cliques. Fundadora da Haight Clothing, uma marca de beachwear em constante crescimento, a carioca, que por anos desenhou para a ala feminina da Ausländer, mostra que tem talento também para os negócios, porque na praia ou no escritório, a loira não dá ponto sem nó.

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Menina, você anda trabalhando muito, né? Sobra tempo para curtir a praia?
Tenho ido menos à praia por conta dos compromissos profissionais, é verdade, mas qualquer brecha que pinta na agenda, eu corro pra lá. Vou sempre que posso mesmo, em geral aos fins de semana – daí fico em contagem regressiva nos outros dias.

Então quando você viaja, tem que ter sol, areia e mar!
Destino assim são, de longe, os meus prediletos. Acho que é porque a praia é meio que essência de quem nasceu e cresceu no Rio de Janeiro, sabe? Você pode ter o mesmo papo com os amigos num restaurante ou numa praia, e parece que nas areias tudo fica mais agradável. E é engraçado como eu sou “dependente” disso, porque eu tenho viajado muito a São Paulo por conta da Haight, e eu curto demais a cidade, mas fico um pouco perdida no sábado e domingo; o que é que se faz quando não tem praia? (risos)

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Mas o que acontece ali que te fascina tanto?
Acho que as pessoas se colocam mais relaxadas, e os rótulos não servem de nada nesse universo. Gente de várias idades, cores e histórias diferentes se sentam umas ao lado das outras, totalmente em paz, para curtir o momento. A praia certamente não seleciona e nem exclui, é provavelmente o lugar mais “horizontal” do mundo.

Então já que você virou uma expert em praias, conta pra gente as suas preferidas.
Nossa, já visitei várias praias lindas no Brasil e fora, mas acho que a Bahia é incomparável. Aquele lugar tem uma energia especial, que nem sei se dá para explicar. Caraíva, em particular, é meu xodó. No Rio de Janeiro, eu evito ao máximo multidões na areia, então acho difícil curtir a zona sul aos sábados e domingos. Geralmente eu opto pela praia de São Conrado, que é bem bonita e tem uma grande faixa de areia.

E, vem cá, esse lance de trabalhar com beachwear começou por amor ou porque você identificou um carência no mercado?
Tem um pouco dos dois, eu diria. O negócio começou mesmo por amor, porque eu sempre gostei da uma moda vintage – tanto que anos atrás eu já ia para a praia de hot pants, quando quase ninguém usava. Eu sempre tive um apreço por peças não comerciais, e depois que surgiu a oportunidade de eu desenhar as primeiras peças de beachwear, quando ainda trabalhava para a Ausländer, reconheci também a brecha no mercado. Um amigo de longa data já dizia que queria investir no meu trabalho, e aí juntou tudo, sabe? Quando eu saí da Ausländer já tinha, inclusive, uma coleção pronta, e eu apresentei esses desenhos para o pessoal da Void, então recém-chegados no Rio de Janeiro, e eles curtiram tanto as peças que se propuseram a comercializá-las. Foi assim, uma série de pequenas coincidências que me levou a abrir a Haight. Mas, olha, descobri que o mercado de beachwear era muito maior e mais prazeroso do que poderia imaginar!

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E o nome da marca, vem da onde?
Era para ter outro nome. Quando estava prestes a lançar os primeiros produtos, com etiquetas e logos prontos, descobri que uma outra empresa ligada ao setor já utilizava aquele nome. Aí uma amiga lembrou da Haight, que significa “altura” em alemão, e e também o nome de uma rua bem conhecida em São Francisco, na Califórnia. O endereço tem muita coisa local, além de ter sido um marco na revolução hippie nos anos 1970 – coisas que, de alguma forma, eu admiro e até me relaciono, sabe? Gosto dessa coisa de valorizar a cultura local, e também sou louca por moda vintage, como já falei antes, então o nome fazia sentido, porque faz alusão a alguns valores que eu também acredito.

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Todo mundo tenta definir – ou decifrar, não sei – a mulher carioca. Você tem uma resposta para essa charada?
A mulher carioca é uma mescla cultural muito maior do que qualquer esteriótipo que se vê por aí: ela pode ter um estilo mais riponga, pode ser adepta das estampas florais ou até se sentir mais confortável como uma patricinha. Ela pode ser tudo isso ao mesmo tempo, se quiser, porque ela não se encaixa num único padrão; num único estilo. Agora, não é porque ela seja tão versátil que ela é inatingível: há marcas e produtos que conseguem agradar se não todas, a maioria, das mais clássicas às ousadas.

E você acha que o Rio de Janeiro tá na moda?
Acho que o Rio de Janeiro sempre foi uma grande inspiração para as artes em geral, mas sobretudo na moda. O lifestyle do carioca é patrimônio nacional, no atacado e no varejo. Mas talvez eu seja suspeita para falar, porque sou completamente apaixonada pelo Rio!

Está gostando da entrevista? Que tal dar uma pausa pra escutar a playlist que a Marcella criou especialmente pra gente com as músicas que são sinônimo de uma vida solar

Sei que, pelo menos por enquanto, a Haight tá focando apenas em beachwear feminino, mas você acha que homens e mulheres compram moda praia de forma e por motivos diferentes?
Acho que os homens estão mais ligados à moda de uns tempo para cá, mas eles ainda priorizam o conforto e a performance, porque muito deles surfam ou praticam outros esportes aquáticos. Por outro lado, as mulheres pensam mais no estilo e no caimento das peças, levando em consideração também a questão do bronzeado e das marquinhas. Esse cenário tem se aproximado cada vez mais, com homens pensando na parte estética e mulheres reivindicando conforto, mas pelo menos por enquanto ainda percebo essa diferença na hora da compra.

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Você é formada em design industrial pela PUC-RJ e sempre atuou na área criativa, como está sendo atuar também como businesswoman?
Eu não tive escolha, tive que aprender a ser, ou melhor, a me tornar uma mulher de negócios. No primeiro ano de operação da Haight, eu tocava tudo sozinha: controle do estoque, compra de tecidos, corte, escolha de estampas, marketing… Aprendi ali que dono de negócio não tem hora. Não foram poucas as vezes que via, do escritório, as amigas voltando de uma festa. Mas o excesso de trabalho não me incomoda, porque eu amo o que faço – e até me surpreendi, porque não sabia se daria conta do recado.

E já rolou de você ver meninas usando Haight por aí?
Muitas vezes, e não só no Rio, o que me mata de orgulho. Fico feliz da vida quando vejo alguém usando nossas peças, mas morro de vergonha de falar que eu estou por trás da marca, de abordar essas clientes – fico só no contentamento interno mesmo. (risos)

Tem alguma novidade da Haight que você pode contar para gente?
Para este inverno, estamos preparando umas peças de tricô. Muita gente confunde tricô e crochê, mas eles são bem diferentes – e os nossos produtos de tricô são, digamos, sofisticados, sabe? Acho que dá para entender melhor vendo a coleção. Aliás, vamos fotografar em breve o catálogo, aqui no Rio.

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De novo, o mar! O que é que ele tem que te acerta em cheio o coração?
Engraçado isso, mas eu morro de medo de mar forte. Eu o olho com olhar de contemplação. Feliz ou triste, gosto de tê-lo à vista. Sempre tive uma relação meio poética com o mar, mas desde que ele passou a ser também meu instrumento de trabalho, passei a analisá-lo também sobre um preceito mais estético. De qualquer forma e de qualquer ângulo, continuo achando-o lindo. Não nasci para ficar na sombra.

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