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Marina Abramović e a arte da presença

Por
Mariana Caldas
Em
3 abril, 2015

“Quem me dera sempre ter o prazer de ser”. Ou melhor, “isso poderia ser sido apenas o Método Abramović. Mas foi tudo”. Não sei exatamente que força me moveu, mas acabei me inscrevendo no Método Abramović no dia do meu aniversário. Não sei bem porque mas se Guimarães Rosa estivesse aqui do meu lado me confortaria dizendo, “o que tem de ser tem muita força, tem uma força enorme”. Mas devaneios a parte, o que estou tentando dizer é que todo e qualquer viver é sim muito válido, sempre. E me entregar ao Método criado pela artista sérvia Marina Abramović foi um sentir inesquecível.

O Método foi desenvolvido por Marina ao longo das últimas décadas e faz parte da exposição Terra Comunal, que está ocupando o Sesc Pompéia, em São Paulo, desde o dia 10 de março. Nele nós temos a possibilidade de estar em performance, mas também podemos nos perder na retrospectiva exposta que passeia pelos 40 anos de carreira da artista, que consolidou a performance como uma forma autônoma de arte.

Terra Comunal é um título que celebra as profundas experiências vividas por Marina no Brasil ao longo de sua vida. Em 1989 ela veio ao país para pesquisar mais sobre os cristais e sua influência sobre o corpo e a mente, e isso marcou significantemente a sua prática artística – foi quando ela começou a criar os objetos que estão sendo usados agora no Método Abramović, feitos de cristais e outros minerais brasileiros. Em 2012 Marina também passou um bom tempo por aqui, visitando comunidades espirituais e expandindo a sua pesquisa sobre energia e como aplicá-la a formas imateriais de arte.

E foi todo esse universo de experiências que Marina viveu e transformou no Método Abramović, no qual propõe um encontro de duas horas e meia com você mesmo. E a possibilidade de ouvir um silêncio pleno, que vem de dentro. Tudo começa com um vídeo que nos convida a aquecer e despertar o corpo para o que está por vir. Depois, me sentindo mais leve do que nunca, somos conduzidos a começar uma viagem que é simplesmente estar presente. Sentamos, deitamos, ficamos em pé e caminhamos em câmera muito lenta. Quatro momentos que se perdem no espaço-tempo e nos desafiam a ser sem distrações.

No início não foi fácil. Tive que passar por uma floresta espinhosa e escapar de um mar revolto que chegou de repente e fez meu coração acelerar. Quando ultrapassei o ápice daquele incômodo entrei em uma onda mansa. Um relaxamento profundo fez transcender o tempo e o espaço, e eu sentia meu corpo em paz. Entrei em um estado de conexão muito aconchegante na metade da experiência. A partir daquele momento tudo ficou mais leve e brando e eu estava muito bem ali.

As imagens flutuavam na minha cabeça sem muita profundidade e iam aos poucos se dissipando. Até sobrar uma simples sensação que estava tudo bem e eu realmente não precisava fazer/pensar/planejar/programar ou me preocupar com nada naquele instante ou no próximo. O silêncio ficava cada vez mais profundo e aos pouquinhos curava o meu corpo das pequenas tensões que não vemos a olho nu.

Fui embora com a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo. E foi uma experiência linda. Você pode se inscrever para o MétodoAbramović no site oficial da exposição Terra Comunal. Ou então entrar na fila de espera de alguma das cinco sessões diárias que acontecem todos os dias no Sesc Pompéia.

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