Ver o sol nascendo quadrado pela janela de um escritório em Wall Street nunca foi a praia de Nick Fouquet, que do computador ficou só com a proteção de tela: aquela mesma imagem paradisíaca que a maioria de nós vê apenas ao fundo da área de trabalho foi, é ou será escala na viagem da vida desse mezzo modelo, mezzo ambientalista que perseguiu o verão até cair em uma “toca” na praia de Venice, na Califórnia, onde fez o seu próprio País das Maravilhas.
Embora os atributos físicos lhe garantam o posto de Gato (de Cheshire), Nick, que não nasceu para Alice, abraça a loucura – e o ofício – do Chapeleiro, mas, diferente do personagem de Lewis Carroll, seus devaneios vão muito além de uma mesa de chá e chegam ao palco do Grammy, onde Pharell Williams e Madonna se apresentaram sob a sombra de dois de seus modelos – os mais baratos saem por US$ 700; os mais caros, cerca de US$ 3.000. Quem também procurou abrigo na aba de Nick foi o cantor Justin Bieber, que desfilou a peça durante uma participação especial no talk show comandado por Ellen Degeneres.
E não adianta seguir coelho ou relógio, porque o protagonista desta história garante não ter script. “Muita gente pergunta como eu cheguei até ‘a cabeça’ dessas pessoas, mas a resposta mais sincera que posso dar é ‘eu não sei’. Não sei mesmo, porque nunca comprei propaganda e nem anunciei meu trabalho por além das mídias sociais. Acho que a coisa aconteceu no boca a boca mesmo, que é a única publicidade que eu realmente acredito. Sei lá, acho que as pessoas curtem descobrir as marcas e os produtos por si e tendem a não respeitar o que lhes é imposto, seja em um outdoor ou em um comercial da televisão”, explica Nick, com seu inglês informal e sua voz um pouco mais aguda do que se espera de um homem de 1,90m de altura e 31 anos de idade.
Essa teoria da espontaneidade que parece funcionar tão bem na vida profissional do americano também vale para o plano pessoal: “Nunca pensei em ser chapeleiro, a coisa simplesmente aconteceu. Estudei ciência ambiental e desenvolvimento sustentável e estava bastante inclinado a atuar na área, mas tudo mudou quando encontrei ao acaso um caubói com um chapéu muito legal e ele disse que havia criado o próprio modelo. Trabalhava com tecidos na época e queria abrir um negócio meu, mas queria algo diferente, que fugisse do óbvio”, relembra.
O sucesso do artista e da marca pode ser medido pela fila de espera de pelo menos 3 meses para conseguir um chapéu desses, mas, quem não tiver vocação para a espera pode tentar comprar uma das peças que Nick criou para a Colette, em Paris – tudo em edição limitada, claro.
A demora em conseguir um modelo personalizado não tem a ver apenas com o tempo da confecção artesanal, mas com o volume de pedidos, que parece crescer em progressão geométrica. As encomendas são tantas que o bonitão de olhos azuis e pinta de surfista teve de baixar a guarda e contratar uma pequena equipe para lhe ajudar. “Faço o marketing, as vendas e os relacionamentos da empresa, não posso me dar ao luxo de fazer todos os chapéus sozinhos também. Apesar de nem sempre colocar a mão na massa, todos os itens passam pela minha aprovação pessoal.”
E olha que o rapaz é exigente, hein? Filho de modelo, Nick cresceu imerso em um ambiente fashion e diz que sempre gostou de customizar as próprias roupas, cortando, pintando e pregando botões. Fez isso a vida inteira, por todos os lugares onde morou, como a Austrália e o Marrocos. Enquanto peregrinava, o garoto aceitava bicos de modelo, de barman e até de recepcionista; qualquer coisa que pudesse esticar um pouco mais a estrada. “Levei uma vida meio cigana até os 25 anos, quando ouvi o canto da sereia aqui em Venice. A morada fixa não mudou a natureza nômade da minha alma, que se reflete em todas as peças que crio aqui nesse esconderijo”, diz ele.
Sua oficina fica praticamente ao fundo de uma loja, já que, na avenida principal, a Abbot Kinney, tudo o que se vê é uma pequena placa de madeira com um desenho de chapéu e uma seta apontando a direção. Você caminha por um corredor estreito e tem a certeza de que está no lugar errado, que a qualquer momento alguém vai lhe acusar de invasão de propriedade. Mas a luz (amarela e um tanto baixa) no fim do túnel ilumina o pequeno escritório. Sem divisórias e sem vergonha, Nick mantém tudo exposto: máquinas, tecidos, ferros de passar, telefones, anotações e os modelos já prontos. A maior parte dos móveis são feitos em madeira rústica, material conhecido por reter energias e atenções.
Nick acredita ainda que há sempre um chapéu para cada pessoa e que o modelo escolhido pode dizer muito sobre a personalidade de quem o usa. Então o que o seu chapéu me diz sobre você agora?, eu o desafio. “Ele diz que eu não lavo o cabelo há alguns dias”, responde aos risos. Piadas à parte, insisto ainda com a minha interpretação: aquela tampa branca de aba irregular revela um chapeleiro maluco, a qual ele devolve: “as melhores pessoas são assim”.